Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

09 novembro, 2011

LEITURAS



Berlim, 1945. Os soviéticos avançam, implacáveis, pelas ruas repletas de escombros. Em toda a cidade a luta é violenta e a derrota alemã está iminente. Arturo Andrade está no meio de todo aquele caos. A sua missão: localizar Ewalde von Kleist, que acaba por encontrar morto na chancelaria do Reich com um misterioso bilhete no bolso.
Começa assim este thriller escrito com paixão e rigor documental que, com um ritmo que não dá tréguas ao leitor, nos aproxima de uma personagem que deverá enfrentar múltiplos demónios, os alheios e os próprios, para salvar a única coisa que parece escapar a este contexto atroz: o amor de uma mulher.


Ignacio Del Valle nasceu em Oviedo em 1971 e reside actualmente em Madrid. Dedica-se em exclusivo à escrita, tendo publicado cinco romances, todos eles alvo de excelentes críticas. Os Demónios de Berlim é o terceiro livro do autor editado em Portugal, depois do sucesso de O Tempo dos Imperadores Estranhos e de A Arte de Matar Dragões.


A leitura deste livro que começou por entusiasmar, despertar a atenção, chegou mesmo a apaixonar-nos a leitura, resvala já na parte final para falsidades históricas, oriundas apenas de um dos lados da guerra e que não podem ser suportáveis com um mínimo de razoabilidade. Já se compreende pouco que o autor tenha escolhidos um oficial falangista da Divisão Azul para o herói romântico, idealista, a lutar pelo bem dos outros, bem consubstanciado no final ao ser o único que fica sem nada, contrariamente aos restantes que saem bem da história e graças a ele, o herói Arturo Andrade. Já ao longo do livro, Ignacio Del Valle nos vai dando uma ideia que a aproximação do Exército Vermelho a Berlim, traz um rasto de sangue, de violência e de violações, para no final, traçar o cenário de um exército de assassinos a entrar em Berlim, como nos diz a páginas, 331: “E todos aqueles russos… Os frontoviki que formigavam pela cidade devastada, selvagens, melancólicos e infantis, saqueando e violando a seu bel-prazer, crendo-se vencedores,”. Não sabemos qual a intenção deste escritor asturiano, mas ao insistir sempre nesta tese, sem qualquer ponto positivo para a força armada que derrotou os nazis, está, mesmo que não o deseje, a passar a cor dos crimes nazis, incluídos os da Divisão Azul, a uma espécie de marca de água. Estão na imagem, mas quase apagados, nem com esforço se conseguem perceber. Convenhamos, até um analfabeto consegue compreender que se um exército após dois anos de derrotas, consegue crescer, organizar-se e percorrer 3 mil quilómetros a destruir a poderosa máquina de guerra alemão, tem de ser um exército disciplinado e rigoroso, não pode ser um escol de assassinos e violadores como nos conta Ignacio Del Valle. Não sabemos exactamente em que livros de história leu sobre A Batalha de Berlim, mas estamos em crer que deve ter efectuado demasiadas visitas ao Vale dos Caídos. Para a história de facto, ficaram os 20 milhões de soviéticos mortos, mais de um terço do total dos mortos. Foi pena, este desplante do escritor. Naturalmente que pode inventar e recriar as histórias que quiser e entender, pode alterar e adulterar a história ficcionando, mas não devia, em nosso entender, quanto mais pelo respeito pelos mortos, falsificar a história desta maneira. É verdade que grande parte dos soldados do Exército Vermelho eram camponeses, como também o eram, os dos outros países e quanto ao atraso, que desenvolvimento existia então nos restantes países? Mesmo descontando a desgraça da Guerra Civil, o que era então a vida humana em Leon y Castilla ou na Estremadura, ou na Calábria? Não vale a pena insistir, são escolhas. Apesar de tudo, o livro contém um bom enredo, um pouco no estilo de Indiana Jones, só que neste romance o herói está do lado dos maus e ainda o amor por Silke, pois o amor de uma mulher vale sempre a pena, mesmo quando, como tantas vezes acontece, nos foge por entre os dedos como a água que corre.

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