Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

12 abril, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos e leais Companheiros

Como vos dizia ontem, o meu endereço reduziu-se em dois nomes e assim espero que continue por bons e longos anos. Hoje amanheceu assim como se estivéssemos no fim da tempestade, como se a bonança estivesse para breve. Ontem deu-me para sair às 16 horas e como já há muito não acontecia, fui por esse mundo fora à procura de gentes e de lugares em busca da diferença e das paisagens, nessa contemplação das coisas e das pessoas, deixar que os outros espaços e tempos alcancem o nosso e tentar encontrar respostas nessa mistura. Já estava desabituado era de tanto automóvel e filas de trânsito, mas ainda cheguei a tempo de ver a esperteza sucumbir à organização, à força colectiva, à disciplina e concentração na concretização do objectivo. Portugueses e quanto basta.

PERPLEXIDADE

Hesito no caminho,
Ninguém segue este rumo...
É noutra direcção
Que o vento leva o fumo
Das paixões...
Chegar, sei que não chego,
De nenhuma maneira;
Mas queria ao menos ir no lírico sossego
De quem não se enganou na estrada verdadeira.

MIGUEL TORGA

"A existência dos vírus torna mais verosímil a noção de que a vida evoluiu a partir de substâncias químicas inanimadas: o vírus situa-se na fronteira entre a matéria viva e as moléculas inanimadas; constitui a mais elementar e a mais pequena das partículas vivas."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"Face ao primeiro desaire de 1987 a Turquia rearmou-se, nos anos seguintes, com pesados argumentos histórico-culturais para justificar a sua identidade europeia. Deste modo, procura convencer os Estados europeus da necessidade da sua adesão à U.E.."

JOSÉ PEDRO TEIXEIRA FERNANDES, in "História", Março de 2004

Porto, 01 de Abril de 2004

10 abril, 2007

POESIA


Para que não partas

Os dias continuam a passar por mim
ignorando a angústia da tua ausência
como se não estivesse aguardando
que os deuses se revoltem

Continuas a seguir os meus passos
nos sonhos das noites eternas
ou nos dias imensos do amanhã
como se fosse verdade que vais chegar

Hoje voltaste a aparecer
na curva dum atalho duma montanha esquecida
Abracei-te com a vontade
que só acalenta os seres que amam.
Ah! como és bela
como gosto de ouvir as palavras
pronunciadas por essa tua voz rouca
perdendo-se em planícies longínquas
e regressando sempre à minha memória
fazendo-me companhia
quando a solidão desliza pelo silêncio dos crepúsculos
em busca de um gesto que nos ampare.

Estava sol quando chegaste
e não consigo afastar esta minha tristeza
Só tu, só esse teu sorriso,
que me lembra os montes de açucenas
onde guardei a minha infância,
me faz sossegar,
serenar a alma amargurada.

Por isso, hoje não me despedi de ti
vi-te partir, acreditando que ficavas.
Eu sei,
eu sei, que o sol te vem buscar todas as tardes
e te leva numa longa viagem pela noite.
eu sei
mas não quero acreditar.

Porto, Julho de 1997. A segunda das Canções Desesperadas

05 abril, 2007

LEITURAS


A última das leituras vagarosas que faço teve como tema, o Islão, o islamismo e o fundamentalismo islamita. O livro, “A Fé em Guerra”, foi-me recomendado no início de Janeiro e li-o com prazer e a sensação da descoberta. O autor, Yaroslav Trofimov, deixou a Ucrânia aos 15 anos e acabou por casar com uma judia que havia deixado Tripoli. Vivem em Roma e em 1999 tornou-se correspondente do Wall Street Journal. Desde 2001 percorreu diversos países onde predomina a religião muçulmana, desde o Mali ao Afeganistão, passando pelo Iémen, o Iraque, o Líbano, a Arábia Saudita, entre outros países. Procurou em cada um dos locais que visitou, contactar e conhecer os diversos aspectos da vida quotidiana e o que move o homem simples como é vulgo dizer-se, o homem da rua, quais os seus sentimentos para com a religião, para com a tradição e a fé, para com os valores exteriores, para com a vida, tal como a sentimos no que chamamos Ocidente. É interessante seguir o percurso feito pelo jornalista, realçando, pelo facto de me tocar de forma particular, embora também tenha a ver com o momento actual, as visitas ao Líbano, ao Iraque e ao Afeganistão. A visita ao Líbano e ao Hezbollah dois anos antes dessa extraordinária guerra de resistência protagonizada por esta organização, ajuda-nos a compreender melhor o presente. É certo que o jornalistas deixa, aqui e ali, vir ao de cima alguns dos tiques europeus quando não queremos compreender porque razão o resto do mundo não comunga das nossas opiniões, mas no essencial e no conjunto das suas reportagens, deixa-nos a ideia de que estamos perante uma pessoa séria que tenta entender o que o rodeia e procura transmitir para os que o lêem o máximo de rigor na realidade que o observa. O acompanhar dos primeiros dias e semanas da guerra contra o Iraque é bem elucidativo do que está a acontecer hoje, mas no Afeganistão tive uma grata surpresa. Para além de nos trazer uma visão bem viva do que está suceder, não deixa de relatar o diálogo com o guia que o acompanha e do que este pensava da presença do Exército Vermelho e do regime do PPD afegão que então estava no poder. É que esses quinze anos em que o Afeganistão progrediu se tornou uma sociedade laica e instruída e de grande liberdade para os homens e mulheres desse martirizado país, principalmente das grandes cidades, nomeadamente Cabul, têm sido cuidadosamente silenciados, eliminados das páginas dos analistas e de toda essa gente séria de fato e gravata que nos invade diariamente a mente para nos incutir verdades absolutas. A prova de que esse regime tinha o apoio popular, é que o regime do PPD sobreviveu durante três anos após a retirada das tropas soviéticas e só o apoio maciço desse país da democracia que são os EUA aos, agora terroristas, talibans e a todas as outras seitas de senhores da guerra que hoje se encontram sentados em Cabul, em Kandaar ou em Herat, nas cadeiras do poder.
Tenho observado o Islão ao longo dos anos e não comungo dessa visão Ocidental de que daquele lado estão os maus e do lado desta democracia, os bons, os inocentes, os pobres coitados, os salvadores morais do mundo. Se pensarmos no mundo árabe o que encontramos são países saídos há décadas do colonialismo e que ainda não tiveram oportunidade de criar vivências sólidas e estáveis e que não conseguiram conciliar, a não ser através de violenta repressão, o saque praticado por alguns grupos minoritários sentados no poder e a miséria, as dificuldades e as aspirações de milhões de deserdados que abundam nessas sociedades. É esse desespero que ajuda os fundamentalistas a aproximarem-se do poder, mas entre estes e alguns governos autocráticos, venha o diabo e escolha. Mas têm sido essas massas anónimas e cansadas de esperar que se erguem contra os poderes constituídos, Essa falta de esperança aliada a um certo fanatismo religioso, a um extremismo no interpretar a fé, geram um rastilho de fogo que teve na Argélia uma espiral de dor e no Iraque uma girândola de violência que a alma dos homens já não consegue suportar.
Ainda transporto na memória essa construção de tolerância que tenho encontrado na sociedade árabe desde os tempos medievais se a compararmos com a violência da época e a das outras sociedades religiosas, ideia essa que prolonguei pelo Império Otomano. Só assim se compreende que ao longo de séculos ali se tenham acolhido grandes comunidades judias, as quais só a intolerância do actual Estado de Israel conseguiu expulsar.
Foi, portanto, uma agradável leitura e, recomenda-se.

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