Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

30 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Olá! Amigos

Tirando o silêncio que sinto a esta hora, o dia está triste e melancólico e o fim de semana nada teve que mereça referência. Hoje é o dia da Mulher e não é um dia qualquer. Podia ser só na Maia ou na Trofa e já tínhamos que chegasse, mas não, é mundial. Vinha a pensar nisto pelo caminho e lembrei-me de uma história com 32 anos. Nos princípios de Abril de 1972 andava um certo Partido a preparar uma manifestação contra a carestia da vida para o dia 15 de Abril e naturalmente havia que distribuir propaganda. Naquele tempo, não era como agora. Equipas de duas pessoas, ao cair da madrugada, - Portugal deitava-se então pela meia-noite - espalhavam-se pelos bairros camarários e enquanto um esperava na entrada o outro subia as escadas e na descida espalhava os panfletos. A discrição e a rapidez eram o segredo do negócio. Muito tempo no mesmo lugar e o risco de não chegarmos a casa começava a ser real. Procurava-se sempre que os pares fossem um rapaz e uma rapariga por motivos óbvios. Em caso de necessidade, disfarçavam de namorados. Só uma vez me calhou uma rapariga e foi nessa noite. Chamava-se Sara que é um nome muito bonito. Tinha sardas e era tão jovem quanto eu. Num determinado momento aconteceu o que sempre mais temíamos, alguém começou a ter um comportamento suspeito e a timidez impediu-me de fazer o que os acontecimentos impunham, mas a Sara, talvez impelida pelo medo, não hesitou em puxar-me o braço para cima do seu ombro e assim caminhamos abraçados durante uns longos metros. Foi a primeira vez que abracei uma mulher. Chamava-se Sara. Acabamos o que havia para fazer o mais rapidamente possível e despedimo-nos. Um ano depois, parti para Moscovo e a Sara para a clandestinidade. Nunca mais nos vimos e hoje lembrei-me de enviar um beijo à Sara.

DISPERSÃO

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(...)

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço...

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

"O desprendimento suplementar de energia detém o colapso gravitacional da estrela. Ardendo núcleos de hélio para produzir carbono, ela obteve um recomeço da vida."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"O vencedor das próximas eleições regionais que decorrerão em França a 21 e 28 de Março poderá ser a abstenção. As camadas populares atravessam grandes dificuldades e sentem-se abandonadas por todos os lados. Nenhum sector escapa, com efeito, à febre neo-liberal de Chirac e Raffarin. Nem sequer os infantários que, privatizados, vão ser objecto de benefícios fiscais. Já os investimentos públicos continuam a diminuir. tanto nesta área como na educação, investigação, saúde..."

MARTINE BULARD, in "Le Monde Diplomatique", Março de 2004

Porto, 08 de Março de 2004

28 outubro, 2006

POEMAS


Estou aqui
e é como se te visse
passar entre a terra e o mar,
corpo pequeno e irrequieto
e o sorriso
esse sorriso
que faz brilhar o olhar.
Agora apareces-me
na serenidade da tarde
como uma paixão tranquilizada.
Surges, de dia e de noite
como a luz de um farol
uma vez em terra
outra no mar.
Porque razão não podem
os sonhos ser realidade
e tornar verdade
este abraço em que te envolvo
de encontro à alma?

06.10.2006



27 outubro, 2006

CONTOS


Recordações

“Brincas todos os dias com a luz do universo
Subtil visitadora, chegas na flor e na água” (1)

Encontrava-se dentro do carro olhando em redor com serenidade e alguma expectativa. Haviam anunciado chuva para aquela manhã, mas afinal estava sol. É certo que não era forte, mas suficiente para aquecer o corpo protegido que tinha vindo para a chuva. No entanto, não lhe perturbava, nem o estar, nem o pensamento. Aguardava e um sorriso bailava-lhe no rosto. Se alguém olhasse com atenção, perceberia com facilidade que o pensamento daquele homem se encontrava noutro que não naquele local o que era verdade, ou melhor, encontrava-se com intervalos ali e além.

“Disseram-me que tens aparecido muito bonita
com a beleza da juventude que só as mulheres possuem” (2)

Há dois dias chegara à aldeia e tudo indicava ser aquele um acidente de rotina, pelo que procurou a personagem com a naturalidade com que tantas vezes já fizera. Contudo, não o encontrou e ao indagar nas redondezas foi aí que começou a pressentir que o desenho ia ser diferente desta vez. Agora já sabia que era muito diferente. Começou a encontrar silêncios e evasivas e à segunda ou terceira tentativa ficou a saber que o indivíduo já não existia. Continuou a procurar, um pouco mais à frente, numa outra aldeia, num outro local e a vida daquele homem ainda jovem ia aparecendo à superfície de águas muito turvas, facto que o levou a avançar com mais cautela, pois adquiriu a certeza que mergulhava num mundo nocturno onde o negócio da droga ditava leis. Quanto mais avançava no conhecimento dos factos, mais difíceis se tornavam as respostas e mais silêncios encontrava e ainda não percebera se o papel daquele que era um mero interveniente num acidente, único aspecto que lhe interessava, era um pião ou uma peça mais importante daquele xadrez e este facto era urgente conhecer, pois iria ditar as precauções no agir futuro. Foi assim, que conseguira chegar ao contacto com aquela mulher que agora esperava na expectativa de que lhe revelasse as partes em falta daquele jogo de procura. Era pois a Maria Teresa que o tinha levado até àquele cruzamento de estradas e a sua expectativa residia em saber, não só o que poderia vir a ser revelado, como também em conhecer aquela jovem que aparentemente havia sido a companheira do Jorge Macedo até à sua morte.
Mas o pensamento de Hélder não conseguia fixar-se na sua tarefa. Outro facto levava-lhe de quando em quando as ideias para mais longe, à procura da imagem de uma outra mulher. Na verdade, estava apaixonado. Era uma daquelas paixões que uma ou outra vez lhe assaltava a vida e o fazia mergulhar num mundo à parte. Conhecia os sintomas desde a adolescência e desde que detectava a sua chegada preparava-se para a viver com as formas de um ritual. Sabia que a sua imaginação o fazia transportar para outros mundos e a sua criatividade florescia como as flores de cerejeira nas primaveras que chegavam cedo. Desta vez, nada fora diferente. Marian aproximara-se com suavidade quando, como costumava dizer, fazia uma daquelas longas curvas da estrada que parecem não ter fim. Um dia olhou e ela lá estava com um sorriso moreno, o olhar gaiato de que é jovem e o rosto irrequieto como quem deseja encontrar-se num movimento perpétuo. Mas longa era a curva, muito mais longa que o normal e demorou tempo a alcançar o início da recta onde tudo se torna perfeito, até que no fim do último Inverno, talvez por naquele ano o calor chegar com antecipação, a paixão brotou como um fruto pronto a cair da árvore onde se encontra há meses a aguardar que o tempo proceda ao seu desenvolvimento. A partir desse momento, o mundo transformou-se, a geografia alterou-se e a própria história teve de ser reescrita.

“Sossegava já o alvorecer
quando te vi chegar
por entre grinaldas amarelas
e a doçura da canela
que naus invisíveis traziam do resto do império” (2)


Hélder nunca tinha sabido explicar, nem a si próprio o seu comportamento perante circunstâncias que pareciam acontecer a toda a gente, mas para as quais tinha uma atitude diferente. Sentia pelas mulheres enquanto parte feminina do ser humano um carinho que fazia transbordar qualquer rio do leito, por muito profundo que este fosse. Talvez resultasse da ternura que irradia dos seus gestos, da sua presença e então quando se apaixonava, passava a encará-las ainda com mais reverência. Era como se claramente definisse dois espaços e as colocasse dentro daquele que deixava de ser profano. Ganhavam então a dimensão de deusas, pelo que ficavam numa posição mais difícil de alcançar porque os deuses podem ser amados, mas não possuídos. Começava pois uma longa caminhava para uma meta que não existia, mas em cujo percurso era necessário que se superasse. Pelas etapas que se sucediam restava muitas vezes aquele sorriso, sinal de que viajava através da imagem para junto da mulher que amava. Pensava pois em Marian naquela manhã de espera, em como tinha passado o Verão a tentar descobrir forma de abandonar o seu espaço profano e aproximar-se daquele outro onde residia alguém para quem tinha uma flor cheia de pensamentos para oferecer.

“E a tua voz soou ao longe
trazida pelo campanário de uma aldeia recôndita
enquanto as palavras esvoaçavam na planície
ao encontro da minha alma esquecida” (2)

Um carro parou e do seu interior saiu quem aguardava, quebrando-lhe o sorriso enigmático que alimentava há minutos. Maria Teresa era uma mulher jovem, simpática, sem ser bonita. Questionou-o sobre o que pretendia e foi rápida nas respostas. Não queria falar, desejava apenas esquecer, com sinceridade ou não dizia pretender deixar para trás e para sempre o esquema de vida onde tinha permanecido alguns anos em companhia de alguém que já não existia. A Marta chorava e quebrava o ritmo da conversa. Era uma criança de 6 anos, uma das duas com que ficara como herança do passado recente. Continuou lacónica apesar de falar com rapidez, procurando libertar-se daquele conjunto de perguntas com que lhe assolavam o pensamento. Por vezes, ajudada pelo choro da Marta colocava agressividade nas palavras. Ao fim de dez minutos partiu sem deixar pistas que pudessem conduzir a algum lado, ou a respostas concretas.
Fazia o caminho de regresso e procurava na imaginação soluções para as questões que o atormentavam sobre o caminho a seguir agora, por onde recomeçar, qual a ponta certa para pegar e em cada curva da estrada lá regressava a imagem daquele rosto que lhe vinha ocupando os dias e também aí se manifestavam as suas interrogações sem resposta. Contrariamente às ocasiões anteriores, Marian encontrava-se mais distante, era como se estivessem separados por um rio e sendo necessário construir uma ponte não sabia onde seria o local ideal para que não ruísse e apesar de estudar todas as hipóteses encontrava-se longe da solução. Pelo menos, a sua presença mesmo que imaginária, ajudava-o a superar as agruras, motivava-o para a procura de algo que lhe dava prazer, como se no meio das dificuldades e asperezas do quotidiano, encontrasse ali o prazer dos momentos felizes. Hélder sempre fora um idealista, não deixava de acreditar que o mundo que o rodeava e lhe impunha regras sem sentido, poderia ser diferente o suficiente para as pessoas se encontrarem doutra forma, deixarem de ser mais materialistas e passarem a ser mais sonhadoras. Talvez por isso vivesse num espaço à margem e tais aspectos reflectiam-se claramente nas suas paixões, pois estas eram mais uma simples manifestação de amizade do que o alcançar de um momento pleno sem dúvida, mas efémero. A dificuldade residia sempre em como fazer-se entender, como explicar que sem ser diferente, não era igual. A viagem daquele dia chegou ao fim sem encontrar respostas.

“Procuro nos confins do universo o caminho que me conduza a ti
mas hoje todas as estrelas amararam no céu.” (2)

As semanas passaram, Hélder voltou a insistir, tentou este e aquele caminho, atravessou atalhos e ruelas estreitas, aproximou-se quase da totalidade do conhecimento do que procurava. O Jorge Macedo tinha uma vivência nocturna profunda, sempre à margem da vida que se entende por normal, ou seja dentro das regras estabelecidas e que pelo menos permitem conciliar o essencial. Vivia com sobressaltos, com visitas nem sempre agradáveis, até que uma noite não pôde iludir a realidade em que vivia e os transportes que fazia. Retido numa esquadra e na vã tentativa de esconder a mercadoria, guardou-a dentro de si mesmo. Quando pressentiu que a sua vida se encontrava no limiar duma fronteira sem regresso, deu o alarme, mas era tarde. Morreu vinte minutos depois no hospital da cidade. A Maria Teresa desapareceu e alguns factos ficaram por conhecer. Ah! é verdade, tinha sido o responsável pelo acidente.

“Esta tarde respondeu a solidão ao meu chamamento
e, no entanto, vi-te passar rio abaixo
num barco sem ninguém
esfumando-se por entre névoas de fantasia.” (2)

Marian partiu em meados do Outono. Um dia, quando o tempo lhe acrescentou mais um ano à sua juventude, anunciou que partia à procura de avenidas mais frondosas onde o infinito parece mais puro e contém promessas mais belas. Encontrava-se na idade em que as mulheres explodem de alegria como se alcançassem o cume de uma montanha sagrada e esta sua viagem impediu que pela primeira vez Hélder conseguisse construir a ponte que lhe permitiria atravessar o rio que o separava da possibilidade de outra amizade. Despediu-se ao longe, um dia quando o silêncio da noite descia pelas paredes da tarde e guardou na memória, no recanto onde guardava os momentos mais serenos da sua passagem pela vida, a imagem de uma mulher muito bela que lhe fez preencher a imaginação e acrescentar mais pureza aos seus sonhos recônditos.

“Afago na memória a imagem do teu rosto
estendo as mãos para não te perder” (2)


(1) – Pablo Neruda
(2) – Pablo Miranda


Porto, Setembro de mil novecentos e noventa e sete.

25 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

Estava a pensar o que vos podia dizer hoje a título de conversa e lembrei-me que só vos tenho falado do entardecer quando o amanhecer é tão belo. Significa que há muito não me levanto de madrugada ou que estou sem aquele espírito optimista que nos desperta para essa alegria que é ver nascer o dia. É verdade. Há quatro ou cinco anos dei início a um velho e adiado desejo da infância que era construir uma cidade de pequenos comboios. Ao longo de três anos, pacientemente fui construindo, montanhas, aldeias, túneis, cidades e viagens. Quase todos os dias retinha a ansiedade quotidiana, parando largos minutos para olhar as composições a circular. Nos últimos tempos imaginei até um espaço maior para o TGV poder alcançar a sua velocidade de ponta. De repente, tudo cessou. Os comboios estão parados há cinco meses. Por isso, hoje vos venho de novo falar do pôr-do-sol que ontem vi desenhado no horizonte quando descia de Braga pela A3 e mais tarde aquele crepúsculo que a transição do dia noite para a noite transformou o estuário do Douro num lago de serenidade. Continuo a viver momento a momento. Faltam-me as grandes e pequenas epopeias da vida que nos catapultam para momentos de espanto.
Tenham um bom fim de semana.

LÍRICA

No meu jardim aberto ao sol da vida,
Faltavas tu, humana flor de infância
Que não tive...
E o que revive
Agora
À volta da candura
Do teu rosto!
O recuado Agosto
Em que nasci
Parece o recomeço
Doutro destino:
Este, de ser menino
Ao pé de ti...

MIGUEL TORGA

"Gasto o seu combustível, a gigante vermelha já não pode produzir as pressões necessárias para se defender da aniquiladora força interior da sua própria gravidade e as camadas exteriores começam a ceder para o centro. A gigante vermelha sucumbe."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"Os sindicatos são organizações de compromisso colectivo, em que a referência central da sua vida é a solidariedade de classe. Acontece que um dos instrumentos fundamentais deste retrocesso neo-liberal é a ruptura de solidariedades, é a individualização das relações."

MANUEL CARVALHO DA SILVA, in "Manifesto", Dezembro de 2003

Porto, 05 de Março de 2004

24 outubro, 2006

POEMAS


Contemplo o oceano
as águas calmas
a serenidade da tarde
aguardando a noite
e espanto-me com a beleza
que a natureza me oferece
vejo o teu olhar vogar nas ondas
o sorriso que baila com a luz do sol
que partiu
ao longe, o teu olhar
brilha
e os cabelos esvoaçam
como as velas desfraldadas
de um veleiro.

25.09.2006

23 outubro, 2006

CONTOS


De quando em vez encontrava tempo para um momento como este, percorrer certas ruas da cidade quando a tarde desliza para a noite com suavidade, com a calma que a água dos regatos contorna as grandes pedras num percurso sem destino.
Era um fim de Verão que tardava em partir e nas ruas sentia-se ainda a falta de movimento. Teve assim tempo para olhar em redor, apreciar com ternura os objectos em granito que aprendera a amar em criança. Ia cedo para o encontro que marcara e, portanto, podia caminhar com o vagar dos momentos eternos, passear o olhar pelo título dos jornais em quiosque que sempre conhecera e ver as pessoas que consigo cruzavam. Vê-las com olhos de ver, reter-lhes os traços da fisionomia, pressentir a beleza dos gestos e perscrutar dramas escondidos.
Mas agora estava sentado na confeitaria onde há muito não entrava, eram poucas as pessoas e do lugar onde se encontrava conseguia alcançar o cruzamento, o jardim e as duas portas. Hélder aguardava. Hesitara na entrada e dirigira a palavra a uma jovem, mas não, não era a Cláudia. Sentou-se, não sentia pressa, era mais um acidente e um personagem, desta vez feminino e que se adivinhava jovem. Minutos volvidos, olhou de novo para a porta e não teve dúvidas, aquela era a Cláudia e a primeira impressão não lhe agradou.
Aproximou-se lenta e calma, um rosto moreno e sério, o cabelo puxado para trás e uns óculos escuros a esconder-lhe uns olhos castanhos. Sentou-se como se aquele fosse um de muitos encontros e começou por responder devagar às perguntas, mas pouco a pouco, as frases cresceram e então falava muito tempo e foi num desses espaços, enquanto ouvia, que Hélder se ausentou. Havia qualquer coisa na presença daquela jovem mulher que o levava para o passado. Continuava a escutá-la, mas viajava cada vez mais para outro tempo e outro espaço, na procura de uma outra mulher cuja presença continuava a manifestar-se de forma vincada. Tinha sido há cerca de um ano que Marian partira e como sempre soubera, não foi capaz de esquecê-la. Em cada canto de solidão recordava-lhe o rosto memorizado, o olhar irrequieto e uma presença que manifestava determinação. Alimentava o sonho com fantasias da sua presença como se vivesse, caminhasse ao seu lado, como uma companheira inseparável, em certa medida, era como viver noutra dimensão onde conseguia separar barreiras que tantas vezes impedem os seres humanos, de se aproximarem e de actos tão simples como conhecerem-se. No fundo era a fórmula que encontrara para penetrar no espaço sagrado onde viviam as mulheres que endeusava, aquelas que o atraíam pela beleza do corpo, da palavra e da alma e eram as suas manifestações exteriores que o prendiam, que o alteravam e, em certo sentido, o modificavam. Marian tinha sido assim. Como escrevera o poeta, amara-a ainda antes de a conhecer, mas quando a olhou de facto, não teve dúvidas que sempre a tinha amado. Desde então, limitara-se a encher de lenha essa fogueira que lhe aquecia a alma, mas não chegou o tempo em que fosse possível, ela ver as chamas crepitando no seu olhar. Foi como se o vulcão se extinguisse antes da lava ter tempo de correr pela encosta da montanha. Chegado Setembro, quando anunciou a partida, soube que desta vez a fantasia ficaria com o castelo do sonho inacabado. De então para cá, encontra-a a cada momento de paragem ou, como agora, no rosto da Cláudia que alheia aos seus pensamentos, continuava a descrever o acontecimento que vivera.

Porto, Praça da República, Agosto de mil e novecentos e noventa e oito

21 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

Ontem ao fim da tarde regressei para junto do mar. Na ausência das montanhas, vou olhar o horizonte que se estende para além daquela linha imaginária. Não havia sol, o céu estava cinzento e tornava o ambiente mais pesado ainda, nesse momento em que a noite já sobrepõe o seu peso a tudo. Lentamente surgiu uma estrela por entre as nuvens iluminando algures um ponto no meio do infinito. Nunca imaginei uma solidão maior e mais profunda do que uma estrela sozinha no interior de uma galáxia a milhares de milhões de megaparsecs da sua irmã mais próxima. Entretanto, um helicóptero sobrevoava o oceano a baixa altitude em quadrados sucessivos que ora se alargavam, ora se fechavam, o que só poderia significar que no interior do azul escuro das águas haviam homens que já não veriam nascer as estrelas e cujo corpo gelado já não voltaria a sentir o frio, lembrando-nos que a vida continua a ser um minuto apenas e que se não formos capazes de o usufruir a cada instante nunca chegaremos a viver, por isso vos recomendo sempre que quando encontrarem um sorriso no olhar de uma mulher, ganhem coragem e digam-lhe, Olá! minha rainha do Egipto. Pode ser que ela não perceba, mas vivemos um pouco e quando um crepúsculo gelado nos impedir de ver para sempre o nascer das estrelas, podemos dizer como Pablo Neruda, Confesso que Vivi.

É PRECISO AVISAR TODA A GENTE

É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir.

É preciso avisar toda a gente
Segredar a palavra e a senha
Engrossando a verdade corrente
Duma força que nada a detenha.

É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta.

É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.

JOÃO APOLINÁRIO, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

"No momento final da colisão a força da atracção nuclear é tão grande que funde os protões um contra o outro, formando um único núcleo. Ao mesmo tempo, a energia da colisão de ambos é libertada sob a forma de calor e luz. Este desprendimento de energia marca o nascimento da estrela.
A energia passa para a superfície e é irradiada sob a forma de luz, em virtude da qual nós vemos a estrela no céu."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"Como Grande Esposa Real de Amenhotep IV, aquele que ficaria conhecido como "o faraó herege", Nefertiti (que significa, eis a bela que chega) participou de modo activo na reforma religiosa que teve lugar durante o seu reinado. Introduziu-se o culto monoteísta a Atón e fundou-se uma nova capital. Este período significou um ponto de inflexão no Império Novo egípcio, mas os sucessores do casal real não só quiseram ignorar aquela etapa, como pretenderam inclusive apagar a memória histórica dos seus protagonistas."

COVADONGA SEVILLA, in "Historia y Vida", Setembro de 2003

Porto, 04 de Março de 2004

20 outubro, 2006

POEMAS


O vento sopra como brisa
como sossego
ligeiramente perturbado.
O mar é azul
azul intenso
com sabor a prata.
Queria escrever, mas não sei.
Apenas e só
penso em ti.
Saudades sinto
de te saber próxima.
de sentir
o aconchego
de um olhar
que sorri
que brilha
e que me dá alento.

29.08.06

18 outubro, 2006

GERÊS

Todos sabemos que tudo provém da terra. Dali nascemos, para ali regressamos, é o que nos dizem. Nos tempos em que pensei perceber algo de astrofísica, mergulhei no estudo desses primeiros minutos à procura de respostas e segui roteiros de cientistas consagrados. Atrás de um deles cheguei mesmo a espreitar por essa janela que nos permitia olhar a natureza momentos antes dessa explosão fantástica que criou o nosso sistema solar. O fulgor da luz foi diminuindo, o calor amansou um pouco, os átomos começaram a encontrar o seu lugar, as suas rotações alcançaram ritmos harmoniosos e um dos planetas que vogava à deriva começou a sentir a vida a romper as suas entranhas. Da aridez da superfície começaram a surgir sons que rompiam o silêncio e das borbulhas de lama cresceram oceanos, alimentados por torrenciais quedas de água provenientes da escuridão celestial. Será ali, naquela vastidão de liquido escuro que a vida celular adquirirá consistência. Como escreveu Saramago, num poema inesquecível e que o Pedro Barroso musicou de formas lindíssima, “ao princípio era o nada”. Nesse ritmo evolutivo e cadenciado, surge um animal algures em África que um dia ergue dois membros para além do chão e caminha assim erguido à descoberta dos continentes. Quando olhou para si, possuía apenas o corpo, tudo o resto, necessário à sua vivência, descobriu-o à sua volta, na terra que é o mesmo que dizer, na natureza. O percurso que fez nos últimos 3 milhões de anos é conhecido.
Actualmente, afastou-se do ambiente natural que o rodeia, produz materiais que já não provêm directamente do que está à sua volta e de cuja matéria foi originalmente criado, habita entre paredes de betão e desconhece procedimentos elementares de sobrevivência natural e quase sempre a sua acção vai provocando danos irreversíveis no planeta que o viu nascer.
Pese embora, essas opções que parecem conduzir o Homem para um destino sem saída, de quando em vez, ouve como um chamamento da terra.
Periodicamente sou uma dessas pessoas que escuta um grito como um apelo, provindo da natureza, mais propriamente das montanhas que é onde tudo me parece mais puro, mais virgem, mais indomável. Novembro é um dos meses em que esse canto me chama como uma atracção que não posso recusar.
Vou regressar ao Gerês, mais propriamente à Serra Amarela que cobre as terras entre o Cávado e o Lima e se debruça sobre o Gerês, a Galiza e o Alto Minho.
Novembro de 2004

16 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Hoje é que não tenho mesmo nada para dizer. Desejava apenas que a vida fosse sempre um sorriso de mulher em cada curva da estrada.

AQUI TE AMO...

Aqui te amo.
Nos sombrios pinheiros desenreda-se o vento.
A lua fosforesce sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-se.

Desaperta-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata desprende-se do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.
Sozinho.
Às vezes amanheço, e até a alma está húmida.
Soa, ressoa o mar ao longe.
Este é um porto.
Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte.
Eu continuo a amar-te entre estas frias coisas.
Às vezes vão meus beijos nesses navios graves
que correm pelo mar aonde nunca chegam.
Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os cais quando fundeia a tarde.
A minha vida cansa-se inutilmente faminta.
Eu amo o que não tenho. E tu estás distante.
O meu tédio forceja com os lentos crepúsculos.
Mas a noite aparece e começa a cantar-me.
A lua faz girar a sua rodagem de sonho.

Olham-me com os teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento
querem cantar o teu nome com as folhas de arame.

PABLO NERUDA, in "Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada"

"Com o decorrer do tempo, a influência ininterrupta da gravidade, atraindo os átomos uns para os outros, faz com que a nuvem se contraia. Os átomos individuais caem para o centro da nuvem, devido à força da gravidade; à medida que eles caem, ganham velocidade e a sua energia aumenta. O aumento da energia aquece o gás e eleva a sua temperatura. Tal bola de gás, que se vai contraindo e aquecendo a si própria, é uma estrela em embrião."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"Nos primeiros séculos do feudalismo, a Igreja desempenhava um papel fundamental no Ocidente europeu. A população tinha diminuído de forma considerável, as cidades encontravam-se em franca decadência e a sociedade, de marcado carácter rural, concentrava-se em torno do castelo do senhor ou do mosteiro. Estas comunidades religiosas, como as de Cluny e Císter, actuariam como centros de actividade económica e refúgios da cultura ao longo da Idade Média."

JOSEP TOMÁS CABOT, in "Historia y Vida", Setembro de 2003

Porto, 03 de Março de 2004

POEMAS


Digo que foi hoje
mas foi há muito
num tempo que não te sabia ainda
apenas podia imaginar esse olhar.

Digo que foi hoje
porque no infinito de azul
os teus olhos vogaram
em dança universal
como pequenos electrões
irrequietos à procura de um átomo
alegres, felizes, gaiatos
buscando lugar onde pousar
e o teu rosto sorrindo
no interior da manhã
qual nave estelar
matéria viva no infinito
quasar irradiante de luz.

Aqui te tenho diante de mim
como a flor mais amada
de um jardim eterno.


08.08.06

14 outubro, 2006

LEITURAS

O Outono proporcionou-me a leitura de uma escritora que há muito é para mim uma referência de ordem cultural e literária. Isabel Allende uma chilena nascida no Peru, mais tarde, exilada do Chile por militares golpistas sem dignidade, sem lealdade, sem lei, começa aos 40 anos a escrever a história do país que a viu crescer. Através de romances extraordinários onde a fantasia dos contos se mistura com a magia da imaginação, faz gerar figuras que só o encantamento das florestas e das montanhas da América Latina pode fazer brotar da alma. Isabel, fez-me apaixonar pelos Andes e pelo Chile e, juntamente com Neruda fez-me desejar conhecer essa terra que vai desde Arica à Terra do Fogo comprimida entre as montanhas e o oceano.
Neste último romance, traz-nos a história da conquista do Chile, servindo-se da figura da vida do conquistador e da mulher que apaixonadamente o seguiu e o amou. Pedro de Valdívia foi um desses castelhanos que chegou à América com a espada na mão direita, a cruz na esquerda e com uma insaciável sede de ouro, que o levou a cometer, tal como todos aqueles que o acompanharam, a um dos maiores crimes da humanidade e que escondemos com uma ingenuidade imperdoável. Os nomes de Hernan Cortez e Francisco Pizarro, deviam figurar na história como vulgares salteadores que dizimaram civilizações que deslumbravam o território americano. Desconhece-se o verdadeiro número do genocídio, mas já na época a coragem do Padre Las Casas fazia variar esses números entre 20 ou 80 milhões. Fosse qual fosse o número verdadeiro, foi uma carnificina inqualificável e que merecia da parte dos europeus um tratamento diferente da história.
Isabel Allende, como sempre, salienta o papel da mulher. Aqui através de Inés Suarez, essa extremenha amante de Valdívia que o acompanhará ao longo de dez anos. Será mostrando o seu papel, de companheira dedicada, de amante a quem o conquistador chamará de Inês da minha alma, que nos vai relatando os episódios da conquista e da fundação das cidades chilenas por sobre os escombros das aldeias mapuches e semeando milhares de cadáveres pelos vales daquela bela terra. Inês, dará alguma humanidade ao terror que os cavaleiros castelhanos vão espalhando por entre os autóctones, por esses araucanos, rebeldes e insubmissos que nunca deixarão de combater e hão-de simbolicamente vingar-se através da morte de Pedro Valdívia. Inês é a narradora da história e na parte final. Já com a morte a rondar-lhe o corpo, relata-nos essa resistência indígena para além do Rio Bio Bio. Nessas últimas páginas há muita dignidade, em torno dessa guerra de resistência, de salvaguarda do que era um território livre. Neste romance, vemos nascer o Chile, o mais moderno, o da conquista por homens predadores, ambiciosos, autênticos senhores feudais para quem os seres humanos se dividem entre os que mandam e os que servem. Não fosse a figura da mulher com o nome, a coragem, a beleza e a lealdade de Inês Suarez e a história não teria o mesmo fulgor. Assim, é mais outro livro de Isabel que merece ser lido.

11 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Olá! Amigos

Mais um dia de frio, de muito frio. Ontem fiquei a trabalhar até à uma hora da manhã e acho que às seis ainda não tinha aquecido. Deve ter sido por isso que adormeci. Ontem saí cedo, às 16 horas, estava frio mas sol, esse calor que irradia da nossa estrela mais próxima é vida. Voltei à beira-mar. Continuavam bonitas as águas do oceano. Se não saíssemos do carro, tudo parecia perfeito. Mais à tarde, quando a noite aparece como uma sombra voltei a correr a linha marítima do horizonte. Um clarão vermelho parecia desenhar um incêndio enorme sobre o outro lado do mundo e dava um tom muito bonito ao azul das águas que quase paradas pousavam fatigadas na areia da praia. Depois foi a noite, com todos os fantasmas que conhecemos.
Bom trabalho.

VITA NUOVA

Se ao mesmo gozo antigo me convidas,
Com esses mesmos olhos abrasados,
Mata a recordação das horas idas,
Das horas que vivemos apartados!

Não me fales das lágrimas perdidas,
Não me fales dos beijos dissipados!
Há numa vida humana cem mil vidas,
Cabem num coração cem mil pecados!

Amo-te! A febre, que supunhas morta,
Revive. Esquece o meu passado, louca!
Que importa a vida que passou? que importa,

Se inda te amo, depois de amores tantos,
E inda tenho, nos olhos e na boca,
Novas fontes de beijos e de prantos?!

OLAVO BILAC

"As estrelas parecem imutáveis, mas não o são. Elas nascem, evoluem e morrem tal como os organismos vivos."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo".

"De acordo com o sistema social imperante, cada domínio recebido em conceito de feudo chamava-se senhorio. Nele existia um regime denominado precisamente senhorial, do qual dependia por inteiro a economia, nitidamente agro-pecuária e de subsistência que durou mais ou menos até ao ano 1000. A partir do século XI as actividades foram-se diversificando e vitalizando de modo progressivo com o tímido despertar do comércio e da indústria, um ressurgimento que foi possível graças a um cúmulo de factores políticos e demográficos.."

JULIÁN ELLIOT, in "História y Vida", Setembro de 2003

Porto, 02 de Março de 2004

10 outubro, 2006

POEMAS


Que noite, que noite imensa
que percorro.
Negra, profunda, noite sem luz, sem destino.
Guia-me apenas o olhar das trevas
o olhar invisível desses fantasmas
que esvoaçam em sonhos de naufrago.
E da beleza do teu olhar
esse brilho cintilante que perfura a escuridão
já nem um clarão fugaz chega a ser
Extinguiu-se arrastado por esse trovão imenso
apagou-se no interior deste escuro silêncio.
Caminho com os passos incertos de outrora
estendo os braços e só pressinto a penedia
e como todos os que naufragam
lanço um grito no fragor das ondas
que apenas assusta o uivar das aves marinhas
E responde o silêncio
o sussurro das águas oceânicas
beijando as areias adormecidas.
E o sorriso
onde baila esse sorriso que era uma luz
o sorriso aberto, doce e imenso
que me ensinou a amar-te.
De tudo, resta o anúncio da tempestade
que o vento agreste pressagia.
Prevenido, avisado, agarro-me
às pedras do cais
à luz do farol que já não varre o céu
e vejo-te partir, sem teres chegado
Lenta barca pelo mar adentro
sulcando as ondas
a beleza da vida na proa erguida
e a tormenta chega
como sempre
devastadora.


05/07 de Agosto de 2006

09 outubro, 2006

GERÊS

Lembrei-me há dias num dos passeios nocturnos que o Galileu me impõe todos os dias e o céu estava povoado de pontos brilhantes e trémulos. É verdade, veio-me à lembrança essa nossa viagem às montanhas e apesar de não termos visto as constelações de estrelas no firmamento, vieram-me à memória como se as tivesse olhado num canto da imaginação quando num momento de descanso olhava a majestade da Cabreira ao longe. Naqueles escassos minutos em que rodeei o jardim, refiz toda a nossa viagem à procura do desconhecido. Acreditem que estava com alguma ansiedade pois não sabia o que ia encontrar ao fim de tantos anos nem como seria um passeio rodeado de tantas pessoas quando nos anteriores éramos dois ou três onde pontificava o silêncio que engrandecia a solidão da paisagem.
Que a memória me traiu, logo descobri e que iria trair as expectativas também não demorei muito a aperceber-me. Restava ainda a esperança de poder entusia
smar os ânimos com alguma história que pudesse contar nos momentos de pausa, mas como se veria mais tarde, estes foram poucos e enquanto duraram vivi preocupado em tentar encontrar o caminho perdido. Olhava ainda para mim na tentativa de conhecer até onde me levariam as capacidades e a confiança só viria mais tarde, no segundo momento em que tivemos de vencer um longo patamar e descobri que conseguia ir para além do limite concentrando a atenção no caminho enquanto atrás de mim a Maria falava da Grécia e da ilha de Creta levando-me a memória 30 anos para trás quando um avião me trazia de regresso à pátria – fantástico, ainda há pátria – e avistei o espaço dessa espantosa civilização minóica enquanto mais à distância numa outra ilha a intolerância dos homens dividia dois povos. A Alexandrina escrevia um diário que não chegamos a conhecer e quando reparei o Miúdo aguentava-se com heroísmo de lenço verde na cabeça fazendo lembrar aqueles que por ou em nome de Deus vão sacrificando a vida, a deles e a dos outros. E assim com estes pensamentos quatro horas depois chegávamos ao nosso ponto mais alto e sem coragem para incentivar mais esforços propus o regresso.
Mas não é o fim.
Como já vos disse, há mais Gerês e vamos continuar. Temos esses treze quilómetros até aos Carris e se ainda formos capazes de vencer mais trezentos metros a subir chegamos ao ponto mais alto e então aí sim podemos olhar o mundo de uma janela, como se entrássemos na Catedral de Santa Sofia dessa Constantinopla medieval e olhássemos o céu pela cúpula como se o infinito estivesse na ponta de um telescópio. Pelo caminho talvez encontremos uma das escassas águias que planam pelo desfiladeiro em voos tristes e solitários de quem se sente à beira da extinção. Se puséssemos música seria um Requiem, o de Mozart que é o meu preferido, que ouvimos nas noites negras em que vemos as nossas paixões desaparecerem no horizonte e sentiríamos a ira de Deus castigar os nossos pecados por deixarmos que a fauna deste parque nacional vá lentamente sucumbindo. Falta-nos ainda subir até ao Muro onde poderemos ver o mar a 70 Kms. de distância e escutar o vento a bramir e sentir aquela frase de um amigo meu que escreveu ser dum tempo em que as mulheres apaixonadas traziam no olhar o grito das gaivotas à procura de alimento nas manhãs perdidas do litoral. Foi na descida que após um intenso e breve aguaceiro encontrei uma espectacular floresta de imensos tons verdes e vivos. No regresso percorremos a jeira por onde há dois mil anos as quadrigas romanas e as legiões uniam Bracara Augusta à asturiana Astorga. Por aqui se escaparam as forças francesas após as invasões fracassadas, e também, os liberais em fuga para o exílio. Esses que viriam a ser os guerreiros que morriam por qualquer coisa que amavam. Seguindo os marcos miliários descobriremos a albufeira de Vilarinho abrindo-se numa imensidade de azul de uma beleza inesquecível e se for num momento bom e as águas estiverem baixas atravessamos, para visitar as ruínas da aldeia que nascida dos estaleiros da estrada romana sucumbiu nas profundezas das águas e só de quando em vez nos olha do interior do seu silêncio. Com um pouco de tempo ainda chegamos à pequena aldeia de Brufe encrostada na serra já para as bandas de Bouro. Vencida a serrania e penetrando na Amarela vamos por terras da Manuela Marinho até à Ermida, ou da Joana pela Peneda dentro conhecer as brandas e Castro Laboreiro e descer ao longo do Lindoso onde a Lua em noites de lua cheia fica do tamanho de Júpiter. Será então a altura de viajarmos para mais longe ao encontro dos monges milenares de Pitões das Júnias, ver os relógios de sol, as aldeias comunais e descobrir a Fonte Fria nos limites da Galiza.
Agora o Rui fala-nos em viagens de dois dias o que acho bom, se for de tenda será óptimo e podemos pensar ir mais longe, quiçá explorar o Parque Natural de Montesinho para os lados de Bragança ou descer às Beiras e percorrer o circuito das aldeias históricas em torno de Sabugal, no limite desse Portugal de Duzentos onde se travavam as primeiras lutas pela independência, ou à volta dos séculos no Monte Jarmelo na Guarda ou ainda uma viagem pela aldeia dos Trinta em pleno Parque Natural da Serra da Estrela.
Bem, o que vos quero dizer, é que no regresso a casa com o Galileu, decidi voltar de novo aos meus passeios pelo Gerês, pelo que muito em breve lá estarei de novo, de preferência com todos, só que agora sem destino, para ninguém se sentir defraudado e disponível para as viagens que o Rui propõe, com excepção de Santiago porque esse caminho todos conhecem.
Outubro de 2003

08 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Olá! Bom dia meus Amigos

Hoje tenho pouco tempo para falar com vós. Estou num daqueles dias que fico importante e me pedem uma opinião, pelo que tenho aqui um livro para estudar. É assim, andamos por aí sem valer nada e de quando em vez lembram-se que somos importantes porque sabemos qualquer coisa, o que nem é verdade, pois pouco sei. Mas, enfim. Continua é o frio, muito frio que me leva a vontade, sobretudo, à noite. Ao pensar no frio, veio-me à memória que no Sábado de manhã, pelo menos durante uma hora, brilhou o sol, bonito, puro e azul. Fui até à beira-mar, numa zona sobranceira, donde via um extenso areal deserto e as águas do Atlântico azul índigo com o fundo esmeralda e cadenciadamente uma barca de espuma branca vinha desembrulhar-se na areia. Estava quente dentro do carro, uma quentura agradável e escutava a música desse poeta cantor que é o Pedro Barroso que nos fala das mulheres da pátria e da ternura como muito poucos neste país, talvez por isso raramente se ouça. Só faltava mesmo alguém para dizer a Canção de Embalar. Depois ..., o sonho acabou.

BOA-NOITE

Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa-noite!... E tu dizes - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve... a Calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

CASTRO ALVES

"Ao todo existem 92 espécies diferentes de núcleos e, correspondentemente, 92 espécies de átomos, indo desde o hidrogénio ao urânio. Estes elementos, em várias combinações, formam todas as variedades de matéria - animal, vegetal e mineral - que existem no Universo."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"Após a queda do Império romano a Europa se fragmentou e desde logo apareceram distintas monarquias. Estas, incapazes de impor a sua autoridade, cederam cada vez mais poderes à aristocracia local. Assim nasceu o feudalismo. A sociedade passou a fundamentar-se em relações de dependência interpessoais através de vínculos de vassalagem. Num mundo profundamente instável, os mais débeis prestavam obediência aos mais fortes em troca de protecção. Se criou desse modo uma rígida hierarquia, que ia desde o rei e o papa até aos servos mais humildes."

JULIÁN ELLIOT, in "História y Vida", Setembro de 2003

Porto, 01 de Março de 2004

07 outubro, 2006

POEMAS


Dias estes
de silêncios
vividos e pensados
a memória procura-te
entre o verde das montanhas
e a ternura das tardes
destes dias quentes de Verão
por entre anseios
de desejo
e viagens imaginadas
por entre o sorriso
do teu olhar


Braga, 29 de Julho de 2006

06 outubro, 2006

CONTO

Sentiu uma dor imensa nas pupilas e só com muita dificuldade conseguiu reabrir os olhos para tentar perceber o que ocorria em seu redor. Com uma lentidão que não controlava foi-se voltando e apercebeu-se que o sol brilhava com intensidade. A primeira percepção que teve foi do cheiro, um odor intenso e estranho que tardou em identificar com queimado. Estava agora com o tronco suportado pelo cotovelo esquerdo, mas as pernas doíam-lhe, pareciam inertes. A memória regressava em pequenos passos, com intervalos, e quando pôde distinguir as colunas de fumo ao longe, já foi maior a lembrança de como tinha chegado até ali, ao termo da Alfama.
Fora numa manhã linda como esta, mas sem o cheiro de incêndio e sem a memória da morte, que nascera numa casa térrea encostada às muralhas, mesmo junto à porta que dava para o rio, chamada Porta do Mar. Como veio ao mundo logo após uma noite de lua cheia, puseram-lhe o nome de Fátima alhmed allah, a abençoada por Deus. Tinha a pele escura, mas morena e não negra, cor noz-moscada como a que chega do oriente vinda de Sevilha.
Alusbuna era já então uma grande cidade, mas cresceu sempre ao longo destes dezassete anos passados. A infância passou-a ali, metade dentro de água e outra metade correndo pela Ribeira. Como o crescimento arrasta deveres, começou a conhecer o silêncio de casa, a vida doméstica e as obrigações familiares. Sempre que lhe era possível e o cortejo dos que a rodeavam, se distraía, escapulia-se até à margem e contemplava a imensidão das águas e as chegadas e partidas de longas escunas que vinham das lonjuras do mar que nunca tinha visto. Diziam-lhe que era imenso, tão longo que se podiam andar dias e noites sem ver terra nem lhe encontrarem o fim. Uma ocasião tinha conseguido sair a muralha pela Porta do Cemitério, mas foi tudo tão rápido que pensa não ter visto o mar, era apenas o rio, extenso, muito extenso, mas não era ainda o mar.
Há dias quando passaram os festejos do solstício do verão, foi prometida em casamento. Não conhece o noivo, naturalmente, mas quando se dirigia para a mesquita viu um rosto bonito e jovem, como o de um guerreiro e desejou guardá-lo só para si. Ele também pressentiu o olhar dela por sob o véu e aproximou-se. Chama-se Ibn Iuçufe Ahmed, o escolhido do céu. Prometeu procurá-la e Fátima partiu ansiosa.
Nunca tinha sentido algo parecido e não sabia o que pensar. Nessa noite não dormiu e de madrugada escapuliu-se e foi espreitar o rio. Foi então que reparou na imensa cortina de caravelas dos infiéis de Cristo. Pensou que sonhava, mas após ter esfregado os olhos via com mais nitidez a enorme cruz desenhada nas velas dos barcos.
Dias depois assaltaram a cidade, em nome de Deus, dizem. Arrasaram tudo na sua passagem. Os combates foram muitos e intensos, mas os cavaleiros do Deus cristão eram mais e estavam melhor armados. Durante vários dias, correu desorientada de lado para lado tentando escapar à loucura de homens perdidos. Ibn Iuçufe, o seu amado, o desejado do céu, partiu para as nuvens logo nos primeiros dias, espetado pela seta certeira de uma besta próximo da Porta de Alfofa. Procurou os seus, mas não os encontrou. Evitou regressar a casa, pois foi por ali que os infiéis venceram as defesas mouras e destruíram tudo. Foi apanhada quando tentava esgueirar-se por uma fenda da muralha. Eram três, um deles, cavaleiro. Agarraram-na, rasgaram-lhe a roupa e enquanto se riam, divertiram-se com o corpo. Pouco mais se lembra e não sabe como ficou viva. Acabou por sair e agora está ali a olhar o mar que nunca tinha visto. Está só e preferia ter morrido. Afinal, em nome de um Deus, roubaram-lhe quem amava e apesar de ser abençoada por outro Deus, este esqueceu-se dela quando mais precisou dele.

Escrevi isto como recordação permanente
Do meu sofrimento. A minha mão perecerá
Um dia, mas a grandeza ficará.

(Inscrição árabe na Sé Velha de Coimbra)

Serafão, dois de Julho do ano da graça de dois mil e quatro. Para a Ana a quem prometi um conto.

04 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, Amigos

Hoje saí de casa com a sensação de limpidez no céu, como se fosse a minha alma que estivesse limpa. Pensei até que a chuva que caiu abundante pela noite tivesse afastado para longe essa sensação triste de um frio pesado. Mas não. Agora olho pelos vidros amplos deste meu espaço e não só a abóbada se encontra cinzenta escura como a chuva cai com aquela cadência que nos derrota a vontade. Amanhã é Sábado e os amigos estarão longe e ficarei com o olhar preso na 2ª Feira seguinte para o reencontro reconfortante. Vivemos de facto tempos difíceis.
Bom fim de semana.

ARTE POÉTICA

Que o poema tenha carne
Ossos, vísceras, destino
Que seja pedra e alarme
Ou mãos sujas de menino
Que venha corpo e amante
E de amante seja irmão
Que seja urgente o instante
Como um instante de pão

Só assim será poema
Só assim terá razão
Só assim que vale a pena
Passá-lo de mão em mão

Que seja rua ou ternura
Tempestade ou manhã clara
Seja arado e aventura
Fábrica, terra e seara
Que traga rugas e vinho
Berços, máquinas, luar
Que faça um barco de pinho
E deite as armas ao mar.

HÉLIA CORREIA, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

"Em todos os casos, o átomo completo está formado quando o núcleo tem um número de electrões circulando à sua volta igual ao número de protões que contém."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"O desprezo com que as elites políticas internas e externas acolheram o "inculto" Bush deixaram a esquerda, uma vez mais, sem uma percepção clara das continuidades e descontinuidades entre a Administração Clinton e a nova Administração, subestimando, de forma suicida, o real significado do novo governo."

MANUEL MONEREO, in "Manifesto", Novembro de 2002

Porto, 27 de Fevereiro de 2004

03 outubro, 2006

POEMAS


Há um aroma
vogando ao vento
sente-se na maresia
é a proximidade de ti
que se pressente
navegando à solta
neste mar prateado
Em breve virás
di-lo o desejo
mais do que a certeza.


29.07.06

02 outubro, 2006

LEITURAS

Há leituras que nos impressionam, umas pela história, outras pelos personagens, umas pela forma, outras pelo conteúdo, pela beleza das palavras, a doçura do texto, a leveza do conto. Provavelmente, no belo discurso de Federico Garcia Lorca seduziu-me tudo isto.
Encontrei Federico na minha adolescência através de uma peça de teatro de uma das suas obras. Intelectual espanhol de grande vulto do início do século passado, Garcia Lorca tinha um mundo espantoso à sua frente na arte da criação e que a jovem república ia permitir expandir, quando essa besta violenta do fascismo o levou aos 38 anos. Pareço sentir ainda os sons do calor daquela tarde na Vega de Granada por entre as oliveiras da sua Andaluzia amada e os tiros, sim os tiros a soarem como uma trovoada na história ribombando na memória dos homens.
Mais tarde um agrupamento musical, Aqua Viva, de uma Espanha que acordava reavivou a imagem desse intelectual extraordinário, cantando, te presento un amigo que no conoci, porque mi principio fue depois del fin.
Mas a magistral aula sobre a história e a importância dos livros na vida da humanidade, Alocução ao Povo da Aldeia de Fuentevaqueros, cuja leitura agora realizei, incentiva-me a uma viagem de conhecimento pelas antigas terras árabes de Córdova e de Granada e não consegue apagar a amargura que sinto quando penso nessa Espanha maldita que nos roubou Garcia Lorca, El rio Guadalquivir tiene las barbas granate y los dos rios de Granada, uno llanto y outro sangre.

01 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Olá! Meus bons Amigos

Pois é, um dia tinha de acontecer. Hoje venho falar de política. Vivemos tempos difíceis, tumultuosos até. Poderia ser luta de ideias, mas é sobretudo, luta de interesses, muitos e ávidos interesses pessoais. Mas, enfim, ontem comecei o dia a escrever uma carta de amor e de amigo. Ou de despedida? Não sei, aguardemos o que me dirá o destinatário. Chamei-lhe, fim de uma viagem ou princípio de um caminho? Por vezes, temos também nas relações com os amigos, alguns espaços que são de, parar para pensar e escolher caminhos, antes que as coisas, e as coisas são as palavras e os actos, enveredem por atalhos sem saída e terminem com momentos que foram muito bonitos. Depois, voltei à política que ontem tínhamos um plenário, pois era preciso avisar toda a gente, segredar a palavra e a senha, engrossar a palavra corrente, duma força que nada a detenha. A intolerância dos homens sai-nos ao caminho numa qualquer curva da estrada. Emboscados, tentam surpreender-nos, sem ética, sem princípios, sem nada e é aqui que tenho dificuldade em gerir os sentimentos, pois estas são as veredas da vida que nunca me atreverei a seguir. Como canta o Pedro Barroso num dos seus belos poemas, a ilha para onde eu vou não tem qualquer registo, mas sei que viver lá é muito melhor que isto. Quer dizer, ando por aí a gerir silêncios e sobretudo, muitas solidões, porque uma coisa esta gente pequena pode ter a certeza, o meu combate de ideias e de busca de dignidade não se vai desviar do verdadeiro e único alvo, nem que tenha de ficar só nesse exprimir de vontades. Por isso, vos venho pedir desculpa por este desabafo matinal e pedir-vos licença para fazer um depoimento.

DEPOIMENTO

De seguro
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.

A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.

MIGUEL TORGA

"O átomo mais simples consiste num único electrão girando à volta de um núcleo composto por um só protão. Este é o átomo de hidrogénio, o elemento mais abundante encontrado na Natureza, que constitui 90 por cento de toda a matéria no Universo.
O neutrão é a outra partícula nuclear básica; não conduz qualquer carga eléctrica e não é afectado por forças eléctricas. No entanto, os neutrões são atraídos para os protões por intermédio da força nuclear, muito potente. Sob a influência desta atracção, um neutrão e um protão podem unir-se e formar um núcleo pesado, que pesa duas vezes mais que o protão. O novo núcleo possui uma carga positiva e, portanto, atrai um único electrão para si, formando um átomo semelhante a hidrogénio, mas duas vezes mais denso. Tal átomo é chamado hidrogénio pesado ou deutério."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"Se fosse o Toni Negri e o Michel Hardt corava de vergonha depois do 11 de Setembro. Este acontecimento veio provar que eles estão errados. Para o mundo inteiro é evidente que há um centro, e esse centro são os EUA, e que muita da globalização, nomeadamente no domínio da comunicação de massas, é uma americanização. E esse centro, quando vê que não consegue aguentar a sua hegemonia apenas com a economia, recorre aos meios militares."

BOAVENTURA SOUSA SANTOS, in "Manifesto", Novembro de 2002

Porto, 26 de Fevereiro de 2004

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