POESIA AO AMANHECER
Nos últimos dias ao passear com os cães, à noite, vou olhando para o céu estrelado, dessas estrelas que a luminosidade das cidades ainda deixa ver. Uma delas brilha de uma forma especial junto a uma lua crescente. Parece isolada no interior do infinito. Houve tempos que esses momentos faziam-me sonhar. Não sei exactamente o que é sonhar, mas refiro-me àquela sensação de algo belo que ainda não vimos, mas sabemos que existe e que um dia será possível alcançar, mesmo que esse dia nunca chegue. Contudo, ultimamente não sinto com a mesma intensidade essa sensação de sonho. É como se algo continuasse a ser belo, mas um pouco arrefecido. Não sei explicar muito bem. É um pouco como aquela sensação que tenho no meio de uma festa em que todos estão felizes, mas prefiro estar ao lado a ajudar essa felicidade sem a viver com a intensidade dos restantes. Como se nos sentíssemos bem, sós, mas precisássemos de gente para que a solidão não ficasse sozinha. Um dia alguém utilizou a frase, “só entre as gentes” e agora veio a Isabel Allende escrever na sua última obra editada, “A multidão não o oprimia, porque no meio do tumulto encontrava sempre um lugar sereno para a sua alma” e desta forma sintetizou a resposta que tenho procurado. Imagino sempre o prazer de viver na aldeia, no entanto, de vez em quando preciso de descer à cidade. A alma sente-se bem só, mas de quando em vez necessita de companhia, nem que seja apenas para olhar e escutar alguém. Era um pouco isso que vi naquela estrela ao lado da lua. Gostava de estar assim como ela, só na imensidão do universo, desde que pudesse todas as manhãs, vir aqui conversar com os amigos.
AS ROSAS
Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in “Cem Poemas de Sophia”
Deixei-me resvalar, não digo para essa felicidade (minha amiga, nós não somos felizes), mas antes para esse crime. No desejo de bem fazer, fui mais baixo do que se poderia imaginar: roubei-vos o vosso futuro. Não vos trouxe nada, nem sequer esse grande amor com que vós contáveis; as virtudes que havia em mim fizeram-se cúmplices dessa mentira; e o meu egoísmo foi tanto mais odioso quanto se julgou legítimo.
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
LAURO ANTÓNIO “A queda de Hitler e o fim do III Reich”, in “História", Junho de 2005
Porto, 15 de Julho de 2005
1 Comments:
Gosto muito do seu blog, sempre acompanho.
parabéns.
me siga no meu blog
http://susanneandrade.blogspot.com/
obrigada!
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