POEMAS
INVENTÁRIO
Havia
uma lâmina de sal
e um rio matinal correndo a nossos pés
Havia
uma pedra acesa no limiar de cada dia
e a memória dos passos ao redor do corpo
Havia ainda
uma guitarra de dedos aquáticos
e um pássaro de lume
rasgando o coração da noite
II
Acendo a lâmpada do sonho
e olho-te
os olhos desertos de tanta ternura
o desejo derrama sobre os nossos corpos
a sua luz torturada
na nossa pele respira a espera
de todas as ausências
Caminhamos seguros
nenhum olhar nos deterá agora
Sabemos que ao virar do verão
um jardim de água espera por nós
e que finalmente escutaremos
a nossa voz
na mudez comovida das palavras
desarmadas
Regresso
ao lume dos teus olhos
Mas os teus olhos são dois pássaros receosos
têm medo das palavras
que secretas
não dizes
Medo de respirar a sede
das memórias proibidas
de acender estrelas
com cintilações desconhecidas
No silêncio do teu abraço
cresce a recusa da minha pele
magoada
Os teus olhos são um espelho
de imagens gastas
de melancólicas viagens
E no meu coração silenciou-se
a campainha que chamava
por ti
Parto
Vou à procura de um
relógio de insónia
de palavras derramadas de ternura
flutuando ao redor do fogo
Isabel Constancinho
Havia
uma lâmina de sal
e um rio matinal correndo a nossos pés
Havia
uma pedra acesa no limiar de cada dia
e a memória dos passos ao redor do corpo
Havia ainda
uma guitarra de dedos aquáticos
e um pássaro de lume
rasgando o coração da noite
II
Acendo a lâmpada do sonho
e olho-te
os olhos desertos de tanta ternura
o desejo derrama sobre os nossos corpos
a sua luz torturada
na nossa pele respira a espera
de todas as ausências
Caminhamos seguros
nenhum olhar nos deterá agora
Sabemos que ao virar do verão
um jardim de água espera por nós
e que finalmente escutaremos
a nossa voz
na mudez comovida das palavras
desarmadas
Regresso
ao lume dos teus olhos
Mas os teus olhos são dois pássaros receosos
têm medo das palavras
que secretas
não dizes
Medo de respirar a sede
das memórias proibidas
de acender estrelas
com cintilações desconhecidas
No silêncio do teu abraço
cresce a recusa da minha pele
magoada
Os teus olhos são um espelho
de imagens gastas
de melancólicas viagens
E no meu coração silenciou-se
a campainha que chamava
por ti
Parto
Vou à procura de um
relógio de insónia
de palavras derramadas de ternura
flutuando ao redor do fogo
Isabel Constancinho