Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

30 novembro, 2011

POESIA

Lugar,

é o espaço da memória

onde desenhamos os sentimentos,

o espaço do tempo

onde te procurei

o espaço geográfico

onde te encontrei

o espaço do sonho

onde te perdi

o espaço da vida

onde já não estás.

27 novembro, 2011

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

Pois, como podem ver, estou de volta. Cada vez mais sinto que as viagens me afastam provocando um desgaste e uma nostalgia que penso não sentia antes. É o tempo a deixar marcas, dizemos por vezes. É a idade a pesar em nós, dizemos outras, mas creio que não. Será antes esse movimento de encerrarmos a vida cada vez mais no interior de nós próprios, tornando-se cada vez mais difícil caminhar para além de um carreiro que se encontra apenas em redor de um curto espaço. Com toda esta envolvência lá fui até Faro e por lá andei quatro dias numa cidade que acorda tarde e levanta-se com lentidão. Há muito que já não trabalhava com este ritmo e serviu para comprovar que a máquina se desgastou. As experiências servem para isso mesmo, testar-nos um pouco, podermos ver-nos sem espelho, não como gostamos, mas como somos de facto. O regresso é sempre bom, tanto mais se está virado para norte. O abandono das planícies, da terra seca e do verde morto, trocado pelo verde das florestas, das montanhas que se sucedem, dos rios que rodeiam colinas e dos campos recortados em desenhos de encantar. Nem o cinza-negro da terra que a incompetência dos senhores do mando deixou queimar, arder numa fogueira quase medieval, apaga esse prazer de olhar e de sentir, os sons e as gentes. Acabaram-se os papos-secos e regressamos ao pão com manteiga,… até à próxima vez.

ROMANCE DE UM DIA NA ESTRADA

Andava, há já vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco outro forte
Que o dia em que não se come
É um dia a menos p’rá morte
Um dia fraco outro forte

Quando um barulho de cama
Ao voltar-se de impaciente
Me fez parar de repente
Era noite e o casarão
Não tinha lados nem frente
Dentro havia luz e pão
Me fez parar de repente

Ó da casa abram a porta
Fiz as luzes se apagarem
Cheguei-me mais à janela
Vi acender-se uma vela
Passos de mulher andarem
E uma mulher muito bela
Chegou-se mais à janela

Não tenhas medo não trago
Nem ódio nem espingardas
Trago paz numa viola
Coisa que não foi à escola
Mas aprendi nas estradas
O amor que te consola
Trago paz numa viola

Meu marido foi p’ra longe
Tomar conta das herdades
Ela disse companheiro
Eu disse vem, ela tu primeiro
Tu que me falas de estradas
Eu só conheço um carreiro
Ela disse companheiro

A contas com a nossa noite
Afundados num colchão
Entre arcas e um reposteiro
Descobrimos um vulcão
Era o mês de Fevereiro
E o Inverno se fez Verão
Descobrimos um vulcão

E eu que falava de estradas
E só conhecia atalhos
Ela a mostrar-me caminhos
Entre chaminés e orvalhos
Uma manhã sem agasalhos
Voltei a rumos sozinhos
E ela a mostrar-me caminhos

Andarei mais vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco outro forte
Que o dia em que se não come
É um dia a menos p’rá morte
Um dia fraco outro forte…

SÉRGIO GODINHO, in “O Nosso Amargo Cancioneiro”

(e a fortuna, minha amiga, não dá a felicidade, mas muitas vezes consente-a); herdaria também os vossos belos gestos, calmos, a vossa inteligência e esse luminoso sorriso que nos acolhe nos quadros franceses.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“Recusando estabelecer um calendário preciso para a retirada de Gaza e ameaçando com «represálias de novo tipo» nos Territórios Ocupados, o primeiro-ministro Ariel Sharon não abandona a sua política de força, assim alimentando os projectos mais extremistas do lado israelita, mas também do lado palestiniano. Na Cisjordânia, o ritmo das construções acelera-se, tendo aumentado 85 por cento no primeiro semestre de 2005.”

MERON RAPOPORT, in, “Retirar de Gaza para melhor conservar a Cisjordânia ”, in “Le Monde diplomatique”, Agosto de 2005

Porto, 22 de Agosto de 2005

25 novembro, 2011

LEITURAS



Havana, Verão de 2003. Passaram-se catorze anos desde que o desencantado tenente Mário Conde abandonou a polícia. Durante esse tempo, Cuba sofreu muitas transformações e Mário Conde – agora mais velho e com mais cicatrizes na pele e no coração – ganha a vida com a compra e venda de livros em segunda mão. A descoberta fortuita de uma valiosa biblioteca permite-lhe sonhar com um negócio magnífico, capaz de aliviar as suas dificuldades financeiras, mas num dos volumes encontrados aparece uma folha de uma revista, na qual uma cantora de boleros dos anos 50, Violeta del Rio, anuncia a sua retirada no auge da carreira. Atraído pela sua beleza e pelo seu misterioso afastamento, Conde inicia por sua conta e risco uma investigação que irá trazer à luz um passado turbulento, entaipado há mais de quarenta anos, tal como a fabulosa biblioteca.
Considerado um dos mais significativos representantes da literatura cubana actual, Leonardo Padura regressa com A neblina do Passado ao convívio com o detective Mário Conde e à crónica literária da vida quotidiana em Cuba. Mas este romance é também uma viagem à vida nocturna e à música da Havana dos anos 50, ao mundo dos livros, e uma espécie de descida ao inferno do submundo da capital cubana.


Leonardo Padura romancista, ensaísta, jornalista e argumentista, Leonardo Padura nasceu em Havana em 1955, tendo-se licenciado em literatura Hispano-Americana na universidade da capital cubana. No catálogo ASA figuram já as suas obras Morte em Havana, Paisagem de Outono, Ventos de Quaresma (todos eles na colecção “Noites Brancas”), Adeus, Hemingway (na colecção “Literatura ou Morte”) e O Romance da Minha Vida (na colecção “Romance”). A sua obra foi distinguida com inúmeros galardões, entre eles o Prémio Café Gijón 1995 para Morte em Havana, o Prémio Dashiell Hammett da Associação Internacional de Escritores de Romances Policiais em 1998 e 2006 para Paisagem de Outono e A Neblina do Passado, respectivamente, o Prémio da Crítica de Cuba em 2000 para Paisagem de Outono, o Prémio Internacional de Romance “Casa Teatro de Santo Domingo” para O Romance da Minha Vida e o Prémio Buchkultur para o Melhor Romance Policial do Ano na Áustria, em 2004, para Ventos de Quaresma.


Leonardo Padura, cubano, conheci-o nas Correntes d’ Escritas, na Póvoa de Varzim, levou-me agora em viagem por uma Havana em três momentos, o do passado, anterior à revolução, o do presente próximo agravado pelo isolamento criminoso dos EUA e pelo amor que é sempre idêntico em qualquer tempo e regime, mas o amor aparece aqui em dois vértices, o dos humanos, esse amor que nos arrebata a alma e os sentimentos e ainda o amor pelos livros, esse amor humano pelas palavras e quanta falta nos fazem, as palavras, para o outro amor, pleno de gestos, de afectos e de ternura. Unindo tudo isto, passado e presente, amor e livros, os seres humanos no enredo de uma história policial. um polícia que já não é, o comércio dos livros como sobrevivência, uma biblioteca que se descobre e contém a riqueza suprema do original cujo valor se assemelha ao ouro e uma notícia guardada entre páginas a mostrar a beleza de uma jovem mulher “aquele corpo que parecia feito à mão, aquela cara que lhe dava um enorme poder sobre os homens, aquela voz um pouco rouca, que convencia desde a primeira vez”, a apelar à curiosidade, à procura e vai levar à aventura da descoberta e será com o conhecimento do presente que se desvendará o mistério do passado. Pelo meio, amizades verdadeiras e amores que vivem no romantismo dos dias onde as agruras se vencem com o saber e a vontade comum. Há ainda Havana, a cidade, o malécon que todos já ouvimos cantar, em verso e em prosa, debruçado ao longo do mar e com mil histórias guardadas por contar, os cubanos e as Caraíbas e por sobre alguns nichos de miséria, material e moral que nos é descrita, há também o sonho dos cubanos.

24 novembro, 2011

POESIA

Horizonte de navios
horizonte de sol
horizonte de mar
horizonte de cor
e tanta tristeza no meu olhar
pela ausência da alegria do teu.

23 novembro, 2011

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

O céu matinal ainda não voltou àquela limpidez que nos perturba, mas também já não tem a nuvem de fumo da outra semana. Uma leve brisa sacode com ternura os ramos das palmeiras que levemente esvoaçam para cima e para baixo. Pergunto a mim mesmo como seria ficar o dia inteiro neste sossego. Tenho pensado muito nestas coisas da mobilidade. Faço um esforço para tentar compreender as razões desses senhores que dão pelo nome de empresários. Afinal, são os electrões livres, saltando de núcleo para núcleo que permitem que a energia percorra distâncias. Assim, poderiam os trabalhadores, também saltando daqui para ali fornecer essa vitalidade que dizem tão necessária às empresas. Mas não me habituo à ideia. As pessoas têm qualquer coisa que as agarra ao lugar e apesar de dizer que gosto muito de viajar quando saio do meu atlas afundo-me um pouco. Mas, desta vez, fui o electrão livre que foi apanhado em viagem entre dois átomos, pelo que decidiram enviar-me uma semana para o sul, esse sul extremo, voltado para África, nesses amplos espaços abertos em que a luminosidade se projecta como um manto luminoso. Não que não me seduzam esses olhares diferentes, mas eu sou filho do granito, das aldeias perdidas nas encostas das serras, onde raramente há espaço para vales largos que mais não são que passagens entre montanhas rodeados de um mar de verde e castanho, borrado de cinzento. Lá vou de viagem, deixando-vos em descanso de mim por uma semana inteira. Quem sabe, não trarei outras novas, outras imagens, outros focos de luz. Sede do norte trarei de certeza e saudades vossas.

CANÇÃO DE AMANTE

Levanto-me mais cedo que o costume
tomo um duche bem quente e prolongado
lavo-me, e esfrego-me e perfumo-me,
escolho as roupas e as cores e os caminhos com cuidado

ao almoço como um pouco quase nada
para amanhã ficam dez coisas adiadas, por fazer
conduzo devagar e pensativo pela estrada.
Telefono a confirmar. A confirmar só para saber…

Temos já tudo combinado há tanto tempo
mas ontem, como sempre, ainda hesitavas
- “Quero-te muito, amor, mas falta-me a coragem…”
e eu sem saber no que vai dar esta viagem…

Escondidos na noite em sítios de inventar
dá-me um dia, uma hora roubada para viver
que os meus dedos têm saudades de te ver.
Minha boca, meu rosto lindo, meu corpo, meu prazer

minha nuvem, meu cisne, minha noite, meu instante.
Eu sei que esta é uma história sem jeito e já batida
mas vem ter comigo sempre e, mesmo repetida
canta de cor assim, até ao fim de mim, até ao fim da vida
canta comigo, eterna, esta canção de amante.

PEDRO BARROSO, in “Das mulheres e do mundo”

A vida acabara de o arrancar às quentes trevas maternas: penso que tinha medo, e nada, nem sequer a noite, nem sequer a morte, substituiria para ele esse abrigo verdadeiramente primordial, porque as trevas da morte e da noite são frias, e não as anima o pulsar de um coração.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“A 10 de Junho de 2005, os ministros das Finanças do G8 anunciaram ruidosamente um pequeno abatimento da dívida externa do Sul (40 mil milhões em 2,5 biliões de dólares). A 6 de Julho, África e o aquecimento do planeta serão temas centrais da próxima Cimeira do G8, em Edimburgo. Também a ajuda ao desenvolvimento deveria ser aumentada. Mas estas iniciativas mediáticas mascaram a avareza do Norte em relação ao Sul, receitas económicas desastrosas e segundas intenções geoestratégicas.”

DAMIEN MILLET e ÉRIC TOUSSAINT, in, “As falsas aparências da ajuda ao desenvolvimento ”, in “Le Monde diplomatique”, Julho de 2005


Porto, 12 de Agosto de 2005

09 novembro, 2011

LEITURAS



Berlim, 1945. Os soviéticos avançam, implacáveis, pelas ruas repletas de escombros. Em toda a cidade a luta é violenta e a derrota alemã está iminente. Arturo Andrade está no meio de todo aquele caos. A sua missão: localizar Ewalde von Kleist, que acaba por encontrar morto na chancelaria do Reich com um misterioso bilhete no bolso.
Começa assim este thriller escrito com paixão e rigor documental que, com um ritmo que não dá tréguas ao leitor, nos aproxima de uma personagem que deverá enfrentar múltiplos demónios, os alheios e os próprios, para salvar a única coisa que parece escapar a este contexto atroz: o amor de uma mulher.


Ignacio Del Valle nasceu em Oviedo em 1971 e reside actualmente em Madrid. Dedica-se em exclusivo à escrita, tendo publicado cinco romances, todos eles alvo de excelentes críticas. Os Demónios de Berlim é o terceiro livro do autor editado em Portugal, depois do sucesso de O Tempo dos Imperadores Estranhos e de A Arte de Matar Dragões.


A leitura deste livro que começou por entusiasmar, despertar a atenção, chegou mesmo a apaixonar-nos a leitura, resvala já na parte final para falsidades históricas, oriundas apenas de um dos lados da guerra e que não podem ser suportáveis com um mínimo de razoabilidade. Já se compreende pouco que o autor tenha escolhidos um oficial falangista da Divisão Azul para o herói romântico, idealista, a lutar pelo bem dos outros, bem consubstanciado no final ao ser o único que fica sem nada, contrariamente aos restantes que saem bem da história e graças a ele, o herói Arturo Andrade. Já ao longo do livro, Ignacio Del Valle nos vai dando uma ideia que a aproximação do Exército Vermelho a Berlim, traz um rasto de sangue, de violência e de violações, para no final, traçar o cenário de um exército de assassinos a entrar em Berlim, como nos diz a páginas, 331: “E todos aqueles russos… Os frontoviki que formigavam pela cidade devastada, selvagens, melancólicos e infantis, saqueando e violando a seu bel-prazer, crendo-se vencedores,”. Não sabemos qual a intenção deste escritor asturiano, mas ao insistir sempre nesta tese, sem qualquer ponto positivo para a força armada que derrotou os nazis, está, mesmo que não o deseje, a passar a cor dos crimes nazis, incluídos os da Divisão Azul, a uma espécie de marca de água. Estão na imagem, mas quase apagados, nem com esforço se conseguem perceber. Convenhamos, até um analfabeto consegue compreender que se um exército após dois anos de derrotas, consegue crescer, organizar-se e percorrer 3 mil quilómetros a destruir a poderosa máquina de guerra alemão, tem de ser um exército disciplinado e rigoroso, não pode ser um escol de assassinos e violadores como nos conta Ignacio Del Valle. Não sabemos exactamente em que livros de história leu sobre A Batalha de Berlim, mas estamos em crer que deve ter efectuado demasiadas visitas ao Vale dos Caídos. Para a história de facto, ficaram os 20 milhões de soviéticos mortos, mais de um terço do total dos mortos. Foi pena, este desplante do escritor. Naturalmente que pode inventar e recriar as histórias que quiser e entender, pode alterar e adulterar a história ficcionando, mas não devia, em nosso entender, quanto mais pelo respeito pelos mortos, falsificar a história desta maneira. É verdade que grande parte dos soldados do Exército Vermelho eram camponeses, como também o eram, os dos outros países e quanto ao atraso, que desenvolvimento existia então nos restantes países? Mesmo descontando a desgraça da Guerra Civil, o que era então a vida humana em Leon y Castilla ou na Estremadura, ou na Calábria? Não vale a pena insistir, são escolhas. Apesar de tudo, o livro contém um bom enredo, um pouco no estilo de Indiana Jones, só que neste romance o herói está do lado dos maus e ainda o amor por Silke, pois o amor de uma mulher vale sempre a pena, mesmo quando, como tantas vezes acontece, nos foge por entre os dedos como a água que corre.

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