POESIA AO AMANHECER
Bom dia, meus Amigos
Eu queria cantar/cantar uma canção/feita de sol e de mar/ feita só com o coração. Já não sei quando foi, mas um dia levantei-me cedo e fui acordar o sol e a estrela ergueu-se brilhante e magnífica numa bola de fogo pelo cimo da colina e enquanto o Pedro Barroso cantava, dirigi-me às margens do Tejo à conquista da capital. Levava comigo apenas palavras, a força das palavras, não de quaisquer palavras, mas as que carregam, justiça e razão, humanidade, sentimentos, valores éticos e morais e ali chegado estendi-as ao longo da mesa, com lentidão, pesando cada uma delas para ter a força que desejava e necessária para ser compreendida. Senti a leveza do sonho a distender-se e nem o calor abrandou a vontade de falar. Claro, que para as nossas palavras terem sucesso é necessário que alguém as escute e as compreenda, mas na verdade, encontrei quem me ouvisse. Não vos vou contar o resto da história, porque não posso e porque ainda não acabou, mas quando o comboio rumou ao norte, sei apenas que trazia a alma cheia de esperança, não a vulgar, mas aquela que se vê no horizonte como algo que se pode alcançar com a mão e abraçar num misto de missão cumprida e de sentimento de que valeu a pena. Um dia, poderemos olhar para o longe, sentir o futuro seguro e então teremos tempo de deixar uma lágrima teimosa e feliz correr pela face, mas hoje, não. Hoje, apenas quero cantar uma canção/feita de sol e de mar/feita só com o coração.
VOZ ACTIVA
Canta, poeta, canta!
Violenta o silêncio conformado.
Cega com outra luz a luz do dia.
Desassossega o mundo sossegado.
Ensina a cada alma a sua rebeldia.
MIGUEL TORGA
Obrigávamo-nos às práticas de uma devoção exaltada, que já não correspondia às nossas verdadeiras crenças: aqueles a quem tudo falta recorrem a Deus e é nesse momento que também Deus lhes falta.
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
“Mas esta não é, não pode ser, apenas a história de um homem. Esta é a história de uma sociedade que colectivamente permitiu que a demagogia crescesse até ao delírio, que a monstruosidade se instalasse nas ruas, nas casas e nos campos de concentração. Não venham com a desculpa do “nós não sabíamos!” Todos sabíamos. Era público e notório. Uns não saberiam o que se passava em Auschwitz, mas não ignoravam o que se passava na sua rua, com a loja do judeu fechada, ou o vizinho comunista deportado, com a queima de livros proibidos ou os “ghetos”. Todos sabiam e quase todos concordaram tacitamente, quando não aplaudiram mesmo nas imensas paradas que reuniam milhares e milhares de soldados e testemunhas activas.
Não nos venham dizer que a secretária pessoal de Hitler, com os seus vinte e poucos estouvados anos, não sabia de nada do que se passava e admirava a humanidade do Fürher. Todos os que pactuavam e todos os que se revoltavam sabiam. Todos sabemos hoje o que se passa nos campos de concentração de prisioneiros iraquianos. Todos sabemos o que se passa com os reféns degolados pelos árabes. Todos sabemos o que Paul Auster nos conta sobre as perseguições diárias a anódinos cidadãos árabes, hoje, agora, neste instante, nos EUA. Todos sabemos o que se passa em certas regiões da África, da Ásia, da América do Sul. Ou sabemos com provas, ou imaginamos. Os que não sabem, por desinformados, não são melhores que os outros. Meter a cabeça na areia nunca ajudou a avestruz.”
LAURO ANTÓNIO “A Queda. Hitler e o fim do III Reich”, in “História”, Junho de 2005
Porto, 21 de Julho de 2005
Eu queria cantar/cantar uma canção/feita de sol e de mar/ feita só com o coração. Já não sei quando foi, mas um dia levantei-me cedo e fui acordar o sol e a estrela ergueu-se brilhante e magnífica numa bola de fogo pelo cimo da colina e enquanto o Pedro Barroso cantava, dirigi-me às margens do Tejo à conquista da capital. Levava comigo apenas palavras, a força das palavras, não de quaisquer palavras, mas as que carregam, justiça e razão, humanidade, sentimentos, valores éticos e morais e ali chegado estendi-as ao longo da mesa, com lentidão, pesando cada uma delas para ter a força que desejava e necessária para ser compreendida. Senti a leveza do sonho a distender-se e nem o calor abrandou a vontade de falar. Claro, que para as nossas palavras terem sucesso é necessário que alguém as escute e as compreenda, mas na verdade, encontrei quem me ouvisse. Não vos vou contar o resto da história, porque não posso e porque ainda não acabou, mas quando o comboio rumou ao norte, sei apenas que trazia a alma cheia de esperança, não a vulgar, mas aquela que se vê no horizonte como algo que se pode alcançar com a mão e abraçar num misto de missão cumprida e de sentimento de que valeu a pena. Um dia, poderemos olhar para o longe, sentir o futuro seguro e então teremos tempo de deixar uma lágrima teimosa e feliz correr pela face, mas hoje, não. Hoje, apenas quero cantar uma canção/feita de sol e de mar/feita só com o coração.
VOZ ACTIVA
Canta, poeta, canta!
Violenta o silêncio conformado.
Cega com outra luz a luz do dia.
Desassossega o mundo sossegado.
Ensina a cada alma a sua rebeldia.
MIGUEL TORGA
Obrigávamo-nos às práticas de uma devoção exaltada, que já não correspondia às nossas verdadeiras crenças: aqueles a quem tudo falta recorrem a Deus e é nesse momento que também Deus lhes falta.
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
“Mas esta não é, não pode ser, apenas a história de um homem. Esta é a história de uma sociedade que colectivamente permitiu que a demagogia crescesse até ao delírio, que a monstruosidade se instalasse nas ruas, nas casas e nos campos de concentração. Não venham com a desculpa do “nós não sabíamos!” Todos sabíamos. Era público e notório. Uns não saberiam o que se passava em Auschwitz, mas não ignoravam o que se passava na sua rua, com a loja do judeu fechada, ou o vizinho comunista deportado, com a queima de livros proibidos ou os “ghetos”. Todos sabiam e quase todos concordaram tacitamente, quando não aplaudiram mesmo nas imensas paradas que reuniam milhares e milhares de soldados e testemunhas activas.
Não nos venham dizer que a secretária pessoal de Hitler, com os seus vinte e poucos estouvados anos, não sabia de nada do que se passava e admirava a humanidade do Fürher. Todos os que pactuavam e todos os que se revoltavam sabiam. Todos sabemos hoje o que se passa nos campos de concentração de prisioneiros iraquianos. Todos sabemos o que se passa com os reféns degolados pelos árabes. Todos sabemos o que Paul Auster nos conta sobre as perseguições diárias a anódinos cidadãos árabes, hoje, agora, neste instante, nos EUA. Todos sabemos o que se passa em certas regiões da África, da Ásia, da América do Sul. Ou sabemos com provas, ou imaginamos. Os que não sabem, por desinformados, não são melhores que os outros. Meter a cabeça na areia nunca ajudou a avestruz.”
LAURO ANTÓNIO “A Queda. Hitler e o fim do III Reich”, in “História”, Junho de 2005
Porto, 21 de Julho de 2005
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