POESIA AO AMANHECER
Bom dia, Amigos
Há pouco quando vinha a entrar na auto-estrada, sim porque agora o IC1 em Leça é uma auto-estrada, tive uma grande sensação de tranquilidade e apeteceu-me voltar para trás, deixar o carro, atravessar a ponte, apanhar o Metro e vir nas calmas a ler como se tivesse todo o tempo do mundo. Alguns de nós conseguem isso. Um dia, agem como se o tempo não existisse, reduzisse a velocidade ao mínimo. Na maior parte das vezes, a questão é que quando esse tempo chega, já somos demasiado velhos para o aproveitar em toda a plenitude. Quiçá, um dia destes não decido mesmo fazer parar o tempo e olhar para o céu e fico a aguardar a chegada das estrelas.
Amiga, não morras.
Ouve estas palavras que me saem ardendo,
e que ninguém diria se eu não te dissera.
Amiga, não morras.
Eu sou o que espera na estrelada noite.
O que debaixo do sangrento sol poente te espera.
Olho os frutos a cair na terra sombria.
Vejo as gotas de orvalho dançando na erva.
Na noite o espesso perfume das rosas
quando dança a ronda das sombras imensas.
Sob o céu do Sul, o que te espera quando
o ar da tarde como uma boca beija.
Amiga, não morras.
Eu sou o que cortou as grinaldas rebeldes
para o leito selvagem fragrante a sol e a selva.
O que trouxe no braço jacintos amarelos.
E rosas desgarradas. E papoulas sangrentas.
O que cruzou os braços para te esperar, agora.
O que rompeu os seus arcos. O que vergou suas flechas.
Eu sou o que guarda nos lábios o sabor das uvas.
Racimos esfregados. Mordidas vermelhas.
O que te chama desde as alturas brotadas.
Eu sou o que te deseja na hora do amor.
O ar da tarde faz vibrar os ramos mais altos.
Ébrio, meu coração, debaixo de Deus, cambaleia.
O rio desatado rompe às vezes a chorar
sua voz se adelgaça e se faz pura e trémula.
Retumba, entardecida, a queixa azul da água.
Amiga, não morras!
Eu sou o que te espera na estrelada noite,
sobre as praias áureas, sobre as douradas eras.
O que cortou jacintos para o teu leito, e rosas.
Estendido entre as ervas, eu sou o que te espera!
PABLO NERUDA, "El bondero entusiasta", in "Presentes de um Poeta"
" - Não... sempre que me passava pela cabeça pensava logo que ia magoar muita gente. O mundo tinha umas certas regras e eu aceitei-as, tomei compromissos."
ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"
À luz da evidência fóssil e da documentação arqueológica disponível não é possível reconstituir a evolução das práticas sexuais dos nossos mais remotos antepassados e dos primeiros homens. Será possível vislumbrar as "origens" do erotismo nas sociedades de bonobos?"
JOÃO PEDRO CUNHA-RIBEIRO, "Sexo, Bifaces e Imagens", in "História", Maio de 2004
Porto, 22 de Junho de 2004
Há pouco quando vinha a entrar na auto-estrada, sim porque agora o IC1 em Leça é uma auto-estrada, tive uma grande sensação de tranquilidade e apeteceu-me voltar para trás, deixar o carro, atravessar a ponte, apanhar o Metro e vir nas calmas a ler como se tivesse todo o tempo do mundo. Alguns de nós conseguem isso. Um dia, agem como se o tempo não existisse, reduzisse a velocidade ao mínimo. Na maior parte das vezes, a questão é que quando esse tempo chega, já somos demasiado velhos para o aproveitar em toda a plenitude. Quiçá, um dia destes não decido mesmo fazer parar o tempo e olhar para o céu e fico a aguardar a chegada das estrelas.
Amiga, não morras.
Ouve estas palavras que me saem ardendo,
e que ninguém diria se eu não te dissera.
Amiga, não morras.
Eu sou o que espera na estrelada noite.
O que debaixo do sangrento sol poente te espera.
Olho os frutos a cair na terra sombria.
Vejo as gotas de orvalho dançando na erva.
Na noite o espesso perfume das rosas
quando dança a ronda das sombras imensas.
Sob o céu do Sul, o que te espera quando
o ar da tarde como uma boca beija.
Amiga, não morras.
Eu sou o que cortou as grinaldas rebeldes
para o leito selvagem fragrante a sol e a selva.
O que trouxe no braço jacintos amarelos.
E rosas desgarradas. E papoulas sangrentas.
O que cruzou os braços para te esperar, agora.
O que rompeu os seus arcos. O que vergou suas flechas.
Eu sou o que guarda nos lábios o sabor das uvas.
Racimos esfregados. Mordidas vermelhas.
O que te chama desde as alturas brotadas.
Eu sou o que te deseja na hora do amor.
O ar da tarde faz vibrar os ramos mais altos.
Ébrio, meu coração, debaixo de Deus, cambaleia.
O rio desatado rompe às vezes a chorar
sua voz se adelgaça e se faz pura e trémula.
Retumba, entardecida, a queixa azul da água.
Amiga, não morras!
Eu sou o que te espera na estrelada noite,
sobre as praias áureas, sobre as douradas eras.
O que cortou jacintos para o teu leito, e rosas.
Estendido entre as ervas, eu sou o que te espera!
PABLO NERUDA, "El bondero entusiasta", in "Presentes de um Poeta"
" - Não... sempre que me passava pela cabeça pensava logo que ia magoar muita gente. O mundo tinha umas certas regras e eu aceitei-as, tomei compromissos."
ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"
À luz da evidência fóssil e da documentação arqueológica disponível não é possível reconstituir a evolução das práticas sexuais dos nossos mais remotos antepassados e dos primeiros homens. Será possível vislumbrar as "origens" do erotismo nas sociedades de bonobos?"
JOÃO PEDRO CUNHA-RIBEIRO, "Sexo, Bifaces e Imagens", in "História", Maio de 2004
Porto, 22 de Junho de 2004
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home