Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

27 novembro, 2011

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

Pois, como podem ver, estou de volta. Cada vez mais sinto que as viagens me afastam provocando um desgaste e uma nostalgia que penso não sentia antes. É o tempo a deixar marcas, dizemos por vezes. É a idade a pesar em nós, dizemos outras, mas creio que não. Será antes esse movimento de encerrarmos a vida cada vez mais no interior de nós próprios, tornando-se cada vez mais difícil caminhar para além de um carreiro que se encontra apenas em redor de um curto espaço. Com toda esta envolvência lá fui até Faro e por lá andei quatro dias numa cidade que acorda tarde e levanta-se com lentidão. Há muito que já não trabalhava com este ritmo e serviu para comprovar que a máquina se desgastou. As experiências servem para isso mesmo, testar-nos um pouco, podermos ver-nos sem espelho, não como gostamos, mas como somos de facto. O regresso é sempre bom, tanto mais se está virado para norte. O abandono das planícies, da terra seca e do verde morto, trocado pelo verde das florestas, das montanhas que se sucedem, dos rios que rodeiam colinas e dos campos recortados em desenhos de encantar. Nem o cinza-negro da terra que a incompetência dos senhores do mando deixou queimar, arder numa fogueira quase medieval, apaga esse prazer de olhar e de sentir, os sons e as gentes. Acabaram-se os papos-secos e regressamos ao pão com manteiga,… até à próxima vez.

ROMANCE DE UM DIA NA ESTRADA

Andava, há já vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco outro forte
Que o dia em que não se come
É um dia a menos p’rá morte
Um dia fraco outro forte

Quando um barulho de cama
Ao voltar-se de impaciente
Me fez parar de repente
Era noite e o casarão
Não tinha lados nem frente
Dentro havia luz e pão
Me fez parar de repente

Ó da casa abram a porta
Fiz as luzes se apagarem
Cheguei-me mais à janela
Vi acender-se uma vela
Passos de mulher andarem
E uma mulher muito bela
Chegou-se mais à janela

Não tenhas medo não trago
Nem ódio nem espingardas
Trago paz numa viola
Coisa que não foi à escola
Mas aprendi nas estradas
O amor que te consola
Trago paz numa viola

Meu marido foi p’ra longe
Tomar conta das herdades
Ela disse companheiro
Eu disse vem, ela tu primeiro
Tu que me falas de estradas
Eu só conheço um carreiro
Ela disse companheiro

A contas com a nossa noite
Afundados num colchão
Entre arcas e um reposteiro
Descobrimos um vulcão
Era o mês de Fevereiro
E o Inverno se fez Verão
Descobrimos um vulcão

E eu que falava de estradas
E só conhecia atalhos
Ela a mostrar-me caminhos
Entre chaminés e orvalhos
Uma manhã sem agasalhos
Voltei a rumos sozinhos
E ela a mostrar-me caminhos

Andarei mais vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco outro forte
Que o dia em que se não come
É um dia a menos p’rá morte
Um dia fraco outro forte…

SÉRGIO GODINHO, in “O Nosso Amargo Cancioneiro”

(e a fortuna, minha amiga, não dá a felicidade, mas muitas vezes consente-a); herdaria também os vossos belos gestos, calmos, a vossa inteligência e esse luminoso sorriso que nos acolhe nos quadros franceses.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“Recusando estabelecer um calendário preciso para a retirada de Gaza e ameaçando com «represálias de novo tipo» nos Territórios Ocupados, o primeiro-ministro Ariel Sharon não abandona a sua política de força, assim alimentando os projectos mais extremistas do lado israelita, mas também do lado palestiniano. Na Cisjordânia, o ritmo das construções acelera-se, tendo aumentado 85 por cento no primeiro semestre de 2005.”

MERON RAPOPORT, in, “Retirar de Gaza para melhor conservar a Cisjordânia ”, in “Le Monde diplomatique”, Agosto de 2005

Porto, 22 de Agosto de 2005

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