Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

28 novembro, 2006

CONTOS


Desde há muito que ao fim da tarde, Artur gostava de visitar aquele Café. Geralmente sossegado, a música por norma era suave, os clientes não perturbavam e, estava-se bem, melhor, estava bem com os seus pensamentos, as suas reflexões, as suas contemplações. Sim, porque daquele local, via-se larga extensão do mar só com um levantar do olhar. No Verão era mais agradável, porque a noite ainda demorava e por largo tempo desfrutava do prateado do mar estendendo-se pelo horizonte com tonalidades de brilho diferentes consoante o sol se deslocava até cair inclinado sobre as águas. Mas chegado o Outono, já só a noite se oferecia ao olhar que levantava, na procura da mistura das cores e do oceano espraiando-se pela terra. Nos últimos meses procurava com mais frequência aquele local, caminhava um pouco, lia muito e a cada momento, parava e estendia os olhos à procura de imagens. Por vezes procurava um papel e escrevia o que chamava de poemas. Eram palavras em que construía diálogos com alguém. Em certas ocasiões, esses diálogos pareciam conter pessoas, gentes, personagens, melhor dito, a figura de uma mulher, não uma qualquer, mas com rosto, com voz, com formas. Via-a nas águas do mar, sorrindo enquanto voava sobre as ondas, observava os cabelos esvoaçando nas velas desfraldadas de veleiros que atravessavam em direcção a oeste e via-lhe os olhos vogar de alegria nas ondas de luz do farol que esticava os seus braços pela escuridão da noite. Sentia-lhe a doçura do olhar, via-lhe o rosto pequeno de formas perfeitas e um sorriso que abraçava o tempo. Era como uma tempestade de letícia se espalhasse na escuridão. Naquele dia, porém, qual pássaro galopando no ar dirigiu-se para si, viu-a perfeitamente de asas abertas, corpo pequeno e franzino, pousar-lhe no peito e abraçar-lhe a alma com um gesto de ternura, encostando o rosto e transferindo o calor que há muito partira e, falou, lembrava-se perfeitamente de a ter ouvido falar, sentia ainda aquelas palavras ternas e meigas sussurrando-lhe segredos aos ouvidos. Não resistindo a esse momento único, estendeu os braços para lhe acariciar o rosto e beijar o olhar. Ouviu de novo aquela voz como um canto marítimo, mas não conseguia traduzir o que escutava, não conseguia entender o que transmitia o brilho castanho de olhos tão doces. Fez então um esforço, abriu os seus próprios olhos e percebeu que o empregado lhe perguntava: «deseja alguma coisa?». «Sim, não, quer dizer, obrigado, de momento não». Recuperou o fôlego, arrumou os livros e os papéis, levantou-se e perdeu-se a caminhar na noite. Que sonho! Pena foi que não fosse verdadeiro.

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