Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

23 março, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

É verdade que a vida é feita de partidas e chegadas. Embora prefiramos sempre as chegadas às partidas, vivemos um tempo de partidas. Para já não falar de outras partidas em Outonos anteriores. Em Janeiro foi esse amigão do Júlio Soares que nos deixou ao fim destes anos todos. Assim de um dia para o outro, sem mais nem menos e sem podermos preparar-nos e por aí anda de quando em vez a enviar-nos um poema e uma saudação através de "Um Porto de Abrigo". Em Fevereiro partiu uma amiga. Uma espécie de crónica anunciada que chegou ao fim, mas deixou saudades e marcas. Embora estas fossem de uma amizade que já não existia, não é fácil perder uma amiga, até porque não se arranjam outras com facilidade. As amizades demoram tempo a encontrá-las, a construi-las a dar-lhes confiança, pelo que quando partem, é sempre uma perda. Por fim, amanhã, parte a Olga Cecília. Essa miúda que andou por aí vinte anos a aturar-me, aproveitou a chegada da Primavera e vai voar para um destino que ainda não definiu muito bem. Mas vai e os meus endereços vão ficar mais curtos, até que um dia, quiçá vou olhar para o lado e não terei a quem escrever. Pelo menos, nessa altura e enquanto puder, escreverei para mim próprio.

CANTAR ALENTEJANO

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão por
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem pr'a si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar.

JOSÉ AFONSO, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

"A ADN constitui o reservatório molecular da informação genética: a ordem segundo a qual os diferentes nucleótidos se dispõem ao longo da molécula ADN determina a espécie de proteínas que resultarão da fusão dos aminoácidos fundamentais; deste modo, a ADN controla a produção de proteínas, as quais, por sua vez, controlam a natureza do organismo. A ADN é, por conseguinte, a molécula mais importante da célula."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"No último meio século, a Turquia regressou à inspiração pró-islamita na condução da sua vida política. São os paradoxos do jogo democrático, ensaiados por um partido empenhado em banir a herança da revolução modernizante de Atatürk."

JOSÉ PEDRO TEIXEIRA FERNANDES, in "História", Março de 2004

Porto, 31 de Março de 2004

16 março, 2007

POESIA


Recordações

Hoje, voltei a percorrer as calçadas que marginam o rio,
à procura do teu sorriso sobrevoando o amanhecer
e do teu olhar
doce como as ameixas maduras
e límpido como as águas do mar.

Sei que não estás.
Partiste com o pôr-do-sol
para paragens que não ouso alcançar
Deixaste-me a noite iluminada
pela lua eterna e pelo brilho do meu chamar.

Estás longe e estás aqui
não te esqueço enquanto sinto o vento passar.
Procuro pelos cantos escondidos do silêncio
tenho-te a todo o instante e encontro-te por todo o lado.

Esta tarde respondeu a solidão ao meu chamamento
e, no entanto, vi-te passar rio abaixo
num barco sem ninguém
esfumando-se por entre névoas de fantasia.

Dia a dia, reúno forças para chegar onde tu estás,
subir as montanhas que me separam do mundo,
vencer as florestas da vida que não existe,
respirar o aroma trazido pelas gaivotas ao entardecer.

Diariamente, regresso só,
sentindo-te ao meu lado como uma miragem.
Afasto os fantasmas todos que me rodeiam
para que só tu estejas comigo
mas sempre
me chega o medo ao deitar
quando tens de partir para onde eu não posso ir.

Porto, Julho de 1997. A primeira das Canções Desesperadas

15 março, 2007

CONTOS


Que sensação de frescura ao abandonar o castelo, o ruído dos meus passos sobre a gravilha e a luz tímida atrás das nuvens com a mesma timidez com que me escondi de ti enquanto o olhar te enviava sinais de aviso como a luz do farol aos navios desprevenidos e tu olhavas, de quando em vez, quiçá aguardando o barco de auxílio que te protegesse até a um porto de abrigo, mas aquela luz emitida pelo brilho de lanternas ansiosas não rompia essa neblina de silêncio que se forma em torno da floresta dos meus desejos e as horas foram rolando e o castelo assombrando-se e nem a música por vezes alegre fazia soltar as amarras e levar-me, qual marinheiro, ao encontro de mares impossíveis, de cidades longínquas em países que não existem. Não, antes e como sempre, deixei-me levar pela maré, pela corrente que me arrastava para terra, como se o leme não funcionasse e a campainha de aviso não tocasse. Houve momento em que o barco ainda pareceu marear como um pássaro marinho vogando na expectativa do peixe que possa surgir, mas de novo regressou a esse desnorte nocturno, sem destino, sem comando, apenas levado pela corrente até à costa, rochosa e perdida. Quando tudo acabou era o silêncio de sempre, a nau naufragada e os destroços espalhados por uma praia de solidão. Nem cheguei a ver-te partir, dei apenas conta da tua ausência e, tarde de mais, pois nem um aceno sobrou. Agora, estás certamente perto. Perto e longe como se toda a vida tivesse de governar extremos e não seja capaz de os reunir, talvez na ternura dos olhares que me cativam, que me arrebatam o sossego e me transportam para mundos de fantasia. Amanhã, sim amanhã, talvez, como sempre a esperança a tentar vencer na madrugada o que a noite perdeu. Sim, pode ser que rompa da terra ao alvorecer da aurora e dela ainda fique um bonito adeus.

imaginações nas noites de inverno do ano de mil novecentos e noventa e sete

14 março, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Há dias dizia-vos que nada tinha para vos dizer, por nada ter acontecido. Grande distracção a minha, pois na véspera tinha convencido os meus amigos de almoço a percorrer um dos percursos dos Caminhos do Romântico. O século XIX em pleno coração da cidade aqui quase debaixo do nosso olhar. 500 mts de ruelas floridas com sossego, quintas antigas debruçadas sobre o Douro e o podermos caminhar como se estivéssemos quase na aldeia. Está aqui à mão de semear nas traseiras da Faculdade de Letras e que pode ser prolongada até ao rio. Aproveitem, num dia destes de Primavera em que esteja sol e o calor ainda não se faça sentir. Vão ver que vão gostar.

O AMOR

Amo o amor que se reparte
em beijos, leito e pão.

Amor que pode ser eterno
mas pode ser fugaz.

Amor que se quer libertar
para seguir amando.

Amor divinizado que vem vindo.
Amor divinizado que se vai.

PABLO NERUDA, "Crepusculário", in "Presentes de um Poeta"

"Existem vinte espécies diferentes de aminoácidos e cinco espécies de nucleótidos indispensáveis a todas as formas de vida na Terra. São os constituintes moleculares da matéria viva."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"A República Turca, arquitectada por Mustafa Kemal (Atatürk), baseava-se num projecto laico, fortemente inspirado pela Revolução Francesa. Contra ventos e marés, adoptou uma Constituição baseada nos regimes da Europa Ocidental."

JOSÉ PEDRO TEIXEIRA FERNANDES, in "História", Março de 2004

Porto, 30 de Março de 2004

13 março, 2007

POEMAS


Sonhos…

Esta tarde passeamos juntos pelas margens do Sena
Enquanto o sol planava ameno
o meu olhar acariciava-te de soslaio
como quem teme quebrar o encanto da tua presença

Foi longo o nosso passeio pelos limites desse rio famoso
e olhamos os dois o outro lado
Deste-me a mão para vermos os barcos subir a corrente
e senti o pulsar do mundo inteiro nesse contacto.
Foi como se o rio se abrisse num mar e me afogasse

Continuamos a andar enquanto falavas
e as tuas mãos desenhavam gestos
mas já não via nem escutava
sentia apenas a minha mão apertada com ternura
e os meus olhos mergulhados nos teus

Olhamos de longe o Trocadero
e deixaste que te abraçasse o corpo
e sentisse a leveza da pele desse teu rosto moreno
Falei e não ouvi. Apenas tu existias.

Disseram-me que tens aparecido muito bonita
com a beleza da juventude que só as mulheres possuem.
Tenho saudades de ti
como das flores que colhia nas montanhas para te trazer
nas noites de Inverno quando só o vento escutava os meus apelos

Mas isso foi ontem, ou amanhã
Hoje estás aqui, comigo
a descer os Campos Elísios quando o sol já partiu
e deste-me de novo a mão e senti esse néctar de mel
que emana de ti e me deixa silencioso

Agarro-te com força os dedos pequenos
olhas de lado, sorris e sinto-te contente
Alcançamos de novo a corrente das águas que vão para o oceano distante
abraço-te com doçura para não te perder
Estás aqui e estás longe, mas sinto-te sempre bela
Tenho-te hoje porque o mundo é meu
amanhã vou sentir-te partir de novo para lugares que não ouso alcançar
e
continuarei a seguir-te, a procurar-te, a tentar encontrar os atalhos que
possam levar às longas avenidas que conduzam a essa vida que
tanto desejo.

Paris, Junho de 1997. O poema de amor de entre sete canções desesperadas, enquanto vivia encontros imaginados

11 março, 2007

CONTOS

Estou aqui junto ao rio, neste recanto de terra fechado pelas árvores e pelos barcos, como se estivesse protegido. Tu conheces o rio, já o viste muitas vezes, sobretudo comigo. Quantas vezes já o olhamos juntos, mesmo à noite quando só as luzes da cidade perdida fazem adivinhar o escuro das águas que vagueiam à procura do mar. Dizes até que já amaste à sombra deste rio em madrugadas de estrelas. Que amaste e te amaram. Não sei, talvez seja verdade. Às vezes sinto dificuldade em adivinhar os teus sentimentos, ou a forma como os expressas. Dás tanta ênfase ao que gostarias que fosse, que acabo por não distinguir entre o teu desejo e a realidade que vives. Mas o rio, hoje, está belo, as águas estão límpidas e brilhantes e o sol reina por toda a parte. Há uma brisa, leve e doce que nos refresca. A corrente está baixa que o mar recuou e vêem-se as pedras e as rochas que atraiçoam os barcos enquanto as aves esvoaçam, abrindo as asas com preguiça, donas e senhoras do areal. Disseste que não podias vir como prometeras, tinhas um dia muito ocupado, muitos afazeres, muitos compromissos sociais. E para a semana está um pouco complicado, talvez só no Sábado. Queria falar contigo, mas com tempo, disseste tu. Se eu me importava, perguntaste ainda. Não, claro que não me importo. Também pouco adiantaria se me importasse. Afinal, foste sempre tu a marcar a agenda. Sabias que te esperava, como sempre te esperei, aliás. Mas hoje, esperava-te de uma forma diferente, com expectativa, pois temia que mesmo sem motivo te sentisses magoada, sei lá, apreensiva e, na vida, raramente adianta adiar os diálogos necessários. Tu também conheces estas verdades, mas geres estes momentos com um pensamento calculado. Sabes que com o tempo, provocas dependências, necessidades e, que com elas ao rubro, colherás algum benefício e assim pareces ficar alheia às angústias dos outros. Já tenho dificuldade de alimentar a ideia de um comportamento ingénuo. Não, não me parece que ainda vivas esse tempo de inocência. Conheces bem o efeito que provocas naqueles que se aproximam de ti. Um encontro, um café breve, nestas circunstâncias, permitiria acalmar os meus receios, mas preferiste adiar para um momento longínquo e indeterminado, sujeito ainda a um talvez dependente do humor de ocasião. É nestas pequenas coisas que as amizades se revelam na sua verdadeira plenitude, pois para além de tudo, serão sempre um acto de dar e receber, devem ser uma estrada com dois sentidos. Quando perguntavas se dois amigos não podem dar um abraço, quase não valia a pena dar resposta. Claro que podem e devem. Um abraço, um roçagar dos lábios, não tem de ser necessariamente, um gesto erótico, sensual, pode muito bem ser, apenas e só, um acto de ternura, a compensação de uma carência, um gesto de consolo. E foi apenas o que aconteceu naquela noite, de música, de palavras, de coincidências e de necessidades afectivas. Segundos de vida que guardamos para sempre. As amizades serão o que quisermos que sejam e alcançarão os patamares que para elas traçarmos. A amizade é um acto de companhia, de partilha, de compensação, de conforto, o de nos sentirmos bem com uma pessoa que sem nos perturbar, nos ajuda a caminhar na vida. Claro que a amizade também pode ser amor. Sempre disse que para existir amor tem de haver uma grande amizade. Não há assim razão para transformar um gesto num drama. Mas, de quando em vez, regressas, com essa carícia que transportas no olhar e de voz meiga semeias o desespero, rebentas com os diques da alma e, de seguida, afastas-te como se nada tivesses a ver com o assunto. Quanto a mim, por aqui fico, a curar as feridas da tua passagem, a acalmar uma memória em desassossego. Quando as águas do rio parecem domadas, retornas, leve e doce e despedaças tudo de novo. Já te disse com as palavras de Sofia,
“Eu não quero tocar teu corpo de água
nem quero possuir-te nem contar-te
pesa-me já demais a minha mágoa
sem que seja preciso procurar-te.”
No entanto regresso ao passado, ou o passado regressa a mim. Retrocedo ao silêncio das margens do rio e volto a engrossar esta torrente de água que desce da montanha com as lágrimas que sossegadamente baixam pelo interior do pensamento e escorrem em torno de ti. Não sei se te lembras ainda das angústias do passado, dos sentimentos que geravas com a alegria de que nada era contigo, como se não estivesses presente, como se não deixasses a paisagem destruída à tua passagem. Aqui e ali, em palavras soltas, revelas que sabes, que olhaste e viste, mas uma e outra vez, semeias as mesmas ondas de pânico. Pelo caminho negaste algumas verdades absolutas que tinhas escrito no universo do teu pensamento. Limitei-me à paciência de esperar e cheguei a partir enquanto desenhava poemas desesperados em quartos de hotéis espalhados pelo mundo. Um dia, recordando de novo Sofia, convenci-me da inutilidade de te procurar, já não te conhecia, já não me contavas os teus segredos, tinha morrido tudo em que acreditava e já não eras a amiga que amara. Em certa medida, vivia apenas com uma imagem que criara de ti para conforto da minha memória.
“Nunca te darei o tempo puro
que em dias demorados eu teci
pois o tempo já não regressa a ti
e assim eu não regresso e não procuro
o deus que sem esperança te pedi.”

E foi assim que me sobressaltaste de novo, quando frágil e de peito aberto planava pela vida, sem defesas, com os portões da alma escancarados e todos os mecanismos de protecção desarmados, surgiste com aquele sorriso nocturno, enchendo o rosto enquanto sussurravas ao ouvido melodias enfeitiçadas. E caí, derrubado por um tiro certeiro, sem uma palavra sem possibilidade de bater as asas e tentar voar. Agora por aqui estou, escrevendo cartas que não vais receber, só a ver passar as águas do rio em direcção ao oceano imenso, tentando através da palavra escrita, abafar a dor e esmagar esta vontade de te abraçar.
“Este é o traço que traço em redor do teu corpo amado e perdido”.

10 março, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

Hoje, aparentemente levantamo-nos mais cedo e ainda surpreendemos a madrugada a retirar-se. Viam-se nuvens e não sabíamos se eram de chuva. Estavam altas e em movimento, mas por entre as réstias que deixavam o dia foi espreitando. É o que se pode chamar, um amanhecer tranquilo.
Pois, o fim de semana, valeu pelo Sábado e uma longa caminhada pelo interior das montanhas do Gerês, mais propriamente da Serra Amarela na tentativa frustada de alcançar os retransmissores do Muro. As cores das árvores e das plantas, o azul das imensas lagoas, o céu a brilhar em todo o esplendor, o cheiro da natureza, o ambiente de sossego e silêncio, as pedras milenares, a descoberta do caminho e até a noite que nos surpreendeu tornaram em magia a fantasia da aventura. O cansaço apaga-se perante coisas tão grandiosas. Não percam os próximos episódios.

SONETO

Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.

Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E ainda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.

Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saudades me atormento;

Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.

JOSÉ ALBANO

"Julga-se que o Sistema Solar terá tido inicialmente a forma de uma difusa nuvem de gás cuja coesão se devia à sua própria força gravitacional. O raio original dessa nuvem era aproximadamente de 16 biliões de quilómetros."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"A verdade é que hoje, no terreno mediático, vivemos numa selva em que os vários poderes mais subterrâneos ou mais visíveis se vão defrontando, muitas vezes em prejuízo da Lei. Por isso continuo a dizer que o elo mais fraco é o elo da Lei, é o Estado de Direito."

ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA, in "Manifesto", Abril de 2003

Porto, 29 de Março de 2004

09 março, 2007

POEMAS


Trazia-te inteira no olhar
inteira e bonita como apareceste hoje.
E aqui vim
para te escrever um poema.
Palavras não vi, inspiração não encontrei.
Mas houve poesia
porque hoje
o poema
eras tu.

14 de Fevereiro de 2006

08 março, 2007

LEITURAS


Há umas semanas atrás deliciei-me com a leitura das viagens do Gonçalo Cadilhe. Desta vez, foi “A Lua Pode Esperar”. Na verdade, com tantas surpresas para descobrir na Terra, porque razão haveríamos de viajar para a lua? No fundo, este jovem já homem vai realizando as viagens que nunca conseguirei fazer. Não que não as almejasse, mas faltam-me diversos fôlegos. Logo de início faz-nos uma descrição do sonho quase perfeito a caminho da Patagónia. A paragem nas pequenas cidades, lugares quase isolados, o Estreito de Magalhães e aquela parte inóspita e que me seduz de uma forma extraordinária, que é a Terra do Fogo. A subida pelo Chile, o encontro com a Teresa e o Rodrigo que seduzidos pelos seus relatos, deitaram os pés ao mundo e desceram os Andes. A passagem por Temuco a cidade do poeta e os meus olhos a beberem todos aqueles lugares com a saudade de nunca os ter conhecido. Ainda recordo a subida ao lugar mais sagrado do Império Inca no esplendor dos Andes, mas retenho depois as imagens de uma ilha, a Nova Zelândia. É um vasto e montanhoso território, mas deixa-me uma sensação de isolamento, de solidão longe de tudo e de montanhas que se despem sobre o Pacífico. O livro é uma sucessão de sons, de imagens e de cores. Sentimo-las na civilizada Europa, na longínqua Ásia, na miséria escandalosa da América Latina ou na remota Oceânia. Sentimos que percorremos a vida dos povos e a cada momento encontramos alguém feliz num recanto perdido do globo. Para quem gosta de viajar, sonhar com o desconhecido, imaginar que um dia pode colocar uma mochila às costas e partir olhando apenas para a frente, este é um livro recomendado.

Free Web Counter
Site Counter