Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

11 junho, 2009

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Sei que no início da semana vir junto de vós com palavras pesadas não é de todo aconselhável, pois ainda nos sentimos como ao acordar, meio estremunhados e com a luz do dia a perturbar-nos, mas hoje não resisto a levar-vos por uma viagem aos ideais, aos conceitos de valores e a alguns sentimentos de ética. Já todos devem saber que existe um jovem, Gonçalo Cadilhe de seu nome que deu a volta ao mundo, enviando crónicas semanais, creio que para a revista do Expresso. Um amigo meu que sabe como gosto de viagens e do mundo teve a gentileza de me oferecer um livro com essas crónicas. Posteriormente, o jovem partiu de novo, agora para a Patagónia. Esta região da Argentina é de uma grandeza espantosa, pela imensidade do espaço, pelo silêncio e pela infinita solidão. O meu amigo, há tempos trouxe-me também estas crónicas. Ainda não as li, mas ao dar uma vista de olhos deparei com uma pequena nota que me fez pensar. Muitas vezes, vivemos uma quantidade de situações sem nos interrogarmos verdadeiramente sobre o que fazemos. Optamos um dia por um determinado caminho e de seguida limitamo-nos a caminhar. Mas já uma vez me interroguei, sobre o que é ser comunista. E a resposta que sempre pareceu ser fácil num contexto puramente ideológico, tornou-se difícil num outro mais humano. Dei comigo a procurar razões. O que me tem movido de facto? O amor pela vida, pelo mundo e pelos seres humanos. A sensação inexplicável de liberdade, a vontade enorme de justiça e a revolta contra a desumanidade do poder e dos senhores que sempre o ocuparam. A solidariedade pelos que lutam por valores e conceitos morais que envolvem o conjunto da sociedade, o morrer imensas vezes com aqueles que morrem a combater pela razão e em nome de uma palavra à qual atribuo uma valoração fora do comum e que dá pelo nome de dignidade. Mas porquê esta arenga no começar da semana? Pois é, vem pelo facto do jovem viajante terminar uma crónica com palavras que não vou resistir a citar aqui. A primeira coisa que nos ocorreria é que quem viaja assim pelo mundo é porque tem dinheiro para isso e, se o tem, não vai reparar em pormenores como a pobreza. Mas ele reparou e viu ainda muito mais coisas. Escreveu que recordava as palavras de um seu amigo italiano, Rezzano de sua graça que na juventude tinha sido militante do Partido Comunista Italiano, que dizia, «Um homem que não foi comunista aos vinte anos, não tem coração; um homem que ainda o é aos cinquenta, não tem cabeça». Assim, rezava o tal Rezzano, mas o jovem viajante acrescentava que “Aos cinquenta, na Europa, os homens têm cabeça, têm bom senso, e têm barriga. Têm boas casas, carros, electrodomésticos, cultura, saúde, segurança social, férias retribuídas.” E tudo isto lhe ocorreu em plena Patagónia por ter encontrado um jovem casal de namorados e dele deixou também escritas estas palavras: “Ivan tem vinte e poucos anos, mas é provável que aos cinquenta continue a ser comunista. Um homem que não é comunista na América Latina não tem coração. Tenha a idade que tiver. Eu sei, eu viajei pelo continente, eu vi a fome, o analfabetismo, a desigualdade económica, a falta de infra-estruturas públicas, a ausência de responsabilidades sociais por parte dos Estados, a impunidade ostensiva e empanturrada desde a Guatemala de Rios Montt ao Chile de Pinochet. Ivan terá aos cinquenta a sua cabeça, talvez a sua barriga. Terá os filhos que Cintia antecipa já com um sorriso de cumplicidade e, quem sabe, terá livros publicados, um percurso literário. Espero que o meu amigo latino-americano tenha ainda coração – e o entusiasmo, a força e a fé que a mim, europeu, me faltam. Para lutar por um mundo possível, para acreditar num mundo melhor.” É reconfortante de quando em vez chegarem notícias do mundo que nos dizem não nos encontrarmos sós nesta batalha de rebeldia pela liberdade, por uma sociedade onde possamos todos abraçar-nos com um sorriso, sem que este tenha de ser um acto de coragem. Por mim, tenho lutado apesar de não esquecer as palavras de Miguel Torga de que «a honra era lutar sem esperança de vencer». Contudo, acredito. Porém, o mundo não vai mudar tão cedo, muito caminho haverá ainda para percorrer. Por isso, fui comunista aos vinte e ainda sou aos cinquenta e hei-de sê-lo até ao momento em que alguém me há-de fechar os olhos, porquanto alguém vai ter de o fazer, pois quero partir a olhar este mundo pelo qual estou apaixonado. Ah! E se puderem, embrulhem-me na bandeira desses ideais para que a alma se sinta um pouco aquecida.

Com a verdade fui solidário:
De instaurar a luz na terra.

Quis ser tão comum como o pão:
A luta não me encontrou ausente.

Porém aqui estou com o que amei,
Com a alegria que perdi:
Junto a esta pedra não repouso.

Trabalha o mar em meu silêncio.

PABLO NERUDA, “As pedras do Chile”, in “Presentes de um Poeta”

Não sofremos com os nossos vícios, sofremos tão-só por não nos podermos conformar com eles. Conheci todos os sofismas da paixão, conheci também todos os sofismas da consciência. As pessoas imaginam que reprovam certos actos porque a moral se lhes opõe; na realidade, obedecem (têm a felicidade de obedecer) a repulsas instintivas.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

Há sessenta anos, 57 por cento dos franceses consideravam a URSS o principal vencedor da guerra; em 2004, eram apenas 20 por cento. Este esquecimento progressivo do papel de Moscovo, amplificado pelos media, prende-se também com as polémicas sobre a política de Estaline entre 1939 e Junho de 1941, que puderam ser vistas com novos olhos na sequência de estudos históricos recentes. No entanto, pense-se o que se pensar sobre o Pacto Germano-Soviético, como é possível negar que, durante três anos, os russos conduziram uma grande parte da resistência – e, depois, da contra-ofensiva – à Wehrmacht? E que pagaram o preço de 20 milhões de mortos?

ANNIE LACROIX-RIZ, “O papel «esquecido» da União Soviética”, in “Le Monde diplomatique, Maio de 2005.

Porto, 16 de Maio de 2005

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

olá... quién escribe?, cómo puedo ver tu perfil?, buen artículo, conoces a Gonçalo Cadilhe? saludos!

1:33 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá. O meu perfil é simples. Há 57 anos que caminho pela vida n procura do caminho que me há-de conduzir às estrelas ou ao infinito como quisermos, sabendo que nesse espaço estelar reina a poesia onde se alimenta a alma dos homensw que vivem livres. Abracei a História como companheira, como afago das reflexões que me levam a interrogar, a natureza e o comportamento dos Homens, mesmo daqueles que não o merecem ser. Nascido na cidade do Porto, entre o rio e o mar, entre o passado e o futuro, entre um tempo fechado nas muralhas que a cidade teve e o espaço aberto que o oceano oferece, num desejo que mistura a vontade de ficar e a de partir.

Um abraço
Galileu, Galilei

PS - Só conheço o Gonçalo Cadilhe pela leitura dos seus liros e das crónicas

8:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

¡Obrigado!... me disculparás, yo no hablo portugues, pero me ha gustado tu entrada.

saludos

1:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hola, una vez más. Pero yo compreendo un rato el castellano, lo bastante para te compreender y entender perfecto. Escribir es que va um poco mas dificil, mas lo entenderas de cierto. La vida que nos ha permitido vivir no es facil, pero se alimentarmos ideales, sueños y aqui e ali alcançarmos la capacidad para um poco de lucha purde ser que algo haga sentido. Es algo asi que vou escribindo para mi mismo. Quiça un dia no vemça la verdad a de los pueblos oprimidos por tanta violencia.

un abrazo
Galileu, Galilei

8:00 da tarde  

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