Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

10 dezembro, 2010

LEITURAS


Juan Rulfo (México, 1917-1986) é talvez o autor sul-americano mais comentado, elogiado e imitado do século XX. Toda a sua obra literária conhecida, que reunida pouco ultrapassa as 300 páginas, é considerada como fundadora, origem de uma nova forma de literatura, que deu lugar a escritores como Gabriel García Márquez, um dos seus mais famosos e reconhecidos devedores. De Pablo Neruda a Carlos Fuentes, de Octávio Paz a Jorge Luís Borges e Juan Carlos Onetti, abundam os testemunhos de admiração dos seus pares e o assombro e desconcerto da crítica.
Em contraste com este enorme rumor a rodear a escassa obra de Rulfo, está o silêncio em que desapareceu o escritor desde a publicação, em 1955, de Pedro Páramo e até à sua morte, em Janeiro de 1986. Silêncio este apenas interrompido pela revelação esporádica, por parte de jornalistas, da iminente “saída” de uma nova novela, La cordillera, que acabou por se tornar mítica. As tentativas de explicar esta prematura interrupção da escrita de um dos mais marcantes escritores contemporâneos no auge da sua fama contribuiu para aprofundar a «lenda Rulfo», não faltando comparações com a de Rimbaud.
Este livro oferece ao leitor português, num único volume, o essencial da Obra de Juan Rulfo. Os livros que o compõem, «O llano em chamas» (1953), «Pedro Páramo» (1955), e a novela póstuma «O galo de ouro» (1980), foram revistos tendo em conta a sua edição crítica mais recente.

«Tive uma infância muito dura, muito difícil. Uma família que se desintegrou muito facilmente num lugar que foi totalmente destruído. Desde o meu pai e minha mãe, inclusive todos os irmãos de meu pai foram assassinados. Vivi, portanto, numa zona devastada. Não apenas de devassidão humana, mas devassidão geográfica. Nunca encontrei até à data uma lógica que explique tudo isto. Não se pode atribuir à Revolução. Foi mais uma coisa atávica, uma coisa do destino, uma coisa ilógica. Até hoje ainda não encontrei um ponto de apoio que me mostre porque nesta minha família sucederam nessa forma, e tão sistematicamente, essa série de assassinatos e de crueldades.»

in Los muertos no tienen ni tempo ni espacio, diálogo com Juan Rulfo.

Há autores que residem em nós como autênticos desconhecidos. Um dia, numa leitura, lemos o seu nome e a curiosidade fica-nos a sobrevoar o pensamento. Mais tarde, repete-se a sua presença. Posteriormente e por coincidência aparece editado em português e quando nos debruçamos sobre o que escreveu, sentimos o deslumbramento das grandes descobertas. Foi o que aconteceu. Deliciados percorremos um México desconhecido, enriquecido por personagens de um quotidiano de miséria, onde encontramos a dignidade e a ignomínia, esses valores que tanto convivem com a humanidade. Em curtos parágrafos, em frases que parecem construídas de palavras simples, percebemos a riqueza da grande escrita desenrola-se perante o nosso prazer quase atónito. E Juan Rulfo nem às 400 páginas chegou. Até onde chegaria se tivesse continuado?

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