Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

31 outubro, 2010

LEITURAS


Há personagens peculiares e um sem-fim de referências literárias – que darão muito gozo ao leitor. A saber: Udo Berger, que sempre quis ser um grande escritor, mas que tem de se conformar em ser o campeão de jogos de guerra e estratégia de Estugarda, vai para o Hotel del Mar, na Costa Braca catalã, com a sua nova namorada, Ingeborg (nome de uma dax personagens de 2666). O objectivo é treinar-se para participar num novo jogo de estratégia, justamente o Terceiro Reich, e preparar-se para ganhar um torneio internacional. Eles compartilham as suas férias com um outro casal alemão, Charlie e Hanna, até que o primeiro destes desaparece misteriosamente depois de se cruzar com dois sinistros personagens que também levantam suspeitas nas autoridades locais: O Lobo e O Cordeiro. Entretanto, Udo Berger é perseguido por um detective estranho e sombrio e, atormentado por essa perseguição sem sentido, acaba por entrar em delírio com a «paisagem surreal da Costa Brava». Tudo isto acontece quando participa num jogo de vida ou morte com um personagem enigmático e de rosto desfigurado, O Queimado. Uma autêntica sinfonia de literatura, política, divertimento surreal, absurdo, gozo puro.

Roberto Bolaño, nasceu em 1953, em Santiago do Chile, filho de um camionista e de uma professora. A sua infância foi vivida em várias cidades chilenas (Valparaíso, Quilpué, Viña del Mar ou Cauquenes) e a passagem pela escola atormentada pela dislexia. Quando tinha quinze anos, a família mudou-se para a Cidade do México. Durante a adolescência leu vorazmente, escreveu poesia – e abandonou os estudos para regressar ao Chile poucos dias antes do golpe que depôs Salvador Allende. Ligado a um grupo trotsquista, foi preso pelos militares e libertado algum tempo depois. De volta ao México, fundou com amigos o Infra-Realismo, um movimento literário punk-surrealista, que consistia na «provocação e no apelo às armas» contra o establishment das letras latino-americanas e suas figuras de proa, de Octavio Paz a García Marquez. Nos anos setenta, Bolaño vagabundeou pela Europa – lavou pratos em restaurantes, trabalhou nas vindimas ou como guarda-nocturno de parques de campismo -, após o que se instalou em Espanha, na Costa Brava, com a mulher e os dois filhos. Aí, dedicou os últimos dez anos da sua vida à escrita. Fê-lo febrilmente, com urgência, até à morte (em Barcelona, em Julho de 2003), aos cinquenta anos. A sua herança literária é de uma grandeza ímpar, sendo considerado o mais importante escritor latino-americano da sua geração – e da actualidade.
Entre outros prémios, como o Rómulo Gallegos ou o Herralde, Roberto Bolaño já não pôde receber o prestigiado National Book Critics Circle Award, o da Fundación Lara, o Salambó, o Ciudad de Barcelona, o Santiago de Chile ou o Altazor, atribuídos a 2666, unanimemente considerado o maior fenómeno literário da última década.

Desde que o descobrimos Roberto Bolaño não deixa de nos surpreender a cada novo romance, pela ficção que cria, pelos personagens que desenha, pelas vidas que constrói, pelos pensamentos que coloca em cada um dos actores da sua história, conseguindo, ao mesmo tempo, que nos irritemos com a sua forma de estar, que os amemos ou que simplesmente nos tornemos incapazes de os compreender e o fim que alcança ou não se encontra no quadro que desejamos ou simplesmente não chegam ao fim, perdem-se algures entre dois caminhos e, entretanto, o livro chega ao fim.

25 outubro, 2010

POEMAS


Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
e não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
é ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
e dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

24 outubro, 2010

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Como já todos se aperceberam não sou entendido em arte. Claro que sei que Miguel Ângelo foi um grande pintor, que as pinturas da Capela Sistina são excepcionais, mas isto o comum dos mortais é capaz de dizer, por ter visto, por ouvir falar, ou por outra qualquer razão. Contudo, olho para algumas obras de arte com certo fascínio, seja, no âmbito da pintura, da escultura, do desenho, ou outra. No desenho ainda cheguei a esboçar algumas veleidades, mas não passou disso mesmo. Como dizia, em algumas ocasiões, olho e extasio-me quase sem saber explicar. Há na nossa empresa o gabinete de um Colega onde gosto de ir, exactamente pela existência de dois quadros na parede. Um é um desenho, simples, quase só dois traços, duas cores, o preto acinzentado e o branco. Nele, um sábio, e sábio para mim são aqueles homens, que a idade, a experiência, o saber e o conhecimento forneceram já a capacidade e o bom senso para não dizerem tolices, mas afirmarem, apenas após reflexão sobre as coisas e as pessoas, mas como dizia, um sábio apenas com uma túnica e um capuz com o dedo indicador apontado ao chão, está quase a completar o desenho de uma estrela de cinco pontas na terra ou na areia. Olho e sinto, o pensamento em acção, o encontrar de uma solução, ou a procura do mais além. Não se vê, mas percebe-se a imensidão do tempo e o silêncio e a solidão que tantas vezes acompanha o ser humano na sua marcha pela vida. O outro é uma festa medieval, com toda a alegria, o divertimento, a pândega, o lazer, a música e a bebida que sempre acompanha as gentes, sobretudo aquelas a quem, quase sempre tudo espoliam. Numa época de violência – será que a nossa não o é? – de sofrimento, de míngua e de carência, os seres humanos encontravam ainda forças para extravasarem sentimentos, contidos ao longo de meses e meses de demorado e intenso trabalho. Naquelas paredes, naqueles quadros aparecem assim estampados esses sentimentos contraditórios que alimento dentro da alma. A alegria colectiva, o festejo enquanto elemento cultural, o divertimento como lazer e do outro lado, o pensamento, a reflexão, o silêncio como elemento de construção. É assim que por vezes vejo a arte.

ÁGUAS DO RIO MANSOA

Doce fundo
onde repousa
o fim de um pensamento…

Doce fundo
onde se afoga
o soluço de um ausente…

Doce fundo
onde se esquece
um homem feito de nada…

Doce fundo
onde apodrece
uma árvore cortada…

Em sonhos
piso
essas margens inocentes.

Em sonhos
me lavo
nessas águas transparentes.

Porque
só turvo
é o coração dos Homens Vivos
feito pedra.

RITA OLIVAES, in “O Nosso Amargo Cancioneiro”

E pensei que todo o homem, sem o saber, procura sobretudo na mulher a lembrança do tempo em que a mãe o acolhia.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“Simples homem? Deus e Homem? Uma farsa? Uma ilusão? Sanders reafirmou a figura de um Cristo homem, simplesmente. No entanto, sem que o autor o quisesse, o leitor fica com a suspeita de que habitava em Jesus um mistério – e que só esse pode alimentar tanta polémica.”

JOÃO GAMA “Um judeu singular”, comentário sobre o livro “A Verdadeira História de Jesus” de E. P. Sanders, in “História”, Junho de 2005

Porto, 19 de Julho de 2005

23 outubro, 2010

LEITURAS


“À minha filha em França…” Estas palavras, ouvidas pela primeira vez aquando da leitura do testamento do irlandês Richard Kirwan, têm um efeito devastador dos seus filhos. Por sua vez, do outro lado do Canal da Mancha, o mundo perfeitamente ordenado de Solange de Valnay, de 24 anos, é também fortemente abalado. O homem que ela sempre considerou como pai não é, afinal, o seu pai verdadeiro? A mãe, única pessoa capaz de responder a tão inquietante pergunta, já morreu, e Solange decide rejeitar os seus meios-irmãos irlandeses. Mas a verdade é impossível de apagar, e a recém-descoberta família terá de ultrapassar as diferenças e enfrentar o passado.
Uma extraordinária história de paixões proibidas, de sacrifícios feitos por amor e pela honra, de coragem e heroísmo. Um drama histórico que se movimenta entre a França ocupada, a costa de Connemara e a região francesa das vinhas de Languedoc nos anos setenta.

Barbara e Stephanie Keating são irmãs, e cresceram no Quénia. Hoje, uma vive em França e a outra na Irlanda. Tal facto não impediu a criação deste primeiro romance “a quatro mãos”, que é um grande sucesso internacional.

Mão amiga trouxe até mim este romance cor-de-rosa. Está bem construído e lê-se bem, em férias. Retive uma frase das suas 430 páginas: “Minha querida, quando se toma uma decisão para toda a vida sobre um homem, a pergunta que se tem de fazer não é se se pode viver com ele, mas sim se alguma vez se poderia viver sem ele.”

14 outubro, 2010

POEMAS


Teus olhos

Olhos do meu Amor! Infantes loiros
que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
meus anéis, minhas rendas, meus brocados.

Neles ficaram meus palácios moiros,
meus carros de combate, destroçados,
os meus diamantes, todos os meus oiros
que trouxe d'Além-Mundos ignorados!

Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...

Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...

Florbela Espanca

09 outubro, 2010

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

No Porto temos uma festa a que dificilmente faltamos. Vivemo-la sempre, cada um à sua maneira. Muitos, muitos mesmo, saem à rua. Uns para passear, outros para se divertir, uns ainda, só para ver o fogo brilhar, em girândolas pelo céu e agora em disputa nas duas margens. Outros, festejam de qualquer forma. Chamo-lhe uma noite única e acredito que é, pois milhares de pessoas enchem as ruas, riem, brincam, toleram sem um azedume e com a familiaridade que o dia não permite e só aquela noite consente. E é interessante ver todas aquelas pessoas em turba a aproximarem-se da margem do rio sem que nada aconteça que altere o bem-estar que, de uma forma ou outra, todos sentem. Dispensa-se a polícia, quase ninguém se exalta e há sempre um sorriso para um balão que se perde no céu nocturno ou um lamento para um outro que se incendeia antes de alcançar a rota de cruzeiro. Agora até temos o Metro mais cheio de que quando vai para os grandes jogos do Dragão. Por outro lado, a festa estende-se também ao longo do rio e há fogueiras em todos os bairros e os que por alguma razão, desistiram de visitar a cidade na noite em que não dorme, encontraram forma de viverem até que a alva chegue, em torno de uma fogueira, por entre sardinhas assadas e um bom caldo verde. Há que aproveitar que a festa só se repete uma vez por ano. Lembrei-me esta manhã do S. João, talvez porque ontem as estrelas brilhavam tanto como os balões que enchem a noite do Porto na madrugada de 24 de Junho.

PEÇO SILÊNCIO

Agora deixem-me tranquilo.
Agora acostumem-se sem mim.

Eu vou cerrar os meus olhos.

Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.

A segunda é ver o Outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.

A terceira é o grave Inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.

Em quarto lugar o Verão
redondo como uma melancia.

A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
não quero dormir sem os teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a Primavera
para que me continues olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.

Agora se querem, podem ir.

Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro negro:
meu coração foi interminável.

Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa-se comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.

Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.

Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.

Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.

Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.

Deixem-me só com o dia.
Peço licença para nascer.

PABLO NERUDA, “Extravagário”, in “Presentes de um Poeta”

Cada um de nós pouca coisa sabe do amor, tal como os outros o entendem; o amor, para vós, talvez fosse apenas uma bondade apaixonada.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“A colecção do museu é um percurso pela história do coche, das carruagens, das berlindas, das caleches e dos carrinhos de passeio para crianças, ou das liteiras. Trata-se de uma viagem que começa naquela que é a mais antiga carruagem conhecida – a de Filipe II, construída em Espanha nos finais do século XVI.”

NAIR ALEXANDRA “Cem anos sobre rodas”, in “História", Junho de 2005

Porto, 18 de Julho de 2005

LEITURAS


Os espanhóis são conhecidos por ser entre os europeus o mais frontal dos povos. Então porque é que se mantiveram em silêncio acerca dos terrores perpetrados durante a Guerra Civil e a ditadura do General Franco? Este aparente «pacto de esquecimento» inspirou o escritor Giles Tremlett a embarcar numa viagem através de solo espanhol e da sua história. Por todo o lado ele encontrou os fantasmas de Espanha, e quase sempre em grande discussão. Quem provocou a Guerra Civil? Porque matam os terroristas bascos? Porque é que os catalães odeiam Madrid? Será que os bombistas islâmicos que mataram 190 pessoas em 2004 sonharam com o regresso do passado mourisco de Espanha? A curiosidade de Tremlett levou-o por estranhos e coloridos atalhos, e trouxe-lhe perspectivas inesperadas sobre a personalidade do povo espanhol.

Giles Tremlett é correspondente do Guardian em Madrid. Tem vivido em Espanha e escrito sobre este país quase ininterruptamente desde que fez a sua licenciatura há vinte anos na Universidade de Oxford.

Este livro, tal como Espanha, quer seja uma ideia ou uma realidade, proporcionou-me essa mistura de sedução e repulsa. Atrai-me a grandeza e afasta-me um certo ar imperial tão característico dos castelhanos. Não vou dizer que não foi um trabalho sério, antes pelo contrário, sente-se um grande esforço de informação e de investigação. Direi até, nos limites do meu conhecimento que nos mostra a realidade dessa Espanha cingida a Castela, mas espalha-se por completo quando aborda a questão das nacionalidades. A sua paixão por Espanha, conduz o autor à subestimação dos valores e símbolos de nacionalidade. Vulgariza e banaliza o que tentam fazer os espanhóis quando gritam que a Espanha é una e indivisível. Quando se tem de repetir muitas vezes o que uma coisa é, raramente é o que dizem. A Espanha é isso mesmo, apenas um Estado, não é, nem uma nação, nem tem um povo. O povo espanhol é tão verdadeiro como o foi o soviético ou o jugoslavo. Desapareceu com a o Estado. Por muito que doa aos castelhanos, isso também ocorrerá no seu Estado. Passaram os séculos e as nacionalidades não desapareceram, nem a sua língua, nem a sua cultura, nem as suas tradições, nem o seu desejo de auto-determinação. O autor apenas já no fim se aproxima da verdade quando afirma que as nacionalidades só podem ser compreendidas na sua verdadeira dimensão pelos próprios. Pena foi que não o tivesse dito no princípio.

05 outubro, 2010

POEMAS


Cantiga de Maldizer

Esta menina que eu sei
É como a rosa-dos-ventos:
Ora grita aqui-del-Rei,
Se alguém a vem namorar,
Ora maldiz os conventos
Onde o pai a quer guardar.
É um riso agradecido
E um pranto de se acabar.
Parece um fruto maduro,
Do outro lado do muro,
Com medo de ser comido
E medo de ali ficar.

Miguel Torga

03 outubro, 2010

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Nos últimos dias ao passear com os cães, à noite, vou olhando para o céu estrelado, dessas estrelas que a luminosidade das cidades ainda deixa ver. Uma delas brilha de uma forma especial junto a uma lua crescente. Parece isolada no interior do infinito. Houve tempos que esses momentos faziam-me sonhar. Não sei exactamente o que é sonhar, mas refiro-me àquela sensação de algo belo que ainda não vimos, mas sabemos que existe e que um dia será possível alcançar, mesmo que esse dia nunca chegue. Contudo, ultimamente não sinto com a mesma intensidade essa sensação de sonho. É como se algo continuasse a ser belo, mas um pouco arrefecido. Não sei explicar muito bem. É um pouco como aquela sensação que tenho no meio de uma festa em que todos estão felizes, mas prefiro estar ao lado a ajudar essa felicidade sem a viver com a intensidade dos restantes. Como se nos sentíssemos bem, sós, mas precisássemos de gente para que a solidão não ficasse sozinha. Um dia alguém utilizou a frase, “só entre as gentes” e agora veio a Isabel Allende escrever na sua última obra editada, “A multidão não o oprimia, porque no meio do tumulto encontrava sempre um lugar sereno para a sua alma” e desta forma sintetizou a resposta que tenho procurado. Imagino sempre o prazer de viver na aldeia, no entanto, de vez em quando preciso de descer à cidade. A alma sente-se bem só, mas de quando em vez necessita de companhia, nem que seja apenas para olhar e escutar alguém. Era um pouco isso que vi naquela estrela ao lado da lua. Gostava de estar assim como ela, só na imensidão do universo, desde que pudesse todas as manhãs, vir aqui conversar com os amigos.

AS ROSAS

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in “Cem Poemas de Sophia”

Deixei-me resvalar, não digo para essa felicidade (minha amiga, nós não somos felizes), mas antes para esse crime. No desejo de bem fazer, fui mais baixo do que se poderia imaginar: roubei-vos o vosso futuro. Não vos trouxe nada, nem sequer esse grande amor com que vós contáveis; as virtudes que havia em mim fizeram-se cúmplices dessa mentira; e o meu egoísmo foi tanto mais odioso quanto se julgou legítimo.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“Como foi possível isto acontecer há sessenta anos apenas? Se não foi uma selvajaria da “Idade das Trevas”, então o que foi que aconteceu naqueles anos negros da Europa dominada pelo nazismo?”

LAURO ANTÓNIO “A queda de Hitler e o fim do III Reich”, in “História", Junho de 2005

Porto, 15 de Julho de 2005

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