Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

11 setembro, 2007

POESIA


A Canção Desesperada

Já não é o tempo da paixão
do espaço em que ocupavas toda a memória
em que trazia na lembrança o rosto, os gestos e as palavras.
Longe vai a intensidade e o ardor.
O amor afogou-se nas agruras de tristes lembranças.
Acabaram as mensagens escritas e faladas,
já não escuto palavras de esperança e de amizade
“é um silêncio sem ti”, dizias então.
O amor esfrangalhou-se num cortejo de equívocos.
Onde vão as poesias que te enviava em aves marinhas
nas asas de rainhas que voavam nos céus?
“Apagou-se dentro de mim
a campainha que chamava por ti”.
Parti, afastei-me. Esqueci-te.
Fiz promessas. Deixei de pensar que existias.
Só de longe a longe sinto a presença
dos teus passos apressados que já não são verdadeiros.
E sendo tudo verdade,
porque me visitas hoje num quarto de hotel silencioso
numa cidade do mundo?
Porque me inundas a memória com imagens
que não quero reter, como um fantasma que me perturba?
Que razão poderá justificar que o desejo
vença a vontade de te olvidar?
que te imagine como já não és e como
certamente nunca foste?
Porque te sinto próxima, quando te quero longe?
Não desejo que esta lembrança com
rosto, voz, carícias e palavras melosas, se transforme em tentação
Quero pensar,
noutro lugar, noutro rosto,
na pureza doutras intenções, na gentileza de outros gestos,
na ingenuidade de outro sorriso.
Preciso que me deixes, que desvaneças essa imagem de sombra,
que se apague esta chama de desejo.
Vira a proa da galera que negaste oferecer-me
e procura outro rumo, outro destino, outro oceano.
Deixa acender o farol que brilha nas minhas madrugadas.
Solta-me desse anel de fogo que semeaste
e permite-me descobrir de novo o amor,
que me possa apaixonar pela beleza de uns olhos castanhos
que possa lançar o meu arco de flechas
em direcção a um rosto verdadeiro.
Vai. Vai definitivamente para o mundo que escolheste
e deixa-me com a pureza dos meus sonhos
para que continue a acreditar como antes
quando ainda não existias.
Vai.
Vai e deixa-me seguir outro caminho.


Paris, 02 de Dezembro de 2004, numa noite de silêncio e desassossego com a imagem de uma mulher que já não existe, a queimar-me a alma

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