Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

12 março, 2009

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

Há pouco quando vinha a entrar na auto-estrada, sim porque agora o IC1 em Leça é uma auto-estrada, tive uma grande sensação de tranquilidade e apeteceu-me voltar para trás, deixar o carro, atravessar a ponte, apanhar o Metro e vir nas calmas a ler como se tivesse todo o tempo do mundo. Alguns de nós conseguem isso. Um dia, agem como se o tempo não existisse, reduzisse a velocidade ao mínimo. Na maior parte das vezes, a questão é que quando esse tempo chega, já somos demasiado velhos para o aproveitar em toda a plenitude. Quiçá, um dia destes não decido mesmo fazer parar o tempo e olhar para o céu e fico a aguardar a chegada das estrelas.

Amiga, não morras.
Ouve estas palavras que me saem ardendo,
e que ninguém diria se eu não te dissera.

Amiga, não morras.

Eu sou o que espera na estrelada noite.
O que debaixo do sangrento sol poente te espera.

Olho os frutos a cair na terra sombria.
Vejo as gotas de orvalho dançando na erva.

Na noite o espesso perfume das rosas
quando dança a ronda das sombras imensas.

Sob o céu do Sul, o que te espera quando
o ar da tarde como uma boca beija.

Amiga, não morras.

Eu sou o que cortou as grinaldas rebeldes
para o leito selvagem fragrante a sol e a selva.
O que trouxe no braço jacintos amarelos.
E rosas desgarradas. E papoulas sangrentas.

O que cruzou os braços para te esperar, agora.
O que rompeu os seus arcos. O que vergou suas flechas.

Eu sou o que guarda nos lábios o sabor das uvas.
Racimos esfregados. Mordidas vermelhas.

O que te chama desde as alturas brotadas.
Eu sou o que te deseja na hora do amor.

O ar da tarde faz vibrar os ramos mais altos.
Ébrio, meu coração, debaixo de Deus, cambaleia.

O rio desatado rompe às vezes a chorar
sua voz se adelgaça e se faz pura e trémula.

Retumba, entardecida, a queixa azul da água.
Amiga, não morras!

Eu sou o que te espera na estrelada noite,
sobre as praias áureas, sobre as douradas eras.

O que cortou jacintos para o teu leito, e rosas.
Estendido entre as ervas, eu sou o que te espera!

PABLO NERUDA, "El bondero entusiasta", in "Presentes de um Poeta"

" - Não... sempre que me passava pela cabeça pensava logo que ia magoar muita gente. O mundo tinha umas certas regras e eu aceitei-as, tomei compromissos."

ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"

À luz da evidência fóssil e da documentação arqueológica disponível não é possível reconstituir a evolução das práticas sexuais dos nossos mais remotos antepassados e dos primeiros homens. Será possível vislumbrar as "origens" do erotismo nas sociedades de bonobos?"

JOÃO PEDRO CUNHA-RIBEIRO, "Sexo, Bifaces e Imagens", in "História", Maio de 2004

Porto, 22 de Junho de 2004

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