POESIA AO AMANHECER
Olá! Amigos
O tempo parece querer regredir e impõe-nos este ar desanimador, diria até, desolador. Quase nos faz perder a esperança e os motores demoram a aquecer. Depois, prolonga-se até à tarde, tornando tudo mais difícil. É quase tão deprimente como a chuva miúda. Ontem saí às 4 horas que é uma óptima hora porque temos a sensação que o dia ainda está a começar. Fui para casa esperar o homem do gás, o qual demorou hora e meia. Andei a deambular pelo espaço a que chamo jardim para contentamento dos cães que adoram ter companhia. Pus-me a olhar e a pensar que em Outubro decidi arranjar aquele espaço e transformá-lo mesmo em jardim. Precisava de três coisas, tempo, trabalho e dinheiro. A primeira e a última escasseiam e para a do meio já vão faltando as forças. Então decidi fazer um plano em que trabalho três horas cada Domingo. Tem a vantagem de não me cansar muito, não me ocupar muito e o dinheiro vai sendo gasto aos poucos. Ao princípio, olhamos e não vemos nada, é como se estivéssemos quietos. Depois, pouco a pouco vai surgindo alguma coisa. Ontem, ao olhar, vi que já realizei um quarto do trabalho e que quando a Primavera chegar já vou ter motivos para ficar contente. Vai haver alguma disciplina e as flores vão florir. Quando estiver pronto levo-vos de visita. Para o ano. A vida é assim, feita de paciência, de pequenos gestos, de gestão da ansiedade, até que chega um tempo em que olhamos para trás e nos sentimos bem com nós próprios.
MOÇA MORENA E ÁGIL...
Moça morena e ágil, o sol que faz as frutas,
o que dilata os trigos, o que retorce as algas,
fez o teu corpo alegre, os luminosos olhos
e essa boca que tem o sorriso da água.
Um sol negro e ansioso enrola-se-te nos fios
da negra cabeleira, quando estendes os braços.
Tu brincas com o sol como se fosse um esteiro
e ele deixa-te nos olhos dois escuros remansos.
Moça morena e ágil, nada de ti me abeira.
Tudo de ti me afasta, como do meio-dia.
Tu és a delirante juventude da abelha,
a embriaguez da onda, a força que há na espiga.
Porém meu coração sombrio te procura
e eu amo o teu corpo alegre, a tua voz solta e fina.
Borboleta morena, suave e definitiva
como o trigal e o sol, como a papoila e a água.
PABLO NERUDA, in "Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada"
"...os fogos nucleares cessam à medida que o carbono se vai acumulando e a estrela, carecendo mais uma vez dos recursos necessários para se defender do peso das camadas exteriores, começa a contrair-se pela segunda vez sob a força da gravidade."
ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"
"No Fórum Económico Mundial de Davos de Janeiro de 2004 surgiu um elemento de inquietação, inesperado em cenáculos deste tipo - as deslocalizações. Enquanto estas disseram respeito às indústrias tradicionais, ninguém lhes encontrou defeitos. Mas agora elas passaram a afectar empregos que envolvem trabalho por vezes qualificado (informática, aconselhamento jurídico...) e afectam as classes médias. Em França, nas vésperas de datas eleitorais, o presidente da República e o governo aparentam descobrir os malefícios da desindustrialização, a fim de mascarar o seu desastroso balanço social. O caso Moulinex constitui um verdadeiro estudo de caso: submetida à «dura lei dos mercados financeiros», a empresa exigiu dos seus assalariados adaptações que não tinham fim; e morreu disso."
FRÉDÉRIC LORDON, in "Le Monde Diplomatique", Março de 2004
Porto, 09 de Março de 2004
O tempo parece querer regredir e impõe-nos este ar desanimador, diria até, desolador. Quase nos faz perder a esperança e os motores demoram a aquecer. Depois, prolonga-se até à tarde, tornando tudo mais difícil. É quase tão deprimente como a chuva miúda. Ontem saí às 4 horas que é uma óptima hora porque temos a sensação que o dia ainda está a começar. Fui para casa esperar o homem do gás, o qual demorou hora e meia. Andei a deambular pelo espaço a que chamo jardim para contentamento dos cães que adoram ter companhia. Pus-me a olhar e a pensar que em Outubro decidi arranjar aquele espaço e transformá-lo mesmo em jardim. Precisava de três coisas, tempo, trabalho e dinheiro. A primeira e a última escasseiam e para a do meio já vão faltando as forças. Então decidi fazer um plano em que trabalho três horas cada Domingo. Tem a vantagem de não me cansar muito, não me ocupar muito e o dinheiro vai sendo gasto aos poucos. Ao princípio, olhamos e não vemos nada, é como se estivéssemos quietos. Depois, pouco a pouco vai surgindo alguma coisa. Ontem, ao olhar, vi que já realizei um quarto do trabalho e que quando a Primavera chegar já vou ter motivos para ficar contente. Vai haver alguma disciplina e as flores vão florir. Quando estiver pronto levo-vos de visita. Para o ano. A vida é assim, feita de paciência, de pequenos gestos, de gestão da ansiedade, até que chega um tempo em que olhamos para trás e nos sentimos bem com nós próprios.
MOÇA MORENA E ÁGIL...
Moça morena e ágil, o sol que faz as frutas,
o que dilata os trigos, o que retorce as algas,
fez o teu corpo alegre, os luminosos olhos
e essa boca que tem o sorriso da água.
Um sol negro e ansioso enrola-se-te nos fios
da negra cabeleira, quando estendes os braços.
Tu brincas com o sol como se fosse um esteiro
e ele deixa-te nos olhos dois escuros remansos.
Moça morena e ágil, nada de ti me abeira.
Tudo de ti me afasta, como do meio-dia.
Tu és a delirante juventude da abelha,
a embriaguez da onda, a força que há na espiga.
Porém meu coração sombrio te procura
e eu amo o teu corpo alegre, a tua voz solta e fina.
Borboleta morena, suave e definitiva
como o trigal e o sol, como a papoila e a água.
PABLO NERUDA, in "Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada"
"...os fogos nucleares cessam à medida que o carbono se vai acumulando e a estrela, carecendo mais uma vez dos recursos necessários para se defender do peso das camadas exteriores, começa a contrair-se pela segunda vez sob a força da gravidade."
ROBERT JASTROW, in "A Arquitectura do Universo"
"No Fórum Económico Mundial de Davos de Janeiro de 2004 surgiu um elemento de inquietação, inesperado em cenáculos deste tipo - as deslocalizações. Enquanto estas disseram respeito às indústrias tradicionais, ninguém lhes encontrou defeitos. Mas agora elas passaram a afectar empregos que envolvem trabalho por vezes qualificado (informática, aconselhamento jurídico...) e afectam as classes médias. Em França, nas vésperas de datas eleitorais, o presidente da República e o governo aparentam descobrir os malefícios da desindustrialização, a fim de mascarar o seu desastroso balanço social. O caso Moulinex constitui um verdadeiro estudo de caso: submetida à «dura lei dos mercados financeiros», a empresa exigiu dos seus assalariados adaptações que não tinham fim; e morreu disso."
FRÉDÉRIC LORDON, in "Le Monde Diplomatique", Março de 2004
Porto, 09 de Março de 2004
3 Comments:
Fala-se de Primavera mas quem está cá é uma espécie de Verão, que sem ser de S. Martinho teima em não nos deixar! Estará assim dia 18?!?!?
Beijinhos
Ora cá estou eu outra vez!!!
Antes de nos encontrarmos para a nossa próxima caminhada, tenho um desafio para ti. Passa pelo meu blog e vê qual. Fico à espera!
Beijinhos e bom fim-de-semana.
ha... no dia 18 vocês vão para o Gerês outra vêz!!!
aproveitem, e agasalhem-se as noites de outono no Gerês devem ser geladas.
beijinhos
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