Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

28 agosto, 2008

POESIA


Olho a natureza e encontro-te
Abraço o mundo e amo-te.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Escrevo-te em crepúsculos sucessivos
procuro-te em amanheceres tranquilos
como os teus rios da vida
amo-te em rostos infinitos.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cintilas em tudo que mexe
princesa de um jardim de mistério
Ouço-te nas carícias do vento
como as folhas que giram
como as ondas que chegam
como as aves que gritam
És o cântico da vida
transportado em gotas
pela natureza.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Contemplo-te noite
Daqui,
deste momento
deste recanto
deste lugar.
Sinto-te noite
sem medo
sem tempo
sem ruído
Amo-te noite
porque trazes as estrelas
brilhas de luar
e acenas
com serpentinas
de vento
como carícias eternas.

05.11.07

25 agosto, 2008

POESIA AO AMANHECER


Olá! meus Amigos

Cá estamos de novo na serenidade destes dias primaveris.
Chegam-nos do Iraque notícias de assassínios e de torturas e vejo um conjunto de pessoas admiradas como se fosse uma anormalidade. Convenhamos, isso sempre foi a prática dos Estados Unidos, ditos "América". Desde o início. Desde a chacina dos autóctones, hoje chamada genocídio. Aquele é o único território que não pode ser descolonizado porque os colonizados foram eliminados. Os poucos que restam vivem em reservas como atracção turística. O resto da história são invasões de tudo o que é país na América Latina com um cortejo de mortes atrás. No Panamá existia uma dita Escola das Américas onde foram treinados todos os oficiais e torturadores dos governos ditatoriais latino-americanos com especial realce para os do Cone Sul, chilenos, bolivianos, paraguaios, argentinos e brasileiros. O Haiti e a República Dominicana foram invadidos diversas vezes e até a minorca ilha de Granada não escapou para evitar aquilo que os estrategos chamam de efeito dominó. O México ficou sem as suas províncias do Texas, Novo México, Califórnia e mais uma ou duas. Depois veio o Vietname o apogeu de tudo. Foi um morticínio de 1 milhão de pessoas pelos números mais baixos. Hoje é o Iraque. Um ano depois, há menos democracia que no tempo do ditador, há mais presos políticos, mataram mais gente que o ditador e cometem-se os mesmos assassínios e as mesmas torturas. Só que agora é em nome da liberdade. É uma farsa. No meio tiveram ainda essa intervenção "humanitária” onde levaram ao poder a chamada guerrilha Kosovar, bandos de contrabandistas de armas e de negócios de droga e de prostituição, expulsaram 300.000 sérvios e outros povos, mais uma vez em nome da liberdade.
Sejamos francos, a elite que governa em Washington é do ponto de vista moral, escória da sociedade, é gente que se o mundo fosse sério os julgava em Tribunal marcial. O resto é fogo de artifício. Terra da liberdade? É possível, mas de quem? Terra da democracia? Talvez, mas quem beneficia dela? Como dizia um certo sábio, uma questão mal colocada, só pode ter uma resposta errada. É tempo de colocarmos as questões certas.

"Por ti junto aos jardins de flores novas
me doem os perfumes da Primavera.
Esqueci o teu rosto, não me lembro das tuas mãos,
como beijavam os teus lábios?
Por ti amo as brancas estátuas adormecidas nos parques,
as brancas estátuas que não têm voz nem olhar.
Esqueci a tua voz, tua voz alegre, esqueci-me dos teus olhos.
Como uma flor ao seu perfume, estou atado à tua lembrança
imprecisa. Estou perto da dor como uma ferida,
se me tocas me causarás um dano irremediável.
Não me lembro mais do teu amor e no entanto te adivinho
atrás de todas as janelas.
Por ti me doem os pesados perfumes do estio:
por ti volto a espreitar os signos que precipitam os desejos,
as estrelas em fuga, os objectos que caem."

PABLO NERUDA, "Para nascer, nasci", in "Presentes de um Poeta"

" - Só as crianças é que sabem do que andam à procura - disse o principezinho."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"Desde Fevereiro de 2003, a região de Darfur, na parte Nordeste do Sudão, vem sendo dilacerada por um conflito político-económico que provocou já a morte de vários milhares de pessoas e em êxodo maciço de refugiados para o Chade. Esta catástrofe humanitária, a propósito da qual as Nações Unidas falam de «limpeza étnica», é muitas vezes eclipsada pelas frágeis conversações de paz entre o Norte árabe-muçulmano e o Sul cristão e animista, em confronto desde 1983 por causa do maná petrolífero. Em Darfur, de onde foram banidas a imprensa internacional e as organizações humanitárias, os combates assassinos recordam que a paz no Sudão não é apenas uma questão Norte-Sul mas uma equação nacional."

JEAN-LOUIS PÉNINOU, "Desolação em Darfur", in "Le Monde Diplomatique", Maio de 2004

Porto, 11 de Maio de 2004

24 agosto, 2008

LEITURAS


Pascal Mercier, um pseudónimo literário, nasceu em Berna, em 1944 e vive em Berlim. É professor de filosofia.
Este é o seu terceiro romance, publicado originalmente pela Hanser, depois de Perlmanns Schweigen (1995) e Der Klavierstimmer (1998).
Sob o seu verdadeiro nome, Peter Bieri, escreveu o ensaio Das Handwerk der Freiheit, traduzido em Espanha, em Itália e na Hungria.

Numa manhã chuvosa, uma mulher prepara-se para saltar de uma ponte, em Berna. Raimund convence-a a não fazê-lo, e consegue, mas depois a mulher desaparece. Tudo o que sabe é que é portuguesa. De tarde, entra numa livraria e, por acaso, descobre um livro de um autor português, Amadeu de Prado, que foi médico, poeta e resistente durante o salazarismo.
Raimund é, desde há muito tempo, professor de latim e grego, o que já o entusiasma tão pouco como o seu casamento, já em estado de desagregação. Aprende português e, uma noite, mete-se num comboio para Lisboa, uma cidade que irá ser o local de todas as revelações: dos mistérios da vida humana, da coragen, do amor e da morte.
Um livro que apetece reler lentamente, mal se acaba de ler.

Livro belíssimo sobre Portugal e os portugueses mesmo que a história quase não saia de Lisboa. Viagem por uma época de memória, dos homens e da sociedade que nos fala de amizades profundas, de amores apaixonados, de resistência, de ideais, da nobreza da vida e que nos empurrar para grandes momentos de reflexão sobre o que nos rodeia e sobre as grandes linhas da história humana. Um livro surpreende que nos arrebata para uma leitura que desejamos, ao mesmo tempo, que acabe e que não chegue ao fim.

06 agosto, 2008

POESIA


Este mar
mar imenso
que se estende para além do olhar
mar azul e de prata
mar de olhares que procuro
de rostos amados
e de sorrisos com ternura
mar intenso
que me lembra
terra e as terras
espaço e céu
por onde espalhas
essa magia
dos momentos únicos.
Este mar
que me atrai
como se em vez de água
tenha apenas um olhar.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Deixo-te mar
e é como se deixasse alguém
Deixo-te mar
e sei que deixo um olhar.

13.10.07

04 agosto, 2008

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

É verdade que nós temos a voz para nos exprimirmos e já não conseguimos imaginar como seria sem essa possibilidade de poder falar, dizer o que pensamos, gritar contra as injustiças, fazer apelos morais, defender ideias, podermos conversar. Claro que sem voz ainda podemos recorrer aos gestos e com as mãos e os membros superiores podemos ser suficientemente expressivos para nos compreenderem e até beleza podemos incorporar nesses gestos. Mas apesar de tudo é com o olhar que melhor falamos. Com o olhar, expressamos alegria e conseguimos mostrar até uma imensa alegria, ou tristeza, ou ainda chorar, derramar lágrimas que nos aliviam. Podemos chamar, dar sinais, demonstrar claramente que estamos apaixonados, podemos até seduzir com o olhar. Pois é. Aos Domingos de manhã vou até à beira-mar tomar um café e ler durante uns 60 minutos. Há umas semanas atrás, levantei a cabeça e encontrei um olhar perdido, daqueles que logo nos agarram e nos deixam a vaguear. Não sei identificá-lo muito bem, mas é um olhar negro, semi-cerrado como perturbado pela luminosidade, mas sobretudo visto assim como eu o vejo, é um olhar lindo. Lá tem aparecido todas as semanas e quando levanto a cabeça, lá estão aqueles olhos escuros perdidos entre o mar e algures e quando não o encontro já sinto saudades. Claro que o olhar tem rosto e corpo mas com essa parte ainda não me preocupei. Foi apenas o olhar que guardei e que lembro nas noites de chuva em que demoro a adormecer ou nas outras de céu estrelado em que os sonhos vagueiam à procura de destino.

MEU AMOR

De ti somente um nome sei, Amor,
É pouco, é muito pouco e é bastante
Para que esta paixão doida e constante
Dia após dia cresça com vigor!

Como de um sonho vago e sem fervor
Nasce assim uma paixão tão inquietante!
Meu doido coração triste e amante
Como tu buscas o ideal na dor!

Isto era só quimera, fantasia,
Mágoa de sonho que se esvai num dia,
Perfume leve dum rosal do céu...

Paixão ardente, louca isto é agora,
Vulcão que vai crescendo hora por hora...
Ó meu amor, que imenso amor o meu!

FLORBELA ESPANCA

" - Mas eles não estavam bem lá onde estavam?
- Nunca se está bem onde se está - disse o agulheiro."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"Recentemente libertados sem que contra eles pudesse ser formulada qualquer acusação, vários detidos britânicos presos em Guantanamo revelaram as torturas que lhes foram infligidas durante os longos meses de detenção. A base norte-americana é uma zona de não-direito onde, numa indiferença geral, permanecem encarcerados sete franceses. Enquanto isso, Paris continua a adoptar um baixo perfil, perante uma situação que configura uma flagrante violação dos direitos humanos. Por outro lado, um relatório da organização norte-americana Human Rights Watch, publicado a 9 de Março, denunciou com clareza o comportamento das tropas americanas no Afeganistão: violação do direito da guerra, uso desproporcionado da força, pilhagens, mortes suspeitas de civis, torturas em prisões, etc.. Para além da crítica de tais métodos, este texto suscita interrogações sobre o comportamento das tropas francesas que participam nos combates no Afeganistão ao lado das suas homólogas americanas. Será que cometem as mesmas exacções? Poderão as autoridades francesas estar, com o seu silêncio, a dar cobertura a crimes de guerra americanos? Este relatório, (...), foi significativamente ignorado pelos grandes media franceses, ou então simplesmente evocado em algumas linhas (ver o sítio Internet http://hrw.org/reports/2004/afghanistan/0304)."

Porto, 10 de Maio de 2004

03 agosto, 2008

LEITURAS


Amin Maalouf conduz-nos desta vez até aos mitos de uma Idade Média tardia onde o Renascimento convive com o poder territorial e político da Sublime Porta, guiando-nos pelas rotas comerciais e marítimas do mediterrâneo e do norte da Europa. O genovês Baldassare vai em viagem à procura de um livro que conterá o segredo do que de terrível há-de acontecer nesse ano final de 1666. Deixa a sua famosa livraria de uma cidade libanesa onde a sua família vive há várias gerações e segue até Londres na perseguição desse livro, o qual, quando é encontrado, nada lhe revelará pela cegueira que provoca a leitura das suas páginas. Pelo caminho, o genovês ama. Primeiro a libanesa que foi o amor da sua juventude e que desilusão lha trará um dia essa Marta, depois a inglesa Bess e, por fim, acaba a casar com uma adolescente da sua Génova para onde decide levar o fim dos seus dias. Das suas andanças e dos seus amores, Baldassare colheu, reflexões. “O que a presença dessa mulher apaziguou em mim não foi a sede carnal de um viajante, foi a minha angústia original. Nasci estrangeiro, vivi estrangeiro e morrerei estrangeiro ainda. Sou demasiado orgulhoso para falar de hostilidade, de humilhações, de rancor, de sofrimentos, mas sei reconhecer os olhares e os gestos. Há braços de mulheres que são lugares de exílio, e outros que são a terra natal”. Longe nos leva o genovês, mas dúvidas não temos que as mulheres que nos prendem não são de facto as que nos apaziguam a sede carnal, mas antes aquelas cujos braços nos acolhem e nos fazem sentir em casa, nessa casa onde sempre desejamos poder voltar, quer seja de uma longa ou de uma curta viagem. Já na parte final das suas andanças quando encontra a londrina Bess e após um diálogo com aquela mulher em várias línguas, diz-nos ainda: “Tínhamos, um e outro, necessidade de encontrar um ouvido amigo, e uma mão amiga. Falo disto com surpresa, porque acabo de descobrir, ao fim de quarenta anos de existência, a sensação de plenitude que podem proporcionar algumas horas passadas em comunhão íntima e casta com uma desconhecida”. De facto, não só uma mulher nos pode acolher no interior dos seus braços como lugar de refúgio como, sobretudo, nos pode proporcional momentos excepcionais pela sua presença, pela sua companhia, pelo seu diálogo, pelo seu saber, por essa troca de palavras em que nos dá a conhecer o mundo visto pelos seus olhos, sem que, algo mais, tenha necessariamente de fazer parte do diálogo.

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