Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

04 novembro, 2012

 

17 abril, 2012

POESIA

És agora o meu
silêncio
apenas e só esse vazio
nada

13 abril, 2012

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

Dizem-me que Portugal é um país pequeno e, de facto, se o pensarmos numa escala europeia ou em comparação com muitos dos países que nos estão próximos, temos de concluir que sim. Na verdade, um território que se pode hoje atravessar de norte a sul em meio-dia, seja de automóvel ou de comboio, não se pode dizer que seja grande. E assim sendo, quase seria lógico que a diversidade se encontrasse reduzida ao mínimo, mas não está. Não está, geograficamente. Veja-se o Minho, montanhoso, verde, belo. O interior transmontano e beirão, rude, fechado nas suas aldeias, quantas vezes, perdido no tempo gerindo a dureza de Invernos pesados. O vale do Vouga, extenso, plano, recortado por uma agricultura própria e estendendo-se pelas margens do Mondego. A Estremadura, imitando as montanhas do Minho, mas queimada já pelo ar do sul, o Ribatejo e o Alentejo, quase áridos de floresta, de planícies extensas e terra seca e, por fim, a serra Algarvia debruçada sobre o mar com aroma mediterrânico. Não está, também culturalmente, embora aqui as divisões sejam menores aparecendo mais claro uma unidade nortenha e outra a sul, com Coimbra em busca de identidade própria, sempre procurando distanciar-se, por vezes sobranceiramente com essa ideia da cidade do conhecimento. Não está ainda, linguisticamente, mesmo hoje apesar do grande movimento de pessoas, da uniformização de termos, a língua, melhor, os termos linguísticos são ainda sinónimo de caracterização do local de proveniência. Vejamos, a chamada reconquista levou os senhores do norte até ao Algarve. Foram 150 anos de conquistas e de expulsão de gentes, pelo menos das elites, gentes essas que tinham de deixar marcas ao fim de uma presença de 500 anos. Afastadas essas elites, morta muita da gente, algo ficou e como a tropa colonizadora que descia não era muita, acabou por se misturar, pelo que muito do que havia não desapareceu. Escondeu-se, disfarçou-se, mas não morreu, daí estas diferenças de hoje, quer nós queiramos, ou não. Afinal só lá vão 800 anos, pouco mais do que a totalidade da presença árabe no território. Perante tanta diversidade, é quase um milagre a sobrevivência da nação ao longo do tempo, sem fracturas, sem divisões, sem sobressaltos divisionistas, apenas regionalismos que se bem geridos e tratados podiam até ser saudáveis em termos de engrandecimento do todo, pois a competição não tem de ser necessariamente um factor desagregador. “Esqueci-me” dos Açores e da Madeira, mas foi propositado, pois esses são outros jardins à parte.

ARQUIVO


Tão baço o teu retrato
No álbum da lembrança!
Que vaga semelhança
Entre a imagem que vejo
E a dor que sinto!
Minto
Se te disser
Que te desejo ainda,
Que o meu instinto
Te reconhece e quer.
E sei que um dia me perdi
Em ti
Como se perde o homem na mulher.

MIGUEL TORGA

Amávamo-nos, porém, tanto quanto é possível amar sem paixão recíproca;

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“O Congresso Histórico de Famalicão deu a conhecer o primeiro texto escrito em galaico-português no seu território. Apenas um pequeno facto – mas que ajuda a viver o presente de forma exaltante e a imaginar um futuro de sucesso para os famalicenses.”

LUÍS FARINHA, “Famalicão terra com história ”, in “História”, Julho/Agosto de 2005

Porto, 23 de Agosto de 2005

02 dezembro, 2011

LEITURAS

Pontos que se bifurcam no caos, emoções que se propagam na sociedade como objectos fractais até ao infinito.
Em 1849 um italiano amigo de Garibaldi inventa um «telégrafo falante» em Havana. Chama-se António Meucci e é um génio absolutamente desprovido de sorte. Uma série de infortúnios usurpa-lhe o direito ao reconhecimento histórico e Graham Bell passa para os anais da história como o pai do telefone. Até que em 1993, o ano zero de Cuba, o ano de todos os apagões e de todas as carências, o ano em que os sonhos e o sexo se convertem nos únicos desideratos e prazeres de uma sociedade agastada, duas mulheres e três homens decidem entregar-se à demanda de um documento que devolva o inventor ao pedestal onde merece estar. Um labirinto de vontades que confluem no objectivo de encontrar um manuscrito e divergem no fim que lhe pretendem dar.



Karla Suárez nasceu em Havana, em 1969. É licenciada em Engenharia Electrónica profissão que continua a exercer. É autora de romances e contos. As suas obras estão traduzidas em vários idiomas, tendo algumas sido adaptadas à televisão e ao teatro em Cuba e em França. Foi diversas vezes bolseira de criação literária, e em 2007 foi seleccionada entre os trinta e nove jovens escritores mais representativos da América Latina. Depois de Roma e Paris, Karla Suárez vive actualmente em Lisboa.

Atrevo-me a escrever que este livro permite-nos uma leitura descontraída, há até um certo ar de brincadeira em toda a história que nos conta, e no entanto, um pouco por trás, quase sem darmos pela sua presença, o momento dramático da vida de um país, Cuba, no ano de 1993 quando quase tudo parou, após o colapso dos regimes socialistas da Europa de quem o país das Caraíbas tanto dependia, facto que aliado ao criminoso embargo dos EUA e aqui e ali algumas opções erradas na tentativa de construção de uma sociedade mais justa, naturais quando se experimenta, digamos, naturais se as soubermos corrigir, provocaram carências extraordinárias na sociedade e população cubanas, bem visíveis em alguns momentos do romance. Este é uma história de procura, de descoberta, de um documento, misturando-se relações humanas, amores, equívocos e no interior de tudo isto ficamos a conhecer, António Meucci, o verdadeiro construtor do telefone.

30 novembro, 2011

POESIA

Lugar,

é o espaço da memória

onde desenhamos os sentimentos,

o espaço do tempo

onde te procurei

o espaço geográfico

onde te encontrei

o espaço do sonho

onde te perdi

o espaço da vida

onde já não estás.

27 novembro, 2011

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

Pois, como podem ver, estou de volta. Cada vez mais sinto que as viagens me afastam provocando um desgaste e uma nostalgia que penso não sentia antes. É o tempo a deixar marcas, dizemos por vezes. É a idade a pesar em nós, dizemos outras, mas creio que não. Será antes esse movimento de encerrarmos a vida cada vez mais no interior de nós próprios, tornando-se cada vez mais difícil caminhar para além de um carreiro que se encontra apenas em redor de um curto espaço. Com toda esta envolvência lá fui até Faro e por lá andei quatro dias numa cidade que acorda tarde e levanta-se com lentidão. Há muito que já não trabalhava com este ritmo e serviu para comprovar que a máquina se desgastou. As experiências servem para isso mesmo, testar-nos um pouco, podermos ver-nos sem espelho, não como gostamos, mas como somos de facto. O regresso é sempre bom, tanto mais se está virado para norte. O abandono das planícies, da terra seca e do verde morto, trocado pelo verde das florestas, das montanhas que se sucedem, dos rios que rodeiam colinas e dos campos recortados em desenhos de encantar. Nem o cinza-negro da terra que a incompetência dos senhores do mando deixou queimar, arder numa fogueira quase medieval, apaga esse prazer de olhar e de sentir, os sons e as gentes. Acabaram-se os papos-secos e regressamos ao pão com manteiga,… até à próxima vez.

ROMANCE DE UM DIA NA ESTRADA

Andava, há já vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco outro forte
Que o dia em que não se come
É um dia a menos p’rá morte
Um dia fraco outro forte

Quando um barulho de cama
Ao voltar-se de impaciente
Me fez parar de repente
Era noite e o casarão
Não tinha lados nem frente
Dentro havia luz e pão
Me fez parar de repente

Ó da casa abram a porta
Fiz as luzes se apagarem
Cheguei-me mais à janela
Vi acender-se uma vela
Passos de mulher andarem
E uma mulher muito bela
Chegou-se mais à janela

Não tenhas medo não trago
Nem ódio nem espingardas
Trago paz numa viola
Coisa que não foi à escola
Mas aprendi nas estradas
O amor que te consola
Trago paz numa viola

Meu marido foi p’ra longe
Tomar conta das herdades
Ela disse companheiro
Eu disse vem, ela tu primeiro
Tu que me falas de estradas
Eu só conheço um carreiro
Ela disse companheiro

A contas com a nossa noite
Afundados num colchão
Entre arcas e um reposteiro
Descobrimos um vulcão
Era o mês de Fevereiro
E o Inverno se fez Verão
Descobrimos um vulcão

E eu que falava de estradas
E só conhecia atalhos
Ela a mostrar-me caminhos
Entre chaminés e orvalhos
Uma manhã sem agasalhos
Voltei a rumos sozinhos
E ela a mostrar-me caminhos

Andarei mais vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco outro forte
Que o dia em que se não come
É um dia a menos p’rá morte
Um dia fraco outro forte…

SÉRGIO GODINHO, in “O Nosso Amargo Cancioneiro”

(e a fortuna, minha amiga, não dá a felicidade, mas muitas vezes consente-a); herdaria também os vossos belos gestos, calmos, a vossa inteligência e esse luminoso sorriso que nos acolhe nos quadros franceses.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“Recusando estabelecer um calendário preciso para a retirada de Gaza e ameaçando com «represálias de novo tipo» nos Territórios Ocupados, o primeiro-ministro Ariel Sharon não abandona a sua política de força, assim alimentando os projectos mais extremistas do lado israelita, mas também do lado palestiniano. Na Cisjordânia, o ritmo das construções acelera-se, tendo aumentado 85 por cento no primeiro semestre de 2005.”

MERON RAPOPORT, in, “Retirar de Gaza para melhor conservar a Cisjordânia ”, in “Le Monde diplomatique”, Agosto de 2005

Porto, 22 de Agosto de 2005

25 novembro, 2011

LEITURAS



Havana, Verão de 2003. Passaram-se catorze anos desde que o desencantado tenente Mário Conde abandonou a polícia. Durante esse tempo, Cuba sofreu muitas transformações e Mário Conde – agora mais velho e com mais cicatrizes na pele e no coração – ganha a vida com a compra e venda de livros em segunda mão. A descoberta fortuita de uma valiosa biblioteca permite-lhe sonhar com um negócio magnífico, capaz de aliviar as suas dificuldades financeiras, mas num dos volumes encontrados aparece uma folha de uma revista, na qual uma cantora de boleros dos anos 50, Violeta del Rio, anuncia a sua retirada no auge da carreira. Atraído pela sua beleza e pelo seu misterioso afastamento, Conde inicia por sua conta e risco uma investigação que irá trazer à luz um passado turbulento, entaipado há mais de quarenta anos, tal como a fabulosa biblioteca.
Considerado um dos mais significativos representantes da literatura cubana actual, Leonardo Padura regressa com A neblina do Passado ao convívio com o detective Mário Conde e à crónica literária da vida quotidiana em Cuba. Mas este romance é também uma viagem à vida nocturna e à música da Havana dos anos 50, ao mundo dos livros, e uma espécie de descida ao inferno do submundo da capital cubana.


Leonardo Padura romancista, ensaísta, jornalista e argumentista, Leonardo Padura nasceu em Havana em 1955, tendo-se licenciado em literatura Hispano-Americana na universidade da capital cubana. No catálogo ASA figuram já as suas obras Morte em Havana, Paisagem de Outono, Ventos de Quaresma (todos eles na colecção “Noites Brancas”), Adeus, Hemingway (na colecção “Literatura ou Morte”) e O Romance da Minha Vida (na colecção “Romance”). A sua obra foi distinguida com inúmeros galardões, entre eles o Prémio Café Gijón 1995 para Morte em Havana, o Prémio Dashiell Hammett da Associação Internacional de Escritores de Romances Policiais em 1998 e 2006 para Paisagem de Outono e A Neblina do Passado, respectivamente, o Prémio da Crítica de Cuba em 2000 para Paisagem de Outono, o Prémio Internacional de Romance “Casa Teatro de Santo Domingo” para O Romance da Minha Vida e o Prémio Buchkultur para o Melhor Romance Policial do Ano na Áustria, em 2004, para Ventos de Quaresma.


Leonardo Padura, cubano, conheci-o nas Correntes d’ Escritas, na Póvoa de Varzim, levou-me agora em viagem por uma Havana em três momentos, o do passado, anterior à revolução, o do presente próximo agravado pelo isolamento criminoso dos EUA e pelo amor que é sempre idêntico em qualquer tempo e regime, mas o amor aparece aqui em dois vértices, o dos humanos, esse amor que nos arrebata a alma e os sentimentos e ainda o amor pelos livros, esse amor humano pelas palavras e quanta falta nos fazem, as palavras, para o outro amor, pleno de gestos, de afectos e de ternura. Unindo tudo isto, passado e presente, amor e livros, os seres humanos no enredo de uma história policial. um polícia que já não é, o comércio dos livros como sobrevivência, uma biblioteca que se descobre e contém a riqueza suprema do original cujo valor se assemelha ao ouro e uma notícia guardada entre páginas a mostrar a beleza de uma jovem mulher “aquele corpo que parecia feito à mão, aquela cara que lhe dava um enorme poder sobre os homens, aquela voz um pouco rouca, que convencia desde a primeira vez”, a apelar à curiosidade, à procura e vai levar à aventura da descoberta e será com o conhecimento do presente que se desvendará o mistério do passado. Pelo meio, amizades verdadeiras e amores que vivem no romantismo dos dias onde as agruras se vencem com o saber e a vontade comum. Há ainda Havana, a cidade, o malécon que todos já ouvimos cantar, em verso e em prosa, debruçado ao longo do mar e com mil histórias guardadas por contar, os cubanos e as Caraíbas e por sobre alguns nichos de miséria, material e moral que nos é descrita, há também o sonho dos cubanos.

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