Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

30 outubro, 2006

POESIA AO AMANHECER


Olá! Amigos

Tirando o silêncio que sinto a esta hora, o dia está triste e melancólico e o fim de semana nada teve que mereça referência. Hoje é o dia da Mulher e não é um dia qualquer. Podia ser só na Maia ou na Trofa e já tínhamos que chegasse, mas não, é mundial. Vinha a pensar nisto pelo caminho e lembrei-me de uma história com 32 anos. Nos princípios de Abril de 1972 andava um certo Partido a preparar uma manifestação contra a carestia da vida para o dia 15 de Abril e naturalmente havia que distribuir propaganda. Naquele tempo, não era como agora. Equipas de duas pessoas, ao cair da madrugada, - Portugal deitava-se então pela meia-noite - espalhavam-se pelos bairros camarários e enquanto um esperava na entrada o outro subia as escadas e na descida espalhava os panfletos. A discrição e a rapidez eram o segredo do negócio. Muito tempo no mesmo lugar e o risco de não chegarmos a casa começava a ser real. Procurava-se sempre que os pares fossem um rapaz e uma rapariga por motivos óbvios. Em caso de necessidade, disfarçavam de namorados. Só uma vez me calhou uma rapariga e foi nessa noite. Chamava-se Sara que é um nome muito bonito. Tinha sardas e era tão jovem quanto eu. Num determinado momento aconteceu o que sempre mais temíamos, alguém começou a ter um comportamento suspeito e a timidez impediu-me de fazer o que os acontecimentos impunham, mas a Sara, talvez impelida pelo medo, não hesitou em puxar-me o braço para cima do seu ombro e assim caminhamos abraçados durante uns longos metros. Foi a primeira vez que abracei uma mulher. Chamava-se Sara. Acabamos o que havia para fazer o mais rapidamente possível e despedimo-nos. Um ano depois, parti para Moscovo e a Sara para a clandestinidade. Nunca mais nos vimos e hoje lembrei-me de enviar um beijo à Sara.

DISPERSÃO

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(...)

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço...

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

"O desprendimento suplementar de energia detém o colapso gravitacional da estrela. Ardendo núcleos de hélio para produzir carbono, ela obteve um recomeço da vida."

ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"

"O vencedor das próximas eleições regionais que decorrerão em França a 21 e 28 de Março poderá ser a abstenção. As camadas populares atravessam grandes dificuldades e sentem-se abandonadas por todos os lados. Nenhum sector escapa, com efeito, à febre neo-liberal de Chirac e Raffarin. Nem sequer os infantários que, privatizados, vão ser objecto de benefícios fiscais. Já os investimentos públicos continuam a diminuir. tanto nesta área como na educação, investigação, saúde..."

MARTINE BULARD, in "Le Monde Diplomatique", Março de 2004

Porto, 08 de Março de 2004

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