LEITURAS
Angola foi sempre a colónia de eleição e, embora Moçambique despertasse cobiça, Angola, pelas suas riquezas, era a jóia da coroa, daí todo o traumatismo que foi a saída do colonizador daquele imenso território, tanto mais que, no momento da saída o jovem país estava mergulhado numa profunda guerra civil cujas feridas só 25 anos depois ia começar a sarar. Nos finais da década de 70 e com a morte de Agostinho Neto, o Estado adquire consistência e aparentemente ensaia um novo rumo com as classes sociais a ganharem solidez económica e relevo cultural. Foi por essa altura que li Mayombe de Pepetela e pela primeira vez, escutei a guerra do outro lado. O livro tinha alguma ternura nas palavras e mostrava a dureza dos combates e da vida guerreira. Depois, foi o silêncio, com um olhar distante para o afastamento de princípios que a luta libertadora havia consagrado. Uma burguesia nascente crescia à sombra do aparelho de estado, enriquecia, opulenta e predadora e o país dilacerado por uma sangrenta guerra civil que opunha as forças estatais do antigo Movimento de Libertação à acção sanguinária de uma elite que se alimentava interiormente do roubo dos diamantes e do exterior de poderes ocultos e omnipresentes. No fim da guerra, Pepetela escreveu o livro agora lido, Predadores, onde através do personagem Vladimiro Caposso é traçado um percurso dos que viveram e, certamente, ainda vivem, à sombra de roubos, favores e corrupção. Angola há-de encontrar o seu caminho, mas de momento continua um país assaltado e, pena é que um país com riquezas para dar um bom nível de viva à totalidade dos seus habitantes, possua índices de miséria que nos envergonha a todos, cidadãos do mundo.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home