Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

03 agosto, 2008

LEITURAS


Amin Maalouf conduz-nos desta vez até aos mitos de uma Idade Média tardia onde o Renascimento convive com o poder territorial e político da Sublime Porta, guiando-nos pelas rotas comerciais e marítimas do mediterrâneo e do norte da Europa. O genovês Baldassare vai em viagem à procura de um livro que conterá o segredo do que de terrível há-de acontecer nesse ano final de 1666. Deixa a sua famosa livraria de uma cidade libanesa onde a sua família vive há várias gerações e segue até Londres na perseguição desse livro, o qual, quando é encontrado, nada lhe revelará pela cegueira que provoca a leitura das suas páginas. Pelo caminho, o genovês ama. Primeiro a libanesa que foi o amor da sua juventude e que desilusão lha trará um dia essa Marta, depois a inglesa Bess e, por fim, acaba a casar com uma adolescente da sua Génova para onde decide levar o fim dos seus dias. Das suas andanças e dos seus amores, Baldassare colheu, reflexões. “O que a presença dessa mulher apaziguou em mim não foi a sede carnal de um viajante, foi a minha angústia original. Nasci estrangeiro, vivi estrangeiro e morrerei estrangeiro ainda. Sou demasiado orgulhoso para falar de hostilidade, de humilhações, de rancor, de sofrimentos, mas sei reconhecer os olhares e os gestos. Há braços de mulheres que são lugares de exílio, e outros que são a terra natal”. Longe nos leva o genovês, mas dúvidas não temos que as mulheres que nos prendem não são de facto as que nos apaziguam a sede carnal, mas antes aquelas cujos braços nos acolhem e nos fazem sentir em casa, nessa casa onde sempre desejamos poder voltar, quer seja de uma longa ou de uma curta viagem. Já na parte final das suas andanças quando encontra a londrina Bess e após um diálogo com aquela mulher em várias línguas, diz-nos ainda: “Tínhamos, um e outro, necessidade de encontrar um ouvido amigo, e uma mão amiga. Falo disto com surpresa, porque acabo de descobrir, ao fim de quarenta anos de existência, a sensação de plenitude que podem proporcionar algumas horas passadas em comunhão íntima e casta com uma desconhecida”. De facto, não só uma mulher nos pode acolher no interior dos seus braços como lugar de refúgio como, sobretudo, nos pode proporcional momentos excepcionais pela sua presença, pela sua companhia, pelo seu diálogo, pelo seu saber, por essa troca de palavras em que nos dá a conhecer o mundo visto pelos seus olhos, sem que, algo mais, tenha necessariamente de fazer parte do diálogo.

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