Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

11 outubro, 2008

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

Vou falar-vos de um filme que ontem passou na TV, o qual nunca soube escrever o nome. Penso que o sei dizer, mas escrever... Braveheart (?), A sombra do guerreiro(?). Bem, não importa, já devem ter identificado. É um pouco a história da perda da independência da Escócia e tudo gira à volta de um homem apaixonado que em nome de um grande amor se torna um herói a lutar pela pátria em pleno século XIV e ali ficam tão evidentes as traições, a baixeza moral dos senhores que sempre detiveram o poder, esses nobres feudais que entregavam os verdadeiros homens em nome do seu poder pessoal, do seu poder territorial, em nome do seu feudo. Repetem-se cenas no filme que quase deixam ódio, um ódio enorme com um desejo de vingança. Prefiro chamar-lhe ira, essa ira que Mozart atribui a Deus no seu Requiem, porque Deus também se deve revoltar com a atitude desta gente sem nome, sem pátria e sem lei. Essa ira que vou alimentando ao longo da vida e que ajuda a todos os dias nos levantarmos com vontade de prosseguir um combate em nome da justiça, da dignidade e também da moral. No fim, dizia o herói, todos os homens morrem, mas nem todos vivem de facto. É verdade, uma parte considerável dos homens, limitam-se a morrer, de facto nunca viveram, porque quando se é miserável, não se vive, morre-se apenas. Preso, acorrentado, foi necessariamente condenado pelos homens, os que representavam a lei, da terra e de Deus. Os primeiros são miseráveis, os segundos são duplamente miseráveis, execráveis, daqueles que as revoluções matam sem piedade e sem remorso. Diziam-lhe estes últimos, para pedir misericórdia, caso contrário, teria de ser purificado através das torturas mais violentas. In nomine Dei! Incrível, como a história está cheia destes humúnculos. Continuam a existir e a ocupar os lugares do poder, quer tenham ar beatífico, santo ou de hipócritas, continuam a abençoar a injustiça a desigualdade, as violências psicológicas e económicas que todos os dias se abatem sobre os deserdados, a arraia-miúda de sempre. Claro que agora vestem roupagens democráticas, quer se chamem Bagão Félix, Melícias, Feitor Pinto ou outra coisa qualquer.
No fim, aparece aquele que iria ser o rei da Escócia por sobre os cadáveres de tanta gente do seu povo que deu a vida em nome da pátria e o comentário entre os senhores do exército inglês a quem aquele ia prestar homenagem não podia ser mais claro: "espero que tenhais limpo as botas, pois estão prestes a ser lambidas por um rei". Era o que valia aquele reinado. Porém, num último assomo de coragem e de dignidade esse que iria ser rei, assume o comando dos esfarrapados e em vez de prestar homenagem, decide imolar-se com a sua gente contra o exército inglês em nome de todo o sangue anteriormente derramado. Diz no filme que morreram como poetas guerreiros. Corria o ano de 1314 e a Escócia não voltou a ser livre.

LIRA QUEBRADA

Uma febre, um ardor nunca apagado,
Um querer sem motivo, um tédio à vida
Sem motivo também - caprichos loucos,
Anelo doutro mundo e doutras coisas;

Desejar coisas vãs, viver de sonhos,
Correr após um bem logo esquecido,
Sentir amor e só topar frieza,
Cismar venturas e encontrar só dores.

GONÇALVES DIAS


"A minha tia Suzana era um pequeno oásis no meio da desolação daquele deserto sem sol. Sim, era um deserto sem sol e sem areia porque tudo estava sempre cheio de nuvens, a chuva deixando ficar a humidade no tempo e a minha memória, na sua autoflagelação, só me fazia recordar coisas passadas no Inverno."

ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"

"Mas há muitos casos em que as coisas são ainda melhores quando só acontecem depois de uma espera que foi tão longa que até já nos tínhamos esquecido delas."

CLARA PINTO CORREIA

Porto, 31 de Maio de 2004


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