Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

04 setembro, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Nos últimos dias dei comigo a pensar duas vezes nessa coisa da auto-estima. No Sábado quando estava a viajar de eléctrico apercebi-me que a marginal está muito bonita e que o Porto histórico é também ele muito belo. O resto da cidade está descaracterizado como qualquer outra, mas a parte mais valiosa, mais turística, mais para os outros verem, tem-se recomposto e nós, que tantas vezes damos valor, e com razão, ao que vemos no exterior, porventura não estaremos a valorizar o nosso o quanto basta. É possível que esta nossa postura crítica advenha de uma questão cultural ou dos dirigentes que sempre tivemos. Quanto à cultura, admito. País pequeno, constrangido entre a Espanha e o mar, pobre de riquezas, com excepção da natureza e da simpatia, isolados, provavelmente fomos construindo essa forma de estar que parece conduzir à incapacidade. Por outro lado, essa camada que sempre nos dirigiu, megalómana, inculta, exibicionista, incapaz de programar e planear, cuidando só de si e apenas de si, gente que não vale mesmo nada, levam-nos frequentemente para becos sem saída. No entanto, somos a nação com mais séculos de história, de maior coerência linguistica e nacional e "meia dúzia" de habitantes fomos capazes da gesta sonhadora de, por entre infinitos de azul, dar novos mundos ao mundo. Depois, claro, vem o sentimento de culpa que de imediato afastamos para alguém. A culpa é sempre do outro. Nós temos sempre um argumento desculpatório. Veio isto a propósito dum fórum onde estive ontem sobre sinistralidade rodoviária. Num determinado momento alguém teve a infeliz ideia de pôr a falar as mães das vítimas, neste caso mortais. Entre choros e lágrimas, o que eu percebi é que os acidentes tinham resultado de despistes ou por culpa do condutor, mas, naturalmente que as mães, achavam que os seus filhos eram jovens na flor da vida e que alguém tinha de fazer alguma coisa. Nunca eu, mas alguém, um ser indefinido em quem desejamos acreditar. Como Deus nem sempre tem paciência para nos aturar e não há mais ninguém para além de nós, vamos morrendo aos poucos, os jovens também por essas estradas fora.

PLATEIA

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

MIGUEL TORGA


"Foi assim que vivi sempre sozinho, sem ter ninguém com quem falar, mas falar a sério, até ao dia em que, há seis anos, tive uma avaria em pleno deserto do Saara."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"O Estado-Providência é um Estado social. É a forma política que assume, no século XX europeu e norte-americano, a nova «sociedade salarial» - a sociedade onde a condição assalariada se dissemina e deixa de constituir sinal de indignidade, para se tornar o patamar onde assentam a identidade e o estatuto social."

AUGUSTO SANTOS SILVA, in "Parte da Vida"

Porto, 08 de Abril de 2004

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