Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

07 setembro, 2007

LEITURAS


Um espaço de férias, permitiu-me o prazer da leitura de um pequeno e belo livro de Domingos Lopes, “O homem que falava”. Numa escrita bem desenhada, o autor relata-nos o diálogo de um velho açoriano que ultrapassados os noventa anos engana a solidão, falando, consigo próprio ou quem tenha a paciência para o ouvir. Baleeiro, pescador, emigrante, homem de inúmeras profissões e por força da idade de muitos tempos e espaços, vai descrevendo a sua vida, os seus medos, as suas experiências e tecendo considerações, aquilo que designamos por opiniões, dos acontecimentos que viu e que continuam a acontecer em seu redor. Marcado por um casamento que durou meses por morte da mulher a quem jurou fidelidade na hora da partida é assombrado na velhice por essa mulher que não mais esqueceu, o mesmo já não podendo dizer da fidelidade que prometeu, pois se é certo que não casou, não é menos verdade que não se inibiu de saciar essa fome carnal que acode naturalmente aos seres humanos e só uma profunda vontade pode impedir que assim não aconteça. O seu falar é um relato corrido que se lê num fôlego, pois Domingos Lopes usou a pena de forma brilhante, colocando o leitor no papel de ouvinte e, com que atenção “escutamos” aquele falar, aquelas histórias, aquela vivência plena de tudo. O livro, pode não ser uma viagem aos Açores, mas é, sem dúvida, um admirável exercício de leitura que não devemos perder.

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