POESIA AO AMANHECER
Bom dia, meus Amigos
No Porto temos uma festa a que dificilmente faltamos. Vivemo-la sempre, cada um à sua maneira. Muitos, muitos mesmo, saem à rua. Uns para passear, outros para se divertir, uns ainda, só para ver o fogo brilhar, em girândolas pelo céu e agora em disputa nas duas margens. Outros, festejam de qualquer forma. Chamo-lhe uma noite única e acredito que é, pois milhares de pessoas enchem as ruas, riem, brincam, toleram sem um azedume e com a familiaridade que o dia não permite e só aquela noite consente. E é interessante ver todas aquelas pessoas em turba a aproximarem-se da margem do rio sem que nada aconteça que altere o bem-estar que, de uma forma ou outra, todos sentem. Dispensa-se a polícia, quase ninguém se exalta e há sempre um sorriso para um balão que se perde no céu nocturno ou um lamento para um outro que se incendeia antes de alcançar a rota de cruzeiro. Agora até temos o Metro mais cheio de que quando vai para os grandes jogos do Dragão. Por outro lado, a festa estende-se também ao longo do rio e há fogueiras em todos os bairros e os que por alguma razão, desistiram de visitar a cidade na noite em que não dorme, encontraram forma de viverem até que a alva chegue, em torno de uma fogueira, por entre sardinhas assadas e um bom caldo verde. Há que aproveitar que a festa só se repete uma vez por ano. Lembrei-me esta manhã do S. João, talvez porque ontem as estrelas brilhavam tanto como os balões que enchem a noite do Porto na madrugada de 24 de Junho.
No Porto temos uma festa a que dificilmente faltamos. Vivemo-la sempre, cada um à sua maneira. Muitos, muitos mesmo, saem à rua. Uns para passear, outros para se divertir, uns ainda, só para ver o fogo brilhar, em girândolas pelo céu e agora em disputa nas duas margens. Outros, festejam de qualquer forma. Chamo-lhe uma noite única e acredito que é, pois milhares de pessoas enchem as ruas, riem, brincam, toleram sem um azedume e com a familiaridade que o dia não permite e só aquela noite consente. E é interessante ver todas aquelas pessoas em turba a aproximarem-se da margem do rio sem que nada aconteça que altere o bem-estar que, de uma forma ou outra, todos sentem. Dispensa-se a polícia, quase ninguém se exalta e há sempre um sorriso para um balão que se perde no céu nocturno ou um lamento para um outro que se incendeia antes de alcançar a rota de cruzeiro. Agora até temos o Metro mais cheio de que quando vai para os grandes jogos do Dragão. Por outro lado, a festa estende-se também ao longo do rio e há fogueiras em todos os bairros e os que por alguma razão, desistiram de visitar a cidade na noite em que não dorme, encontraram forma de viverem até que a alva chegue, em torno de uma fogueira, por entre sardinhas assadas e um bom caldo verde. Há que aproveitar que a festa só se repete uma vez por ano. Lembrei-me esta manhã do S. João, talvez porque ontem as estrelas brilhavam tanto como os balões que enchem a noite do Porto na madrugada de 24 de Junho.
PEÇO SILÊNCIO
Agora deixem-me tranquilo.
Agora acostumem-se sem mim.
Eu vou cerrar os meus olhos.
Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.
Uma é o amor sem fim.
A segunda é ver o Outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.
A terceira é o grave Inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.
Em quarto lugar o Verão
redondo como uma melancia.
A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
não quero dormir sem os teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a Primavera
para que me continues olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.
Agora se querem, podem ir.
Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro negro:
meu coração foi interminável.
Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa-se comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.
Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.
Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.
Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.
Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.
Deixem-me só com o dia.
Peço licença para nascer.
PABLO NERUDA, “Extravagário”, in “Presentes de um Poeta”
Agora deixem-me tranquilo.
Agora acostumem-se sem mim.
Eu vou cerrar os meus olhos.
Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.
Uma é o amor sem fim.
A segunda é ver o Outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.
A terceira é o grave Inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.
Em quarto lugar o Verão
redondo como uma melancia.
A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
não quero dormir sem os teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a Primavera
para que me continues olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.
Agora se querem, podem ir.
Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro negro:
meu coração foi interminável.
Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa-se comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.
Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.
Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.
Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.
Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.
Deixem-me só com o dia.
Peço licença para nascer.
PABLO NERUDA, “Extravagário”, in “Presentes de um Poeta”
Cada um de nós pouca coisa sabe do amor, tal como os outros o entendem; o amor, para vós, talvez fosse apenas uma bondade apaixonada.
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
“A colecção do museu é um percurso pela história do coche, das carruagens, das berlindas, das caleches e dos carrinhos de passeio para crianças, ou das liteiras. Trata-se de uma viagem que começa naquela que é a mais antiga carruagem conhecida – a de Filipe II, construída em Espanha nos finais do século XVI.”
NAIR ALEXANDRA “Cem anos sobre rodas”, in “História", Junho de 2005
Porto, 18 de Julho de 2005
NAIR ALEXANDRA “Cem anos sobre rodas”, in “História", Junho de 2005
Porto, 18 de Julho de 2005
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