Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

23 setembro, 2007

LEITURAS


Desde que descobri a escrita de Baptista Bastos é uma sedução ler os seus livros. Pena de jornalista, é visível uma vivência urbana, parecendo até boémia que nos conduz até às contradições, comportamentos e reflexões dos seres humanos. Mesmo numa leitura sem reflexão, apenas pelo prazer de ler não conseguimos deixar de anotar alguns dos pensamentos que nos deixa. No conteúdo dos livros que nos oferece resultam visíveis, a solidão, os sonhos, o amor e a mulher e não resistimos a deixar aqui algumas das frases com que nos faz, ou rever-nos ou reflectirmos sobre a natureza das afirmações que coloca nos seus personagens. Estamos de acordo que “em cada mulher há um mistério por descobrir”. Na verdade, o encontro com uma mulher tem esse fascínio da descoberta, de percepcionar, de procurar, de tentar encontrar o fio dos seus pensamentos, dos seus desejos, das suas vontades. De facto nesse achamento está o primeiro momento da sedução. “Há muitas coisas que se não dizem, ou só se podem dizer através do silêncio ou do olhar”. Outra verdade que apreendemos quase de imediato. O quanto falam com o olhar, como procuramos os reflexos desses olhares, como se sente a alegria ou outro sentimento no brilho ou no embaciamento do olhar. Sobretudo, procuramos encontrar não só aquela chama que nos atrai, que nos revela sermos desejados como também represente que nos regemos pelos mesmos valores ou que estes estão próximos, representam sintonia, podem navegar pelos mesmos mares, como nos diz ainda, pertencemos “aos mesmos sonhos”. O sonho, essa capacidade de navegar no alto mar em veleiros sem rumo, aparece ainda uma outra ocasião quando nos diz que “vivia num mundo só dela e isso queria dizer que, quem quiser ser livre, tem à sua frente um imenso território: o do sonho”. Quer dizer que quando sonhamos vivemos num mundo só nosso ou dito ao contrário, para vivermos num mundo só nosso temos de nos isolar da realidade e que a liberdade que almejamos só a encontramos no mundo do sonho. Ter pois a capacidade de sonhar pode ser também a capacidade de sermos livres. Baptista Bastos leva-nos ainda ao difícil ambiente da solidão. O ser humano sendo por natureza um ser social, na solidão só pode encontrar o contrário de si próprio. Não falamos daquele isolamento que procuramos para descansar, para reflectir, para contemplarmos o universo de uma forma diferente. Não, falamos daquela solidão que nos encontra isolado dos outros por incompatibilidade com formas de estar com regras ou com comportamentos que não se coadunam com a nossa formação ou com a nossa concepção do mundo em comunidade. Ou ainda, porque não encontrámos a companhia que tanto desejamos, ou mesmo quando a encontrando, não pode preencher esse espaço vazio que levamos na alma. “No fundo, o que ela mais desejava era companhia; um pouco de afecto,” Esta é a solidão que dói e que se não a soubermos gerir, pode até tornar-se penosa. Esta solidão pode ser ao mesmo tempo, isolamento e afastamento, pode ser uma dor imensa que, tantas vezes um simples abraço pode amenizar. Duas frases merecem ainda relevo pela concordância que tenho com o sentimento expresso. “Há um momento furtivo e incerto no dia, em que o dia parece parar: não desapareceu e ainda não mergulhou na noite. Talvez então possamos aprender o que se passa dentro de nós”. Sinto um encantamento por esse momento em que a tarde se entrega nos braços do crepúsculo, esse tempo que a nossa poetisa alentejana chamou de mágicos cansaços, e que no interior do qual me abandono no pensamento daqueles de quem gosto muito e de quem amo. Em certas ocasiões e em determinados lugares chega a ser um momento extraordinário. Por último, ou dito de outra forma, tomando a última reflexão que recolhemos de Baptista Bastos, “o pior que pode acontecer a uma pessoa é não ter ninguém em quem pensar. Também sabe que o amor traz o desejo de descobrir coisas novas”. Só posso manifestar toda a minha concordância. O pior que nos pode acontecer é não termos ninguém na memória que nos complete os sonhos e que no ajude a enfrentar as agruras. Alguém em quem possamos pensar com carinho e a quem possamos escrever palavras de ternura, mesmo que imaginárias. São estas pessoas em quem podemos pensar que nos ajudam a ser inventivos, criadores e nos levam a superar-nos. Quando encontramos alguém a quem dedicar o pensamento, seja amigo ou amante, bem podemos dizer que a nossa vida se altera no bom sentido de sentir apaziguamento.


"Todos estamos feridos. Mas uns estão mais feridos do que outros. São aqueles que se feriram a si próprios, sem disso darem conta. As Bicicletas em Setembro fala de trajectórias amorosas e de que todos os destinos sentimentais ocultam histórias substerrânes. Fala, também, da beleza perversa das relações humanas, e de que as pessoas suportam tudo, menos a solidão, a separação e a perda. É uma parábola sobre perdedores - todos nós. Porque cada um de nós perdeu alguma coisa."

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

PORTO, 2007.11.27

Para a Administração do blog http://iraofuturo.blogspot.com
LITERATURA
Acerca de Baptista Bastos


A nova obra e Baptista- Bastos, “A BOLSA DA AVÓ PALHAÇA”


O MEU PONTO DE VISTA,

antes de ler “A BOLSA DA AVÓ PALHAÇA”



Ainda não li a obra do Baptista Bastos que vai sair na quarta feira, mas estou convencido que vai ser bestseller, disso não tenho dúvidas. A avô palhaça na caneta de BB ilumina-nos, diz-nos coisa s que só o Armando Baptista Bastos sabe dizer.

Tenho uma fé inabalável neste homem, simplesmente porque é um homem. Penso que sabe tudo da vida. E escreve sobre essa vida que ele conheceu como ninguém; principalmente sobre a vida da noite lisboeta..

O Armando Baptista Bastos é um homem da noite como o foram e são todos os jornalistas. Mas não é igual à maioria deles não; é melhor, porque ande ele por onde andar, nunca se esquece da sua Isaura, sempre presente nos seus livros..

Para a Isaura, uma vez mais escreve ele em “O SECRETO ADEUS”

É linda esta dedicatória à esposa.

E no “CÃO VELHO ENTRE FLORES” escreveu, Para a Isaura e para os nossos filhos. Infinitamente belo para se dizer não. Armando Baptista Bastos é sim.

“A tua mãe dizia muita coisa só para me contrariar. Já não a podia suportar. Sempre a exigir, sempre autoritária e presente no menor dos meus actos, mesmo quando estava ausente. Desejei muitas coisas que ela não entendia.”...

Esta frase, que o Armando Baptista Bastos escreveu em “Viagem de um pai e de um filho pelas ruas da amargura” na pagina 30, é uma frase que resume o que é a vida. É uma frase de amor e frustrações. Não há nada mais lindo do que esta imagem suportada por palavras.

A escrita de Baptista Bastos é simples Por isso o Amando é um artista antes de ser escritor... e é um contador de histórias sério e honrado, que põe tudo dentro delas para depois nas contar.

O palco que o Armando Baptista Bastos pisa é o palco da honra ... não tem outro. Por isso, eu espero que “A BOLSA DA AVÔ PALHAÇA” seja uma obra de honra, com honra e pela honra.

Só assim é Baptista- Bastos.

DEPOIS DE LER

«A BOLSA DA AVÓ PALHAÇA»
De Baptista-Bastos

Já li o último de BB e continuo fã. Se bem li, o autor quis levar-nos aos locais da sua infância para nos dizer que “ um homem faz-se assim...”, perdendo uns lances, suportando outros e nos intervalos espreita as mamas das gajas, enfarda uns murros na tromba, era grande...pergunta o Pai.. .. e após algum (pouco tempo) enrola-se de novo no edredon não dando cavaco, como quem quis dizer: não te posso ensinar tudo; tens de aprender, pá

O livro é meigo, trata de coisas muito simples e trás à tona o grande desejo da avó, que era o de ir ao Dafundo de eléctrico. Vejam bem como está bem evidenciado o hoje considerada ridículo dessa viagem, que era tudo na vida da avó Palhaça.. .

O livro fala, à laia de ternas recordações, da escola primária, dos correios, da drogaria, do campo das Salésias, do chafariz, do carrilécrico-operário, das soleiras das portas do beco, dos pombos nos beirais, dos vasos de manjericos, dos bailaricos e da valsa, dos pêlos nas pernas das mulheres, do talho daquele “mangas” que tinha sido boxeur e fala de outras coisas mais, que muitos já se teriam esquecido e aí está a beleza do livro, que levará alguns a dizer... no meu tempo é que era...

Afinal o livro fala dos valores de toda a juventude de Lisboa. «Já foste às putas» é o valor maior.

A figura do João Linhares Barbosa, o letrista de fados vadios de Lisboa, que escreve todo o enredo e dá-lhe até o tom...que até poderia ser uma coisa assim... como este,

Deste-me um beijo e fugiste..
Mas eu fui-me embora também
Não mais te vi nem me viste
Talvez tenhas ido para o Além

Se foste ou não pouco interessa
E de um qualquer ponto de vista
A vida de um homem começa
Quando descobre que é artista

E o Balalaika coveiro foi preso...
...................................................................

Portanto, o livro trata destas coisas simples e simultaneamente complicadas da vida.
As vizinhas chamavam-na «Eh, Palhaça! Eh, Maria Palhaça»
....................
A minha avó trouxera-me sempre no coração: agora, levava-me consigo dentro dos olhos.

Já não há avós como a avó Palhaça..«Ao despedir-se enfiava a mão na bolsa colocada por detrás do avental e dava-me umas moedas. «Come bolas de Berlim, dão grande sustento ao corpo». A bolsa tinha a forma de um oito...

A bolsa da avó Palhaça podia ser a bolsa da minha avó Brita que levava nela figos torrados e mos dava, dizendo, toma João meu menino....

E viva a vida.


João Brito Sousa

5:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

PORTO, 2007.11.27

Posso ser visto em

http://bracosaoalto.blogspot.com


Sem mais, sou

João Brito Sousa

5:36 da tarde  

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