POESIA AO AMANHECER
Bom dia, meus Amigos
Já vos contei por mais de uma vez que olho para trás com um misto de saudosismo e de análise histórica. Certos senhores ao usurparem o poder procuram meios e formas de não o perderem. Uma delas, é o de tentar atrasar o mais possível o desenvolvimento. É verdade, disse desenvolvimento e não crescimento. Sei que agora se diz muito, desenvolvimento sustentado, como se todo o desenvolvimento não seja um avançar harmonioso das várias componentes sociais e, portanto, sustentado. Por isso, quando vos falarem de desenvolvimento sustentado, desconfiem e à cautela, peçam mentiras novas. Pois uma forma de perpetuar o poder, era o de evitar o desenvolvimento e, mantendo a sociedade estagnada, gerava-se uma certa quietude. Assim se passou connosco até há 35 anos atrás. Por outro lado, tal situação, como requeria imensa mão-de-obra, gerava emprego. Barato, claro. A seguir, com a liberdade e uma democracia que cada vez mais se parece com um baile de máscaras, desenvolvemo-nos, melhor, crescemos, rápida e desordenadamente. Aprendemos as melhores técnicas do marketing e da demagogia e precarizamos o emprego até quase ao absoluto e se há coisas que me magoam a alma é ver jovens em idade que deveriam estar a construir o futuro, passarem de emprego para emprego sem conseguirem um mínimo de estabilidade psicológica para alimentarem algum sonho em companhia de alguém. E os mesmos que geram toda esta situação que reputo de desgraça social, são os mesmos que tangem os sinos pela família, contra a desagregação social e outras arengas do género. Quando chegam às empresas, começam a falar em diminuição de custos, racionalização de recursos, aumento de produtividade e usam, como um dos meios de alcançar todas essas palermices, o contratar a prazo por, um ano, dois, três, quatro e depois da passagem dessa figura sinistra que dá pelo nome de Bagão, cinco e seis anos. Resta ainda acrescentar que terminada esta série tudo pode recomeçar na empresa seguinte. De há uns anos a esta parte periodicamente vivo este drama. De tempos a tempos participo numa saga de, com palavras e sentimentos, tentar fazer prevalecer razões humanas e sociais sobre outras de índole meramente económica e financeira. Por vezes, conseguimos alcançar o objectivo e é reconfortante ficar no silêncio da vida com a sensação de dever cumprido. Outras, não nos deixam vencer e a mágoa e a impotência amortalham-nos a vontade. De momento, preparamo-nos para nova saga e a angústia de não sabermos até onde nos vão deixar chegar, quase nos paralisa o pensamento. Saber que nos próximos meses oito jovens podem ter de recomeçar a vida toda desde o princípio, deixa-nos um sabor amargo nas ideias. Mas acreditamos sempre, acreditamos até ao último momento. A experiência já nos ensinou a usar a artilharia com cuidado, dosear as salvas, até que, em desespero de causa, recorrer às baterias de grande calibre. Vamos ver como vai ser desta vez, mas gostava que chegássemos ao fim com um sorriso. É um sorriso que só nós vemos, mas um sorriso é sempre um sorriso.
Já vos contei por mais de uma vez que olho para trás com um misto de saudosismo e de análise histórica. Certos senhores ao usurparem o poder procuram meios e formas de não o perderem. Uma delas, é o de tentar atrasar o mais possível o desenvolvimento. É verdade, disse desenvolvimento e não crescimento. Sei que agora se diz muito, desenvolvimento sustentado, como se todo o desenvolvimento não seja um avançar harmonioso das várias componentes sociais e, portanto, sustentado. Por isso, quando vos falarem de desenvolvimento sustentado, desconfiem e à cautela, peçam mentiras novas. Pois uma forma de perpetuar o poder, era o de evitar o desenvolvimento e, mantendo a sociedade estagnada, gerava-se uma certa quietude. Assim se passou connosco até há 35 anos atrás. Por outro lado, tal situação, como requeria imensa mão-de-obra, gerava emprego. Barato, claro. A seguir, com a liberdade e uma democracia que cada vez mais se parece com um baile de máscaras, desenvolvemo-nos, melhor, crescemos, rápida e desordenadamente. Aprendemos as melhores técnicas do marketing e da demagogia e precarizamos o emprego até quase ao absoluto e se há coisas que me magoam a alma é ver jovens em idade que deveriam estar a construir o futuro, passarem de emprego para emprego sem conseguirem um mínimo de estabilidade psicológica para alimentarem algum sonho em companhia de alguém. E os mesmos que geram toda esta situação que reputo de desgraça social, são os mesmos que tangem os sinos pela família, contra a desagregação social e outras arengas do género. Quando chegam às empresas, começam a falar em diminuição de custos, racionalização de recursos, aumento de produtividade e usam, como um dos meios de alcançar todas essas palermices, o contratar a prazo por, um ano, dois, três, quatro e depois da passagem dessa figura sinistra que dá pelo nome de Bagão, cinco e seis anos. Resta ainda acrescentar que terminada esta série tudo pode recomeçar na empresa seguinte. De há uns anos a esta parte periodicamente vivo este drama. De tempos a tempos participo numa saga de, com palavras e sentimentos, tentar fazer prevalecer razões humanas e sociais sobre outras de índole meramente económica e financeira. Por vezes, conseguimos alcançar o objectivo e é reconfortante ficar no silêncio da vida com a sensação de dever cumprido. Outras, não nos deixam vencer e a mágoa e a impotência amortalham-nos a vontade. De momento, preparamo-nos para nova saga e a angústia de não sabermos até onde nos vão deixar chegar, quase nos paralisa o pensamento. Saber que nos próximos meses oito jovens podem ter de recomeçar a vida toda desde o princípio, deixa-nos um sabor amargo nas ideias. Mas acreditamos sempre, acreditamos até ao último momento. A experiência já nos ensinou a usar a artilharia com cuidado, dosear as salvas, até que, em desespero de causa, recorrer às baterias de grande calibre. Vamos ver como vai ser desta vez, mas gostava que chegássemos ao fim com um sorriso. É um sorriso que só nós vemos, mas um sorriso é sempre um sorriso.
DESACERTO
Ternura em movimento,
Vamos os dois – o sol e a sombra juntos,
O futuro e o passado no presente.
O que te digo é urgente;
O que tu me respondes não tem pressa.
A minha voz acaba na vertente
Onde a tua começa.
Aperto as mãos enamoradas.
Uma quente, outra fria...
E sorrimos às flores que no caminho
Nos olham com seus olhos perfumados.
Tu, de pura alegria;
Eu, de melancolia...
Um a cuidar, e o outro sem cuidados.
Canta um ribeiro ao lado.
Ambos o ouvimos, mas diversamente.
O que em ti é promessa de frescura
À tara de semente semeada,
Em mim é já certeza de secura
De raiz arrancada.
Almas amantes e desencontradas
Na breve conjunção
Que tiveram na vida,
Levo de ti um halo de pureza,
Deixo-te a inquietação de uma lembrança...
E é inútil pedir mais à natureza,
Surda ao meu desespero e à tua confiança.
Com a verdade fui solidário:
De instaurar a luz na terra.
MIGUEL TORGA
Ternura em movimento,
Vamos os dois – o sol e a sombra juntos,
O futuro e o passado no presente.
O que te digo é urgente;
O que tu me respondes não tem pressa.
A minha voz acaba na vertente
Onde a tua começa.
Aperto as mãos enamoradas.
Uma quente, outra fria...
E sorrimos às flores que no caminho
Nos olham com seus olhos perfumados.
Tu, de pura alegria;
Eu, de melancolia...
Um a cuidar, e o outro sem cuidados.
Canta um ribeiro ao lado.
Ambos o ouvimos, mas diversamente.
O que em ti é promessa de frescura
À tara de semente semeada,
Em mim é já certeza de secura
De raiz arrancada.
Almas amantes e desencontradas
Na breve conjunção
Que tiveram na vida,
Levo de ti um halo de pureza,
Deixo-te a inquietação de uma lembrança...
E é inútil pedir mais à natureza,
Surda ao meu desespero e à tua confiança.
Com a verdade fui solidário:
De instaurar a luz na terra.
MIGUEL TORGA
Ser-me-ia fácil fazer um relato dramático, mas nem vós nem eu nos interessamos por dramas – e há muitas coisas que se exprimem melhor não as dizendo. Assim, eu amara a vida. Era em nome da vida, quero dizer, do meu futuro, que me esforçara por me reconquistar a mim próprio. Mas detesta-se a vida, quando se sofre.
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”
O homicídio de um terço dos doentes mentais alemães, entre Janeiro de 1940 e Agosto de 1941, representou para os nazis o ensaio – técnico e político – do genocídio dos judeus.”
SUSANNE HEIM, “Da «eutanásia» à «solução final» ”, in “Le Monde diplomatique, Maio de 2005.
Porto, 19 de Maio de 2005
SUSANNE HEIM, “Da «eutanásia» à «solução final» ”, in “Le Monde diplomatique, Maio de 2005.
Porto, 19 de Maio de 2005
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