CONTOS
Que sensação de frescura ao abandonar o castelo, o ruído dos meus passos sobre a gravilha e a luz tímida atrás das nuvens com a mesma timidez com que me escondi de ti enquanto o olhar te enviava sinais de aviso como a luz do farol aos navios desprevenidos e tu olhavas, de quando em vez, quiçá aguardando o barco de auxílio que te protegesse até a um porto de abrigo, mas aquela luz emitida pelo brilho de lanternas ansiosas não rompia essa neblina de silêncio que se forma em torno da floresta dos meus desejos e as horas foram rolando e o castelo assombrando-se e nem a música por vezes alegre fazia soltar as amarras e levar-me, qual marinheiro, ao encontro de mares impossíveis, de cidades longínquas em países que não existem. Não, antes e como sempre, deixei-me levar pela maré, pela corrente que me arrastava para terra, como se o leme não funcionasse e a campainha de aviso não tocasse. Houve momento em que o barco ainda pareceu marear como um pássaro marinho vogando na expectativa do peixe que possa surgir, mas de novo regressou a esse desnorte nocturno, sem destino, sem comando, apenas levado pela corrente até à costa, rochosa e perdida. Quando tudo acabou era o silêncio de sempre, a nau naufragada e os destroços espalhados por uma praia de solidão. Nem cheguei a ver-te partir, dei apenas conta da tua ausência e, tarde de mais, pois nem um aceno sobrou. Agora, estás certamente perto. Perto e longe como se toda a vida tivesse de governar extremos e não seja capaz de os reunir, talvez na ternura dos olhares que me cativam, que me arrebatam o sossego e me transportam para mundos de fantasia. Amanhã, sim amanhã, talvez, como sempre a esperança a tentar vencer na madrugada o que a noite perdeu. Sim, pode ser que rompa da terra ao alvorecer da aurora e dela ainda fique um bonito adeus.
imaginações nas noites de inverno do ano de mil novecentos e noventa e sete
imaginações nas noites de inverno do ano de mil novecentos e noventa e sete
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