LEITURAS
Os espanhóis são conhecidos por ser entre os europeus o mais frontal dos povos. Então porque é que se mantiveram em silêncio acerca dos terrores perpetrados durante a Guerra Civil e a ditadura do General Franco? Este aparente «pacto de esquecimento» inspirou o escritor Giles Tremlett a embarcar numa viagem através de solo espanhol e da sua história. Por todo o lado ele encontrou os fantasmas de Espanha, e quase sempre em grande discussão. Quem provocou a Guerra Civil? Porque matam os terroristas bascos? Porque é que os catalães odeiam Madrid? Será que os bombistas islâmicos que mataram 190 pessoas em 2004 sonharam com o regresso do passado mourisco de Espanha? A curiosidade de Tremlett levou-o por estranhos e coloridos atalhos, e trouxe-lhe perspectivas inesperadas sobre a personalidade do povo espanhol.
Giles Tremlett é correspondente do Guardian em Madrid. Tem vivido em Espanha e escrito sobre este país quase ininterruptamente desde que fez a sua licenciatura há vinte anos na Universidade de Oxford.
Este livro, tal como Espanha, quer seja uma ideia ou uma realidade, proporcionou-me essa mistura de sedução e repulsa. Atrai-me a grandeza e afasta-me um certo ar imperial tão característico dos castelhanos. Não vou dizer que não foi um trabalho sério, antes pelo contrário, sente-se um grande esforço de informação e de investigação. Direi até, nos limites do meu conhecimento que nos mostra a realidade dessa Espanha cingida a Castela, mas espalha-se por completo quando aborda a questão das nacionalidades. A sua paixão por Espanha, conduz o autor à subestimação dos valores e símbolos de nacionalidade. Vulgariza e banaliza o que tentam fazer os espanhóis quando gritam que a Espanha é una e indivisível. Quando se tem de repetir muitas vezes o que uma coisa é, raramente é o que dizem. A Espanha é isso mesmo, apenas um Estado, não é, nem uma nação, nem tem um povo. O povo espanhol é tão verdadeiro como o foi o soviético ou o jugoslavo. Desapareceu com a o Estado. Por muito que doa aos castelhanos, isso também ocorrerá no seu Estado. Passaram os séculos e as nacionalidades não desapareceram, nem a sua língua, nem a sua cultura, nem as suas tradições, nem o seu desejo de auto-determinação. O autor apenas já no fim se aproxima da verdade quando afirma que as nacionalidades só podem ser compreendidas na sua verdadeira dimensão pelos próprios. Pena foi que não o tivesse dito no princípio.
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