Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

18 outubro, 2006

GERÊS

Todos sabemos que tudo provém da terra. Dali nascemos, para ali regressamos, é o que nos dizem. Nos tempos em que pensei perceber algo de astrofísica, mergulhei no estudo desses primeiros minutos à procura de respostas e segui roteiros de cientistas consagrados. Atrás de um deles cheguei mesmo a espreitar por essa janela que nos permitia olhar a natureza momentos antes dessa explosão fantástica que criou o nosso sistema solar. O fulgor da luz foi diminuindo, o calor amansou um pouco, os átomos começaram a encontrar o seu lugar, as suas rotações alcançaram ritmos harmoniosos e um dos planetas que vogava à deriva começou a sentir a vida a romper as suas entranhas. Da aridez da superfície começaram a surgir sons que rompiam o silêncio e das borbulhas de lama cresceram oceanos, alimentados por torrenciais quedas de água provenientes da escuridão celestial. Será ali, naquela vastidão de liquido escuro que a vida celular adquirirá consistência. Como escreveu Saramago, num poema inesquecível e que o Pedro Barroso musicou de formas lindíssima, “ao princípio era o nada”. Nesse ritmo evolutivo e cadenciado, surge um animal algures em África que um dia ergue dois membros para além do chão e caminha assim erguido à descoberta dos continentes. Quando olhou para si, possuía apenas o corpo, tudo o resto, necessário à sua vivência, descobriu-o à sua volta, na terra que é o mesmo que dizer, na natureza. O percurso que fez nos últimos 3 milhões de anos é conhecido.
Actualmente, afastou-se do ambiente natural que o rodeia, produz materiais que já não provêm directamente do que está à sua volta e de cuja matéria foi originalmente criado, habita entre paredes de betão e desconhece procedimentos elementares de sobrevivência natural e quase sempre a sua acção vai provocando danos irreversíveis no planeta que o viu nascer.
Pese embora, essas opções que parecem conduzir o Homem para um destino sem saída, de quando em vez, ouve como um chamamento da terra.
Periodicamente sou uma dessas pessoas que escuta um grito como um apelo, provindo da natureza, mais propriamente das montanhas que é onde tudo me parece mais puro, mais virgem, mais indomável. Novembro é um dos meses em que esse canto me chama como uma atracção que não posso recusar.
Vou regressar ao Gerês, mais propriamente à Serra Amarela que cobre as terras entre o Cávado e o Lima e se debruça sobre o Gerês, a Galiza e o Alto Minho.
Novembro de 2004

1 Comments:

Blogger LurdesMartins said...

Novembro... dia 18 lá estaremos, uma vez mais!
Que nessa altura a chuva não seja tanta como estes últimos dias... Beijinhos

3:05 da tarde  

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