Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

09 setembro, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Pois é, que grande fim de semana. Na 6ª Feira uma amiga telefonou-me a desejar boa Páscoa e a convidar-me para tomar um café no Sábado, convite que aceitei, mas no Sábado voltou a telefonar a dizer que não podia. De certa forma, ainda bem; os encontros com ela trazem-me sempre à memória aquela canção do Chico Buarque, afasta de mim, esse cálice, pai.... Bem, entretanto acabei a tomar outro café numa longa conversa de 4 horas. Há muito tempo que não falava assim, da vida, dos Homens e do mundo. Enquanto isso, pelas terras milenares de Nínive, de Nabucodonosor, dos Hititas, desse berço da civilização entre o Tigre e o Eufrates cresce a resistência ao invasor. Os rebeldes só podem escrever páginas belas na história. Num ano, passaram de terroristas a rebeldes e estão a escrever com sangue a história da sua pátria. Ontem derrubaram mais um helicóptero de combate que o ocupante ainda andava a ver quem tinha sido. Até me lembrei de perguntar à minha vizinha, pois o filho por vezes ao jogar a bola deita algumas coisas abaixo. Mas não, não tinha sido, foram mesmo os iraquianos. Ironia da história, os libertadores já mataram mais pessoas do que o ditador.
No Natal ofereceram-me um livro do prémio Nobel do ano passado. Não conhecia a obra do sul-africano, Cotzee. Li com muito agrado. Uma história simples que nos prende de princípio ao fim. Uma pequena localidade de fronteira vista por um homem já com alguma idade e que alcançou aquele momento em que temos tempo para tudo. Um relato das sevícias do poder e dos poderes, dos torturadores e dos que mandam nos prisões que castram os Homens.
Ofereceram-me também outro livro do Alçada Baptista. Dele conhecia livros bonitos como, Nós e os Laços e a Tia Susana Meu Amor. Depois, perdi-lhe um pouco o rasto. Agora encontrei-o a contar memórias e veio ao de cima esse sentimento burguês que muitos esconderam ou silenciaram. Agora veio falar das suas origens e da sua vivência, dos seus laços com o fascismo e outras coisas. Fá-lo com bonomia e deitando fora a culpa, não vê nada de mal nessas ligações perigosas. Afinal, não havia luta de classes e todos se davam bem num tempo em que a Europa vivia mergulhada em guerras. Que candura! Como ele diz, era da burguesia, mas da da província, como se esta fosse diferente. É como se dissesse que é preto, mas tomou banho. Fala da liberdade e dos comunistas que eram homens bons como o poeta José Gomes Ferreira, depois diz que não quer dizer que os outros fossem maus, mas...., acabei por não saber se fiquei do lado dos bons ou dos maus. Não, não vou deixar de gostar do que escreveu por causa desta leitura. Entristeceu-me apenas e ajudou-me a compreender algumas afirmações suas no passado.
Bem, acabei o Domingo a ver à noite o Romeu e Julieta com toda a riqueza da representação britânica. E a Julieta era linda de morrer. Frágil como eu gosto de ver as mulheres. Frágil, mas não angélica. Tenho medo dos ares angelicais. Estes prometem-nos tudo, chamam-nos, abrem-nos a porta e vão sempre recuando, fugindo. As mulheres de ar frágil, não. São fortes, corajosas e têm uma ternura que transborda pelo olhar. A Julieta de ontem, era assim.

VIA-LÁCTEA

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras coisas canto
Muito diversas das que outras ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida... Portanto,
Meditai nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço coisas tristes,
Que mais alijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive:
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.

OLAVO BILAC

"Nessa altura, o cientista apresentou uma grande exposição da sua descoberta a um Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido. As pessoas grandes são assim.
Felizmente que, para a boa reputação do asteróide B612, um ditador turco se lembrou de impor ao seu povo, mas impor-lhe sob pena de morte, que passasse a trajar à europeia. O astrónomo voltou a fazer a sua demonstração em 1920, mas agora muito bem posto. E toda a gente o aceitou."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"Mas o Estado-Providência é, ainda, um Estado; e um Estado social. A sua emergência está em linha de continuidade com o desenvolvimento dos Estados-nação modernos, enquanto formas de organização política de comunidades nacionais, assegurando funções de representação delas e de integração nelas das populações."

AUGUSTO SANTOS SILVA, in "Parte de Vida"

Porto, 12 de Abril de 2004

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