Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

27 abril, 2009

POESIA AO AMANHECER


Pois é, meus Amigos,

A partir de amanhã, estou de férias e no Sábado de manhã, que pensava ser bem cedo, mas já tenho dúvidas, parto numa viagem ao encontro da Suiça. É verdade, nem eu quero acreditar, mas preparem-se que com o dinheiro que levo, podem estar sujeitos a um telefonema para me irem buscar aí a meio da viagem para não ficar perdido a lavar pratos algures. Pois lá vou, por essa Trás-os-Montes de calor e lindas flores na primavera, atravessando a aridez de toda a Meseta castelhana até entrar por Lleida (que os espanhóis de Espanha chamam Lérida), nessa Catalunha sonhada e na sua capital, Barcelona do Mediterrâneo com toda a grandiosidade de uma nação rica. Entrarei na França pela terra mártir dos Cátaros e atravessarei os pântanos da Camargue à procura de Marselha e do Mónaco, terras de gente bem, bem de dinheiro, entenda-se. Rumarei então a Génova esse porto marítimo que a Idade Média e o Renascimento consagraram como uma zona de expansão e de riqueza e que muitos pilotos deu às viagens de navegação e de conquista (nunca chamamos assim, claro). Depois, bem depois, será Milão, com a sua catedral e o seu castelo medieval tantas vezes destruído como castigo pela independência dos seus habitantes. No resto da tarde, rumaremos a norte e após contornarmos o Lago Magiore, penetraremos na Suiça através de Locarno. A partir daqui será comprovar se o que vimos nos filmes é verdadeiro (de certeza que é) e viajar para norte à procura de Luzern e da miúda que encontraremos ao fim de 4 meses e meio. Numa pequena visita à Suiça passaremos por Zurique e tentarei recordar uma visita de há trinta anos, estender o olhar pelo lago Constança, visita a St. Gallen e regresso a Luzern. Aqui começa o regresso, por Berna e Geneve onde nos despedimos da miúda e entramos na França a caminho de Lyon e Toulouse para entrarmos em Andorra numa travessia dos Pirinéus a caminho de Espanha. Tudo agora será mais rápido porque quando voltamos já é mais a tristeza do que a alegria. Todas as festas são assim. Ainda deve dar tempo para descermos a Madrid por Guadalajara e darmos uma espreitadela à capital vizinha, que dizem ser de nuestros hermanos, mas que tenho muitas dúvidas pois falam sempre para nós como se fossem cabeça de casal. E no fim, já no fim, a última saída para Ávila, Salamanca e a entrada pelo IP5 nessa pátria amada que se cobriu de bandeiras num misto de parolice e de amor pátrio, mas que no fundo da alma dos mais puros se converteu numa manifestação de unidade por um objectivo que se tornou comum e agregador das gentes e das vontades. E no dia 26, se Deus quiser, o tempo ajudar e o dinheiro deixar, cá estarei de novo com um grande abraço para todos vós.

O DESTINO DA LIRA

Cantar o amor é destino
Quando o seio pulsa ardente,
Quando no nosso horizonte
Surge a imagem resplendente
Dum sol que a aridez da vida
Transforma em jardim florente.

Mas quando a chama se extingue,
Que no peito nos ardia,
A lira não canta amores,
Nem os sonha a fantasia;
Então natureza e pátria
Só nos inspiram poesia.

Depois, os anos declinam
Como o sol no azul dos céus;
E quando a noite da vida
Já nos estende seus véus,
Todos os cantos da lira
São consagrados a Deus!

JÚLIO DINIS

"Mais tarde, quando vi a confusão que as pessoas fazem com o corpo lembrei-me de como tudo aquilo era tão diferente: Era uma coisa simples e inocente como é tudo o que manda fazer a natureza. Ainda hoje acho que as pessoas, quando gostam umas das outras, deviam fazer-se festas e arranharem-se nas costas, assim, devagarinho, como ela me fazia."

ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"

"A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. à medida que o desporto se fez indústria, ele foi perdendo a beleza que nasce da alegria de jogar porque sim.
Neste mundo de fim de século, o futebol profissional condena o que é inútil e é inútil o que não é rentável. Ninguém ganha com essa loucura que faz com que o homem seja criança por um tempo, jogando como joga a criança com o balão e como joga o gato com o novelo de lã: bailarino que dança com uma bola leve como o balão que vagueia pelo ar e como o novelo que rola, jogando sem saber que joga. Sem motivo, sem relógio e sem árbitro."

EDUARDO GALEANO, "O Futebol", in "Manifesto", Junho de 2004

Porto, 07 de Julho de 2004

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