Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

30 dezembro, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus bons e leais Amigos

Depois de amanhã é a comemoração da festa e todos nós nos perguntamos, onde estavas há trinta anos?
Nos 15 dias que antecederam a Revolução eu estava internado num hospital dos arredores de Moscovo para fazer uma intervenção cirúrgica relativamente simples. O edifício ficava no interior de uma floresta de bétulas a perder de vista. Nos últimos dias podia sair e passear por aquela imensidão de árvores. No dia 23 ao fim da tarde enquanto lanchava com o meu companheiro de quarto e víamos o pôr-do-sol, com saudades da pátria, dizia-lhe que onde o sol encontra o mar fica Portugal. No dia 24 à hora do almoço tive alta e uma carrinha veio buscar-me. No interior vinha também uma tradutora de árabe que falava francês. Era linda de morrer. Chamava-se Elena e tinha olhos cor de amêndoa. Durante dez meses tinha os olhos derretidos de olhar para ela, mas nem me atrevia a aproximar-me. Vocês estão a ver, bonito como sempre fui e com uns óculos graduados de 10 dioptrias que lhe davam aquela forma de cebola nos extremos era um quadro que desanimava qualquer um. Pois é, mas a jovem percebeu a mensagem daqueles meses todos e quando entrei no carro foi ela a puxar conversa. No dia seguinte, 25 de Abril à uma hora da tarde estava eu sentado no bar a tomar café quando aquela menina vem pedir licença para se sentar na minha mesa. Pois, estava eu ainda a recuperar o fôlego quando aparece a tradutora de português a dizer que tinha ouvido uma notícia na rádio e fixou três palavras, Portugal, golpe de estado e Spínola. Lá se foi a Elena. Passei a tarde na sala do telex a acompanhar a revolução. Segui assim todos os acontecimentos via Reuters, UPI e outras. À noite no meio de uma alegria imensa nem queríamos acreditar. Antes de adormecer e ao pensar no futuro não contive as lágrimas. Foi a última vez que chorei. Daí para a frente, só molho a alma. Três meses depois deixava a Escola às 5 da manhã com o sol já intenso a brilhar. Ao descer as escadas cruzei-me com aquela Elena linda por quem nunca deixei de estar apaixonado. Ainda atravessei a Europa clandestino, mas a 20 de Julho um comboio que entrou pela Beira Alta trouxe-me livre como nunca tinha sido e como nunca mais hei-de deixar de ser.

CANÇÂO DO SOLDADO NO CERCO DO PORTO

Sete balas só na mão
Já começa a amanhecer
Sete flores de limão
Para lutar até vencer
Sete flores de limão
Para lutar até morrer

Já estremece a tirania
Já o sol amanheceu
Mil olhos tem o dragão
Há chamas de oiro no céu

Abre no peito o luar
Companheiros acercai-vos
Arde em nós a luz do dia
Companheiros revezai-vos

Já o rouxinol cantou
Tomai o nosso estandarte
No seu sangue misturado
Já não há desiguldade

Sete balas só na mão
Já começa a amanhecer
Sete flores de limão
Para lutar até morrer.

URBANO TAVARES RODRIGUES, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

" - No deserto está-se um bocado sozinho...
- Também se está sozinho ao pé dos homens - disse a serpente."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"Acesso à educação - nomeadamente superior -, presença no mercado de trabalho, controlo dos nascimentos: em apenas algumas décadas, a condição das mulheres em terras do Islão foi profundamente convulsionada. No entanto, cada uma destas conquistas esbarra com resistências; as mentalidades são mais difíceis de mudar que as leis. De Marrocos ao Irão, os movimentos de mulheres, divididos em múltiplas correntes (laicas, liberais, islamitas) questionam tradições ancestrais, reivindicam mais direitos e procedem a uma releitura do Corão e da história muçulmana. Fazem-no por vezes de um modo disperso e, outras vezes, numa espantosa unidade."

WENDY KRISTIANASEN, "Debates entre mulheres em terras do Islão", in "Le Monde Diplomatique", Abril de 2004.

Porto, 23 de Abril de 2004

29 dezembro, 2007

POESIA


Sombras no Olhar

Sinto sombras de tristeza no teu olhar
que se escondem no interior de florestas sombrias.

Não encontro os dias marítimos
em que desenhava nostálgicos quadros no horizonte.

Assusta-me esse silêncio que escondes
por trás de palavras que não dizes

Não encontro mais os dias puros do Verão
em que sorrias por entre o voo das gaivotas

Ainda encontro o mar
ainda sinto o sorriso
e o olhar?
Onde escondeste o olhar?

15.12.2007

25 dezembro, 2007

LEITURAS


Aqueles que me conhecem e sabem da minha paixão pela história, uma vez ou outra perguntam o que tem a história a ver com a minha profissão, ou seja, com os acidentes de viação. Aparentemente nada. Na verdade, tem tudo. Na averiguação dos acidentes, tal como na história procurando servir-nos de técnicas e do auxílio das outras ciências, também vamos à procura do passado, melhor dito, procurar reconstruir o passado, tentar compreender o que aconteceu, como aconteceu, tentar perceber as causas face às consequências que se conhecem. Tal como na história, o difícil é percebermos o quadro mental dos intervenientes e, tantas vezes, ainda como na história, há intervenientes que já não se encontram presentes. No fim, temos uma interpretação do que se terá passado e dificilmente temos exactamente o que se passou.
Há dias tive outra prova de que os acidentes estão mesmo no caminho da história e aqui e ali cruzam-se numa partilha de conhecimento. Um dos meus amigos tem a gentileza de me fazer chegar as crónicas desse andarilho do mundo que dá pelo nome de Gonçalo Cadilhe. Este homem que realiza sonhos que tive e mantenho mas que não hei-de realizar, pois tanto nos agarramos à normalidade que nos colamos a ela, a essa realidade que é o automatismo do quotidiano, daí que viajo apenas em sonhos. Construo mundos de fantasia e viajo nos olhos deste Cadilhe. Uma das últimas viagens que decidiu realizar foi seguir os caminhos de Magalhães, o Fernão, sim esse, que deu a volta ao mundo vai para cinco séculos. Começou em Sabrosa onde nasceu segundo uma das hipóteses conhecidas e da última vez que o encontrei estava na Ilha de Moçambique. Dessa crónica respiguei este diálogo espantoso:
“Em quase vinte anos com carta de condução, nunca fui multado. Alguma vez teria de ser a primeira. Acontece agora, no mais improvável dos lugares, na mais caricata das situações. O apito agudo atinge-me com a precisão de um dardo. É comigo. «Então não respeita os sinais?»
Sinais? Os carros deixaram praticamente de circular há vários anos nas ruas da Ilha de Moçambique, os poucos que ainda o fazem não justificam o «face-lift» dos stops, dos proibidos, dos sentidos únicos completamente enferrujados e retorcidos que ainda sobrevivem. O «meu» sinal está ali de facto, à entrada da praça, um «proibido» que o tempo quase apagou. Explico que não vi o sinal, parecia-me desactualizado, enfim, nem reparei.
O oficial de trânsito não quer ouvir justificações: «A bicicleta estava em contra-mão, dá-se a volta à praça pelo outro lado». Sugiro que está a exagerar, é só uma bicicleta numa praça sem qualquer outro veículo, nem sequer andam peões na rua a esta hora que faz muito calor. Aceita que pode estar a exagerar, mas a infracção subsiste. Ainda tento um último argumento, emotivo: «Num lugar que me recorda tanto o meu Portugal, não é culpa minha que se circule pela esquerda como os ingleses». Remata, inflexível: «A culpa pode não ser sua, mas o pecado foi seu.»”
Pois é verdade, esta estocada final, digna de um mestre mesmo que polícia de trânsito na Ilha de Moçambique, veio mais uma vez demonstrar o quanto a história está ligada à sinistralidade rodoviária, pois até os portugueses que tanto cultivam o analfabetismo e a falta de cultura e que sempre estão prontos a exigir excesso de zelo aos outros para compensar a sua imprevidência, haverão de perceber esta verdade terrível que lhes passarei a lembrar: «A culpa pode não ser sua, mas o pecado foi seu».

14 dezembro, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Nunca tinha passado na A14 e quando passei lembrei-me de uma história com 30 anos. No Verão de 1972 era um dos responsáveis por uma célula de organização, estou a falar de política, e mais ou menos em Setembro um dos seus elementos ao distribuir propaganda junto ao porto de Leixões, foi preso. Éramos todos muito jovens, hoje, com vinte anos, até nos chamariam crianças, mas naquela altura já nos tinham obrigado a ser adultos. Mas a juventude por vezes tem o seu preço e, aquele jovem falou. A partir daí foi um cortejo de prisões até que chegou a vez do elemento que comigo repartia a responsabilidade (ao fim de 20 anos, viemos a encontrar-nos de novo na AXA, hoje somos companheiros de trabalho). Digamos que a partir da sua prisão, a minha vez era uma questão de tempo. Não chegou a acontecer, porque fui "adormecido". Fui viver para a Figueira durante dois meses. Já lá estava há mais de um mês quando um dia depois de almoço decidi tomar o comboio para Coimbra e sair em Montemor. Era um dia de Fevereiro de 1973, estava frio, mas fazia sol ameno. Eram dias mais calmos, o stress ainda não tinha chegado e eu também não tinha nada para fazer, viajei na porta do comboio a contemplar a paisagem. Não me lembro da estação, mas sei que caminhei para a vila por uma estrada ladeada de árvores, muito bonita e sentei-me na borda de um ribeiro a comer uma lata de sardinhas de conserva que tinha levado como lanche. Nessa altura, trazia no olhar, no pensamento, nos gestos e em tudo o rosto da minha segunda paixão. Chamava-se Ana Maria e nunca mais a vi. Quando cheguei a Montemor já passavam das 16,30h e mal tive tempo de subir o morro para ver o castelo. Cheguei já depois da hora do fecho e o guarda teve a gentileza de me deixar dar a volta pela muralha. Assim fiz e quando cheguei à ala Oeste parei de espanto face à imagem que tinha na frente. O Castelo está sobranceiro ao resto do espaço. Em direcção ao mar estende-se um imenso terreno plano cheio de arrozais. No mar da Figueira, o vermelho do sol descia sobre o horizonte e espelhava sobre as águas inundadas das margens do Mondego. Acho que fiquei uns cinco minutos extasiado a olhar e a memorizar aquela fotografia. Nunca mais a esqueci. Anos mais tarde tentei repetir a cena e não resultou. Há coisas que ou se vivem no momento próprio ou nunca mais se vivem. Não sei porquê naquela beleza que pude contemplar havia muito da Ana Maria. Guardei essa recordação com um certo carinho ao longo dos anos. Agora quando passei na A14 ao aproximar-me da portagem, olhei e lá estava o castelo, soberbo sobre a paisagem com a vetustez das suas pedras banhadas pela serenidade do sol em mais um fim de tarde.

VIOLENTÍSSIMA TERNURA

Que a vida fosse a mesma festa sempre
e os olhos encontrassem teu sorriso
um pouco mais de tempo e era a felicidade
um pouco mais de céu e era o paraíso

comecei devagar, em dúvida de tudo
até saber que o ontem, para ti, fora de menos
pouca sorte, pouca vida, pouco amor
e aí senti o que se sente e não dizemos

e tudo o que soubemos acabou
e aquilo que começou nós não sabemos

e pouco a pouco tudo agigantou
que era demais e os olhos já sabiam
e aquela intensidade apenas confirmou
o futuro que as mãos não conheciam

fica a certeza de um início assim bonito
e no silêncio pressente-se a loucura
o turbilhão intenso subindo como um grito
e inexplicável, violentíssima, a ternura

e tudo o que soubemos acabou
e aquilo que começou nós não sabemos.

PEDRO BARROSO, in "Das mulheres e do mundo"

"Mas o vaidoso não o ouviu. Os vaidosos nunca ouvem senão os elogios."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"O assassinato do xeque Yassine, fundador e líder do movimento Hamas, não augura nada de bom quanto ao debate em torno do plano que Washington pretende aplicar no mundo árabe. Esta enésima versão das ambições dos Estados Unidos consiste em fortalecer, em nome da «democratização», o seu controlo das riquezas petrolíferas e dos mercados da região, bem como da impressionante cadeia de bases e instalações militares completada desde a guerra no Iraque."

GILBERT ACHCAR, "A nova máscara da política americana no Médio Oriente", in "Le Monde Diplomatique", Abril de 2004

Porto, 22 de Abril de 2004

12 dezembro, 2007

POEMAS


Depoimento

De seguro,
posso apenas dizer que havia um muro
não, nunca o contornei,
nunca o tentei ultrapassar
de qualquer maneira.

A honra era lutar
e lutei, ferozmente, noite e dia
apesar de saber
que quanto mais lutava, mais perdia
e mais funda sentia a dor de me perder.

Miguel Torga

11 dezembro, 2007

LEITURAS


Sendo Isabel Allende uma das minhas escritoras de eleição, lê-la é sempre um prazer. Quando a imaginação e a magia são a essência da história, então a leitura é uma forma de nos assombrarmos com a beleza das coisas, da paisagem e dos personagens. Em “A Soma dos Dias”, não nos conta uma história, relata a sua e a da família que a rodeia ou que ela faz com que a rodeie e vai contando à Paula que perdeu os acontecimentos que se foram passando depois de ter partido. Naturalmente que todo este diálogo imaginário com quem não a ouve resulta enriquecido pela sua forma de escrever pela grandeza que coloca nas palavras, na beleza das suas descrições e no fantástico em que transforma os personagens que nesta obra são reais e são os filhos os netos e todos os que lhe estão próximos. Ao de leve toca na vivência social do país em que vive, os Estados Unidos. Esta chilena, nascida no Peru, crescida no Chile e com uma longa vivência na Venezuela não deveria adaptar-se a esta Califórnia tão diferente, tão falha de fantasia em contraste com a latino-américa. No entanto, talvez pelo passado mexicano deste Estado e pela presença maciça de uma comunidade de língua castelhana, acabou por adaptar-se e encontrar equilíbrio sobre a baía de S. Francisco. Porém, quando as suas histórias e romances procuram este espaço, perdem beleza, riqueza de conteúdo e a imaginação fica demasiado vaga. É que a fantasia resulta muito do meio que nos rodeia e na Califórnia, o fantástico tem outra leitura. Sem dúvida que este é outro bom livro da autora chilena.

"A história real de uma família de romance. Entre a memória e a autobiografia, A Soma dos Dias começa quando a família de Isabel Allende se reúne para a triste cerimónia de espalhar as cinzas de Paula, protagonista de um dos mais famosos livros da autora…

Nas páginas deste livro, Isabel Allende narra com franqueza a história recente da sua vida e a da sua peculiar família na Califórnia, numa casa aberta, cheia de gente e de personagens literários, e protegida por um espírito: filhas perdidas, netos e livros que nascem, êxitos e sofrimento, uma viagem ao mundo dos vícios e outras a lugares remotos do mundo em busca de inspiração, juntamente com divórcios, encontros, amores, separações, crises matrimoniais e reconciliações.
Também é uma história de amor entre um homem e uma mulher maduros, que ultrapassaram juntos muitos obstáculos sem perderem a paixão nem o humor, e de uma família moderna, desgarrada por conflitos e unida, apesar de tudo, pelo carinho e a decisão de continuar em frente. Esta é a família que descobrimos em Paula e que descende dos personagens de A Casa dos Espíritos.
Uma obra emotiva e escrita no tom irónico e apaixonado que caracteriza a autora, na qual nos entrega a soma dos seus dias como mulher e como escritora."

10 dezembro, 2007

POESIA AO AMANHECER


Olá! Bom dia

Em 1999 aquando da minha viagem a França, volta e meia lá estou eu a falar disto, já no regresso depois de sair de Bordéus vim por uma estrada secundária até Biarritz. Foram quilómetros e mais quilómetros pelo interior de uma floresta com a estrada desenvolvendo-se ao longo de imensas rectas. Tudo bem ordenado, tudo limpo, com casas apenas nas aldeias. Lembrei-me disto porque falamos muito no pinhal de Leiria e esquecemo-nos que na zona de Aveiro, melhor, desde Esmoriz até à Figueira, existem imensas estradas florestais que atravessam enormes extensões de pinhal ao longo de rectas imensas. Claro que tivemos o cuidado de povoar tudo com casas ao gosto de cada um, e sabe-se como é refinado o gosto dos portugueses, deitar lixo nas clareiras e se possível roubar areia das dunas onde se encontra o pinhal. Mesmo assim, ainda vale a pena a visita e ao fim da tarde nesta época há um conjunto de aldeias onde se está bem. À semana e sem a pressão do grande turismo até à beira-mar é reconfortante. É o tal Portugal que ainda merece ser descoberto.

EURÍDICE

Há uma pequena ruga de silêncio
A macular-te o rosto...
Que secreto desgosto
Ocultas ao teu velho companheiro?
Preciso de sabê-lo, bem-amada.
O tempo é traiçoeiro,
E quero a tua imagem preservada.

Mulher de Orfeu, minha mulher, portanto,
É o encanto
Da eterna juventude
Que dás ao nosso lar imaginado,
Sem ela, que seria
Desta humana harmonia
Em que temos vivido lado a lado?

Diapasão que afina a minha lira,
A tua voz precede a minha voz.
Ouvir-te é começar...
Não emudeças, pois, musa da vida!
O poema é o luar:
A luz do sol, apenas reflectida...

MIGUEL TORGA

" - Então julgas-te a ti próprio - respondeu o rei. - É o mais difícil de tudo. É bem mais difícil julgarmo-nos a nós próprios do que aos outros. Se te conseguires julgar a ti próprio és um sábio dos autênticos."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"A campanha que vai inflamar George W. Bush e Jonh Kerry permitirá seguramente abordar a questão das manipulações da informação - designadamente na altura da guerra contra o Iraque -, bem como a da concentração capitalista nos media. O debate destes temas continua a ser ocultado em França, onde a compra por parte do industrial do armamento Serge Dassault do jornal Le Fígaro e de uma parte significativa da imprensa de revistas e de jornais regionais suscitou um silêncio quase generalizado."

ERIC KLINENBERG, "Contestação da Ordem Mediática Americana", in "Le Monde Diplomatique", Abril de 2004.

Porto, 21 de Abril de 2004

09 dezembro, 2007

POESIA

Ausência


Contemplo-te mar
sim tu oceano que aprendi a amar
sinto a ausência da beleza
que noutros dias vi nas tuas águas
nem o aroma do oriente
salta da tua cor de prata
o sol que sobre ti pousa
não tem o olhar que me atraiu.
Hoje, não estás o mesmo mar
que me ensinaste a amar.

06.10.07

07 dezembro, 2007

LEITURAS


Angola foi sempre a colónia de eleição e, embora Moçambique despertasse cobiça, Angola, pelas suas riquezas, era a jóia da coroa, daí todo o traumatismo que foi a saída do colonizador daquele imenso território, tanto mais que, no momento da saída o jovem país estava mergulhado numa profunda guerra civil cujas feridas só 25 anos depois ia começar a sarar. Nos finais da década de 70 e com a morte de Agostinho Neto, o Estado adquire consistência e aparentemente ensaia um novo rumo com as classes sociais a ganharem solidez económica e relevo cultural. Foi por essa altura que li Mayombe de Pepetela e pela primeira vez, escutei a guerra do outro lado. O livro tinha alguma ternura nas palavras e mostrava a dureza dos combates e da vida guerreira. Depois, foi o silêncio, com um olhar distante para o afastamento de princípios que a luta libertadora havia consagrado. Uma burguesia nascente crescia à sombra do aparelho de estado, enriquecia, opulenta e predadora e o país dilacerado por uma sangrenta guerra civil que opunha as forças estatais do antigo Movimento de Libertação à acção sanguinária de uma elite que se alimentava interiormente do roubo dos diamantes e do exterior de poderes ocultos e omnipresentes. No fim da guerra, Pepetela escreveu o livro agora lido, Predadores, onde através do personagem Vladimiro Caposso é traçado um percurso dos que viveram e, certamente, ainda vivem, à sombra de roubos, favores e corrupção. Angola há-de encontrar o seu caminho, mas de momento continua um país assaltado e, pena é que um país com riquezas para dar um bom nível de viva à totalidade dos seus habitantes, possua índices de miséria que nos envergonha a todos, cidadãos do mundo.

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