Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

14 outubro, 2006

LEITURAS

O Outono proporcionou-me a leitura de uma escritora que há muito é para mim uma referência de ordem cultural e literária. Isabel Allende uma chilena nascida no Peru, mais tarde, exilada do Chile por militares golpistas sem dignidade, sem lealdade, sem lei, começa aos 40 anos a escrever a história do país que a viu crescer. Através de romances extraordinários onde a fantasia dos contos se mistura com a magia da imaginação, faz gerar figuras que só o encantamento das florestas e das montanhas da América Latina pode fazer brotar da alma. Isabel, fez-me apaixonar pelos Andes e pelo Chile e, juntamente com Neruda fez-me desejar conhecer essa terra que vai desde Arica à Terra do Fogo comprimida entre as montanhas e o oceano.
Neste último romance, traz-nos a história da conquista do Chile, servindo-se da figura da vida do conquistador e da mulher que apaixonadamente o seguiu e o amou. Pedro de Valdívia foi um desses castelhanos que chegou à América com a espada na mão direita, a cruz na esquerda e com uma insaciável sede de ouro, que o levou a cometer, tal como todos aqueles que o acompanharam, a um dos maiores crimes da humanidade e que escondemos com uma ingenuidade imperdoável. Os nomes de Hernan Cortez e Francisco Pizarro, deviam figurar na história como vulgares salteadores que dizimaram civilizações que deslumbravam o território americano. Desconhece-se o verdadeiro número do genocídio, mas já na época a coragem do Padre Las Casas fazia variar esses números entre 20 ou 80 milhões. Fosse qual fosse o número verdadeiro, foi uma carnificina inqualificável e que merecia da parte dos europeus um tratamento diferente da história.
Isabel Allende, como sempre, salienta o papel da mulher. Aqui através de Inés Suarez, essa extremenha amante de Valdívia que o acompanhará ao longo de dez anos. Será mostrando o seu papel, de companheira dedicada, de amante a quem o conquistador chamará de Inês da minha alma, que nos vai relatando os episódios da conquista e da fundação das cidades chilenas por sobre os escombros das aldeias mapuches e semeando milhares de cadáveres pelos vales daquela bela terra. Inês, dará alguma humanidade ao terror que os cavaleiros castelhanos vão espalhando por entre os autóctones, por esses araucanos, rebeldes e insubmissos que nunca deixarão de combater e hão-de simbolicamente vingar-se através da morte de Pedro Valdívia. Inês é a narradora da história e na parte final. Já com a morte a rondar-lhe o corpo, relata-nos essa resistência indígena para além do Rio Bio Bio. Nessas últimas páginas há muita dignidade, em torno dessa guerra de resistência, de salvaguarda do que era um território livre. Neste romance, vemos nascer o Chile, o mais moderno, o da conquista por homens predadores, ambiciosos, autênticos senhores feudais para quem os seres humanos se dividem entre os que mandam e os que servem. Não fosse a figura da mulher com o nome, a coragem, a beleza e a lealdade de Inês Suarez e a história não teria o mesmo fulgor. Assim, é mais outro livro de Isabel que merece ser lido.

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