POESIA AO AMANHECER
Bom dia, meus bons Amigos
Pois ontem lá fui até Braga. Para lá ia atrasado, para cá vinha com pressa e nem cheguei a usufruir do sol bonito que se espalhava pela estrada.
Era uma história simples. Um rapaz empresário, veículos a condizer, Opel Frontera, Audi A4 e BMW, falar ao telefone na auto-estrada e embate na traseira do veículo da frente que era um reboque de transporte de cavalos cujo rebocador se despistou contra o morro da margem. Abertura da portinhola do reboque, cavalos à solta na faixa de rodagem e só não foi pior, por um daqueles acasos. Pois é, empresário mas sem seguro no Opel Frontera. Mas com aquela alegria permissiva que vai constituindo uma imagem de marca dos portugueses, vai de adulterar a DAAA e pôr o Audi onde devia estar o Opel. Só que agora temos a seguradora a reclamar oito mil euros e o MP a intentar uma Acção crime por burla consumada e qualificada e só então o homem começa a ficar ligeiramente preocupado. Primeiro a tentar que a família, que pelos vistos estava toda para fora, lhe pague a dívida mesmo a prestações e depois o apelo para que o perito tenha lapsos de memória. Ditosa pátria que tais filhos tem. Este país é na verdade uma grande saga.
Bom fim de semana para todos.
DESFECHO
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...
E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados
Que apenas vão a par na teimosia.
MIGUEL TORGA
" - Um dia vi o sol pôr-se quarenta e três vezes!
E pouco depois acrescentou:
- Sabes... quando se está muito, muito triste, é bom ver o pôr do sol..."
ANTOINE SAINTE-EXUPÉRY, in "O Principezinho"
"A transição política portuguesa foi, simultaneamente, a última revolução do século XX e a primeira democracia da «terceira vaga». A copiosa literatura existente sobre as transições democráticas desvaloriza, porém, o facto de a transição portuguesa ter sido a única de toda esta «terceira vaga» a conhecer tal nível de participação popular e de ter assim escapado ao modelo top-down que prevaleceu universalmente dali em diante, ou seja, uma transição concertada entre as novas e antigas elites, incluindo a «revolução de veludo» nos antigos países comunistas. Não é à toa que foi o modelo espanhol da transição pactada, cuja moderação se inspirou a contrario no radicalismo da nossa revolução, aquele que serviria de exemplo a todas as futuras transições.
O carácter revolucionário da transição portuguesa não se limitou, pois, ao plano político e ideológico. Estendeu-se também ao plano social, coisa que não aconteceu em nenhum outro processo de democratização na Europa do Sul nem no resto do mundo."
MANUEL VILLAVERDE CABRAL, "O 25 de Abril em retrospectiva", in "Le Monde Diplomatique", Abril de 2004.
Porto, 16 de Abril de 2004
Pois ontem lá fui até Braga. Para lá ia atrasado, para cá vinha com pressa e nem cheguei a usufruir do sol bonito que se espalhava pela estrada.
Era uma história simples. Um rapaz empresário, veículos a condizer, Opel Frontera, Audi A4 e BMW, falar ao telefone na auto-estrada e embate na traseira do veículo da frente que era um reboque de transporte de cavalos cujo rebocador se despistou contra o morro da margem. Abertura da portinhola do reboque, cavalos à solta na faixa de rodagem e só não foi pior, por um daqueles acasos. Pois é, empresário mas sem seguro no Opel Frontera. Mas com aquela alegria permissiva que vai constituindo uma imagem de marca dos portugueses, vai de adulterar a DAAA e pôr o Audi onde devia estar o Opel. Só que agora temos a seguradora a reclamar oito mil euros e o MP a intentar uma Acção crime por burla consumada e qualificada e só então o homem começa a ficar ligeiramente preocupado. Primeiro a tentar que a família, que pelos vistos estava toda para fora, lhe pague a dívida mesmo a prestações e depois o apelo para que o perito tenha lapsos de memória. Ditosa pátria que tais filhos tem. Este país é na verdade uma grande saga.
Bom fim de semana para todos.
DESFECHO
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...
E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados
Que apenas vão a par na teimosia.
MIGUEL TORGA
" - Um dia vi o sol pôr-se quarenta e três vezes!
E pouco depois acrescentou:
- Sabes... quando se está muito, muito triste, é bom ver o pôr do sol..."
ANTOINE SAINTE-EXUPÉRY, in "O Principezinho"
"A transição política portuguesa foi, simultaneamente, a última revolução do século XX e a primeira democracia da «terceira vaga». A copiosa literatura existente sobre as transições democráticas desvaloriza, porém, o facto de a transição portuguesa ter sido a única de toda esta «terceira vaga» a conhecer tal nível de participação popular e de ter assim escapado ao modelo top-down que prevaleceu universalmente dali em diante, ou seja, uma transição concertada entre as novas e antigas elites, incluindo a «revolução de veludo» nos antigos países comunistas. Não é à toa que foi o modelo espanhol da transição pactada, cuja moderação se inspirou a contrario no radicalismo da nossa revolução, aquele que serviria de exemplo a todas as futuras transições.
O carácter revolucionário da transição portuguesa não se limitou, pois, ao plano político e ideológico. Estendeu-se também ao plano social, coisa que não aconteceu em nenhum outro processo de democratização na Europa do Sul nem no resto do mundo."
MANUEL VILLAVERDE CABRAL, "O 25 de Abril em retrospectiva", in "Le Monde Diplomatique", Abril de 2004.
Porto, 16 de Abril de 2004
2 Comments:
Estou a imaginar os cavalos em plena estrada e os outros condutores na estrada! E é assim que o nosso País anda com empresários de fachada, altos carros, mas quando se vai a ver...seguro nem vê-lo!
Bom fim de semana!
Beijinhos
E afinal onde está o sol??!?! É que eu concordo inteiramente com o principezinho...
Tenho andado por aí mas agora já voltei a assentar arraiais.
Beijinhos
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