Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

20 setembro, 2011

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

Deixei que os dias passassem para que a minha ira se amolecesse um pouco, abrandasse nessa vontade de blasfemar de brandir desejos verbais de violência que ajudassem a amainar a impotência que resultou de ver o nosso país em chamas, populações dramaticamente abandonadas e bens tão elementares como a nossa casa, consumida por fogo devastador. Nós não merecemos viver num país eternamente dirigido por medíocres, por incompetentes e agora criminosos. De facto, o que se passou raia o âmbito do crime e se vivêssemos num país a sério aqueles que fingem que nos dirigem estariam sentados no banco dos réus. As imagens dramáticas que chegavam de Pombal, Leiria, Ourém ou Vila Pouca, com populações de balde na mão e mangueiras que debitavam gotas de água, aldeias rodeadas de chamas envoltas em novelas de fogo com o desespero a romper o peito das gentes rurais, correram a Europa e foram a imagem do país em que vivemos, a opulência das elites, politicamente corrupto e socialmente na miséria. Da Bélgica chegavam palavras de conforto de companheiros do Comité Europeu e de preocupação pelo nosso bem-estar face à dimensão da tragédia mostrada pela televisão da União. Enquanto isto, o Costa bradava que os meios eram suficientes, só quase faltava dizer que eram até de mais, quando ontem o coordenador de Leiria dizia que houve um momento em que os bombeiros já só tinham capacidade para acorrer às casas habitadas, abandonando a floresta à voragem de fogueiras incontroláveis, enquanto a A1 diversas vezes imobilizada dava a dimensão da incapacidade de quem nos devia governar. Como disse, merecemos viver num país melhor em que os incapazes ocupem apenas o lugar correspondente à sua dimensão liliputiana e não de parecerem grandes senhores que penhoram a comunidade e galopam nas costas do cidadão comum. Neste país de faz de conta, resta-nos atirar-lhes certeiramente com as palavras que merecem e no único dia em que a democracia nos concede voz, enviá-los para o contentor de lixo da história. Comecei por vos dizer que estava zangado, o que não se conforma com este dia cinzento, sossegado e monótono, mas a violência dos actos, por vezes faz transbordar o bom senso.

ADEUS

É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus...
Agora,
O remédio é partir discretamente,
Sem palavras,
Sem lágrimas,
Sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer
A humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
Antes de iniquidade
Consumada,
Um poema de lírico pudor,
Um sorriso amor,
E mais nada.

MIGUEL TORGA

Recear o futuro facilita-nos a morte.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“Após quarenta anos de dominação, o regime baasista de Damasco está a ser fortemente sacudido. Esta crise, acentuada pela «revolução» no vizinho Líbano, de onde a Síria foi obrigada a retirar-se, resulta sobretudo de causas internas..”

SAMIR AITA “Origens da crise baasista de Damasco ”, in “Le Monde diplomatique”, Julho de 2005

Porto, 10 de Agosto de 2005

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