Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

09 outubro, 2010

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

No Porto temos uma festa a que dificilmente faltamos. Vivemo-la sempre, cada um à sua maneira. Muitos, muitos mesmo, saem à rua. Uns para passear, outros para se divertir, uns ainda, só para ver o fogo brilhar, em girândolas pelo céu e agora em disputa nas duas margens. Outros, festejam de qualquer forma. Chamo-lhe uma noite única e acredito que é, pois milhares de pessoas enchem as ruas, riem, brincam, toleram sem um azedume e com a familiaridade que o dia não permite e só aquela noite consente. E é interessante ver todas aquelas pessoas em turba a aproximarem-se da margem do rio sem que nada aconteça que altere o bem-estar que, de uma forma ou outra, todos sentem. Dispensa-se a polícia, quase ninguém se exalta e há sempre um sorriso para um balão que se perde no céu nocturno ou um lamento para um outro que se incendeia antes de alcançar a rota de cruzeiro. Agora até temos o Metro mais cheio de que quando vai para os grandes jogos do Dragão. Por outro lado, a festa estende-se também ao longo do rio e há fogueiras em todos os bairros e os que por alguma razão, desistiram de visitar a cidade na noite em que não dorme, encontraram forma de viverem até que a alva chegue, em torno de uma fogueira, por entre sardinhas assadas e um bom caldo verde. Há que aproveitar que a festa só se repete uma vez por ano. Lembrei-me esta manhã do S. João, talvez porque ontem as estrelas brilhavam tanto como os balões que enchem a noite do Porto na madrugada de 24 de Junho.

PEÇO SILÊNCIO

Agora deixem-me tranquilo.
Agora acostumem-se sem mim.

Eu vou cerrar os meus olhos.

Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.

A segunda é ver o Outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.

A terceira é o grave Inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.

Em quarto lugar o Verão
redondo como uma melancia.

A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
não quero dormir sem os teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a Primavera
para que me continues olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.

Agora se querem, podem ir.

Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro negro:
meu coração foi interminável.

Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa-se comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.

Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.

Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.

Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.

Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.

Deixem-me só com o dia.
Peço licença para nascer.

PABLO NERUDA, “Extravagário”, in “Presentes de um Poeta”

Cada um de nós pouca coisa sabe do amor, tal como os outros o entendem; o amor, para vós, talvez fosse apenas uma bondade apaixonada.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“A colecção do museu é um percurso pela história do coche, das carruagens, das berlindas, das caleches e dos carrinhos de passeio para crianças, ou das liteiras. Trata-se de uma viagem que começa naquela que é a mais antiga carruagem conhecida – a de Filipe II, construída em Espanha nos finais do século XVI.”

NAIR ALEXANDRA “Cem anos sobre rodas”, in “História", Junho de 2005

Porto, 18 de Julho de 2005

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