LEITURAS
Caros telespectadores hoje vou apresentar o livro “O Rapaz do pijama às Riscas” de Jonh Boyne.
O livro conta a história de um rapaz de 8 anos chamado Bruno e da sua família que vivia em Berlim numa casa com cinco andares, com uma janela no último andar, de onde Bruno adorava espreitar em bicos de pé. De lá conseguia ver toda a cidade. Um dia o pai de Bruno chegou a casa mais feliz do que o habitual. Bruno sabia que alguma coisa tinha acontecido, por isso, decidiu perguntar ao pai o que se passava. O pai explicou a toda a família que o Fúria ia jantar a casa deles. Bruno não sabia muito bem quem era o Fúria apenas sabia que era uma pessoa importante. Perguntou ao seu pai quem era. Gretel a sua irmã mais velha a quem Bruno chamava “Caso Perdido”, desatou a rir explicando a Bruno que o Fúria era o Presidente; era quem mandava em todas as pessoas, pelo menos em Berlim, ela sabia que sim. No dia seguinte ao jantar Bruno tinha acabado de chegar da escola e viu Maria a sua empregada a arrumar tudo o que ele tinha no quarto para dentro de caixas.
Bruno assustado vai rapidamente ter com a mãe a perguntar o que se passava. A mãe explicou que se iam mudar para Acho-Vill. Bruno ficou muito triste, pois ia ter saudades da Casa de Berlim e dos seus melhores amigos de sempre.
As mudanças foram feitas, bruno não tinha gostado da casa nova, onde a janela do quarto dele tinha vista para um grande campo vedado onde se via pessoas todas de pijama às riscas, a marchar atrás de soldados.
Bruno passado alguns meses cada vez gostava menos da casa de Acho-Vill, até que decidiu fazer explorações pelo campo, e foi até à vedação onde se encontrou com um rapaz chamado Shmuel de quem se tornou amigo. A partir desse dia Bruno se encontrava com o amigo; passava já um ano que Bruno estava na casa nova quando a mãe de Bruno decidiu voltar para Berlim dizendo que ali não era um bom sítio para criar uma família. No dia em que a mãe lhe disse isso, Bruno foi contar a Shmuel, que nesse dia estava muito triste do que o normal, pois não sabia do seu pai. Bruno combinou com Shmuel que no dia seguinte antes de voltar para Berlim, iria ajudar Shmuel a encontrar o seu pai do outro lado da vedação. No dia seguinte Shmuel trouxe até à vedação um pijama às riscas igual ao seu para Bruno vestir. Bruno lá o vestiu, passou a vedação e procuraram o pai de Shmuel por todo o lado, mas não o encontraram, a meio da sua investigação viu que os soldados dentro da vedação começaram a assobiar e as pessoas a fazer filas. Bruno e Shmuel juntaram-se à fila e quando deram conta estavam dentro de uma sala onde Bruno deu a mão a Shmuel e disse-lhe que era o seu melhor amigo.
A partir daí nunca mais ninguém viu Bruno.
Os pais ficaram muito tristes não sabendo o que lhe tinha acontecido, a única coisa que encontraram foi a roupa de Bruno junto da vedação. Desde aí até Gretel “O Caso Perdido” chorou por não saber do irmão.
Miguel (13 anos)
Esta é uma história especial e muito difícil de descrever. Embora fosse normal incluir aqui algumas pistas sobre o seu conteúdo, entendemos que neste caso isso iria prejudicar a experiência da leitura.
Pensamos, de facto, que é importante começar a ler esta obra sem saber do que ela trata e, para os mais curiosos, avançamos apenas isto:
quem ler este livro vai embarcar numa viagem com um rapaz de nove anos chamado Bruno; e, mais cedo ou mais tarde, vai chegar com o Bruno a uma vedação…
vedações como essa, existem um pouco por todo o mundo. Oxalá o leitor nunca encontre nenhuma igual.
O livro aparece-nos como o relato de uma criança que nos vai falando da sua experiência de vida nos anos de 1943/4 numa Berlim e numa Europa em guerra, mas esta, por razões que não se chega a compreender, não surge em toda a história. Apenas ao longe, muito ao longe se presume, mas não se chega a sentir. Nesta obra, “O Rapaz do Pijama às Riscas” o autor escreve uma história para crianças, uma história doce, eivada até de ternura, de simplicidade, de ingenuidade mais do que ignorância e com isso esconde-nos da barbárie. Por um lado, é positivo, se pensarmos na violência que pode significar uma criança ser confrontada com a brutalidade da guerra, da morte, do exercício da selvajaria produzida pelos que deviam ser, ou assim pensávamos que eram, seres humanos e, a criança ao ler sempre pode perguntar o significado de alguns aspectos como por exemplo, o campo de prisioneiros e os adultos encontrarem a forma de lhes explicar esse momento negro da humanidade aqui tão próximo do nosso tempo. Por outro lado, podemos questionar-nos se não haveria vantagem em que a história nos levasse paulatinamente ao inferno. Fica a dúvida. De qualquer forma, é uma abordagem original a um tema já tantas vezes contado e da primeira à última página aparecem-nos vivências relatadas por Bruno que merecem alguma reflexão, embora se possa dizer que alguns aspectos possam estar desenhados com o quadro mental da nossa época. Bruno vivia num mundo fechado e opulento, apesar de aparentar alguma discrição. Nasceu já com o nazismo no poder e tudo parece indicar que o pai terá sido um dos polícias de Hitler que foi subindo na carreira até chegar a essa confiança de ser visitado pelo Fúria e nomeado comandante do campo de concentração de Auschwitz. A criança desconhecia esse facto de viver no seio de uma família que hoje chamaríamos de novos ricos e de uma riqueza crescida à sombra da violência do poder. Constata-se através dos avós paternos do que seria a simplicidade da vida anterior e regista-se a dignidade e coragem da avó na denúncia em que se suportava a vida que levavam. O mundo de Bruno era até então, a grande casa onde habitava, os avós aqui e ali, O Caso Perdido da irmã todos os dias e três amigos que só uma vez esquecerá o nome. Este mundo vai ruir uma tarde de um dia qualquer e tudo recomeça na sua vida, a qual ficará reduzida aos pais, à irmã e a um campo desconhecido onde toda a gente vestia de pijama às riscas. Quando deixa Berlim, já a cidade sofria bombardeamentos, mas esta realidade não se encontra presente na história e o pai do Bruno é nomeado comandante do campo de extermínio quando a cúpula de loucura que ocupava o poder na Alemanha decide acelerar o processo de matança de seres humanos. De uma forma serena e de uma leitura tranquila, Jonh Boyne vai-nos mostrando alguns dramas da época e das consequências da guerra. O pai apenas interessado na carreira, a mãe, deslocada, sem apoio, sozinha no meio de um deserto social e humano e sabendo o que se encontra para lá daquela vedação de arame, certamente que caiu nas palavras de afago do tenente Kostler. Gretel, a irmã, chega a um momento em que se desprende das bonecas e percebe o mundo em que vive. Estávamos já em 1944 quando, todos os dias, deslocava setas num mapa da Europa. Era a aproximação do fim da demência que abalava a Europa. Nessa época o Exército Vermelho encontrava-se a caminho de Varsóvia e esse facto terá levado o comandante a decidir reenviar a família para Berlim. Quando esperávamos ver Bruno regressar à sua antiga casa, acaba por desaparecer engolido por essa máquina infernal e de morte e talvez esta seja a mensagem mais premente que o autor nos deixa. Não para as crianças que não a compreenderão, mas para os adultos e essa mensagem, regressa sempre ao poema de Brecht. Ignorarmos as coisas, vivermos num mundo para além da realidade e supormos que esse mundo é o verdadeiro, não nos interrogarmos sobre o que acontece ao nosso lado, não nos liberta de sermos também sugados pela diabolização da vida e daqueles que a dominam. Bruno ainda tenta no momento final conhecer o que se encontra para além daquela barreira, mas será já tarde de mais.
Livro que nos cativa para o desconhecido, para a procura do que será o momento seguinte, como se chegará ao fim da investigação, por parte da criança que desconhece o mundo em que vive e que, apesar do drama que carrega o tema, nos conduz a uma reflexão que é útil em todas as épocas, tanto mais que aquela que se poderia ter pensado ser a última guerra, foi seguida por tantas outras com todas as crueldades, violências e actos de barbárie como todas que a antecederam.
O livro conta a história de um rapaz de 8 anos chamado Bruno e da sua família que vivia em Berlim numa casa com cinco andares, com uma janela no último andar, de onde Bruno adorava espreitar em bicos de pé. De lá conseguia ver toda a cidade. Um dia o pai de Bruno chegou a casa mais feliz do que o habitual. Bruno sabia que alguma coisa tinha acontecido, por isso, decidiu perguntar ao pai o que se passava. O pai explicou a toda a família que o Fúria ia jantar a casa deles. Bruno não sabia muito bem quem era o Fúria apenas sabia que era uma pessoa importante. Perguntou ao seu pai quem era. Gretel a sua irmã mais velha a quem Bruno chamava “Caso Perdido”, desatou a rir explicando a Bruno que o Fúria era o Presidente; era quem mandava em todas as pessoas, pelo menos em Berlim, ela sabia que sim. No dia seguinte ao jantar Bruno tinha acabado de chegar da escola e viu Maria a sua empregada a arrumar tudo o que ele tinha no quarto para dentro de caixas.
Bruno assustado vai rapidamente ter com a mãe a perguntar o que se passava. A mãe explicou que se iam mudar para Acho-Vill. Bruno ficou muito triste, pois ia ter saudades da Casa de Berlim e dos seus melhores amigos de sempre.
As mudanças foram feitas, bruno não tinha gostado da casa nova, onde a janela do quarto dele tinha vista para um grande campo vedado onde se via pessoas todas de pijama às riscas, a marchar atrás de soldados.
Bruno passado alguns meses cada vez gostava menos da casa de Acho-Vill, até que decidiu fazer explorações pelo campo, e foi até à vedação onde se encontrou com um rapaz chamado Shmuel de quem se tornou amigo. A partir desse dia Bruno se encontrava com o amigo; passava já um ano que Bruno estava na casa nova quando a mãe de Bruno decidiu voltar para Berlim dizendo que ali não era um bom sítio para criar uma família. No dia em que a mãe lhe disse isso, Bruno foi contar a Shmuel, que nesse dia estava muito triste do que o normal, pois não sabia do seu pai. Bruno combinou com Shmuel que no dia seguinte antes de voltar para Berlim, iria ajudar Shmuel a encontrar o seu pai do outro lado da vedação. No dia seguinte Shmuel trouxe até à vedação um pijama às riscas igual ao seu para Bruno vestir. Bruno lá o vestiu, passou a vedação e procuraram o pai de Shmuel por todo o lado, mas não o encontraram, a meio da sua investigação viu que os soldados dentro da vedação começaram a assobiar e as pessoas a fazer filas. Bruno e Shmuel juntaram-se à fila e quando deram conta estavam dentro de uma sala onde Bruno deu a mão a Shmuel e disse-lhe que era o seu melhor amigo.
A partir daí nunca mais ninguém viu Bruno.
Os pais ficaram muito tristes não sabendo o que lhe tinha acontecido, a única coisa que encontraram foi a roupa de Bruno junto da vedação. Desde aí até Gretel “O Caso Perdido” chorou por não saber do irmão.
Miguel (13 anos)
Esta é uma história especial e muito difícil de descrever. Embora fosse normal incluir aqui algumas pistas sobre o seu conteúdo, entendemos que neste caso isso iria prejudicar a experiência da leitura.
Pensamos, de facto, que é importante começar a ler esta obra sem saber do que ela trata e, para os mais curiosos, avançamos apenas isto:
quem ler este livro vai embarcar numa viagem com um rapaz de nove anos chamado Bruno; e, mais cedo ou mais tarde, vai chegar com o Bruno a uma vedação…
vedações como essa, existem um pouco por todo o mundo. Oxalá o leitor nunca encontre nenhuma igual.
O livro aparece-nos como o relato de uma criança que nos vai falando da sua experiência de vida nos anos de 1943/4 numa Berlim e numa Europa em guerra, mas esta, por razões que não se chega a compreender, não surge em toda a história. Apenas ao longe, muito ao longe se presume, mas não se chega a sentir. Nesta obra, “O Rapaz do Pijama às Riscas” o autor escreve uma história para crianças, uma história doce, eivada até de ternura, de simplicidade, de ingenuidade mais do que ignorância e com isso esconde-nos da barbárie. Por um lado, é positivo, se pensarmos na violência que pode significar uma criança ser confrontada com a brutalidade da guerra, da morte, do exercício da selvajaria produzida pelos que deviam ser, ou assim pensávamos que eram, seres humanos e, a criança ao ler sempre pode perguntar o significado de alguns aspectos como por exemplo, o campo de prisioneiros e os adultos encontrarem a forma de lhes explicar esse momento negro da humanidade aqui tão próximo do nosso tempo. Por outro lado, podemos questionar-nos se não haveria vantagem em que a história nos levasse paulatinamente ao inferno. Fica a dúvida. De qualquer forma, é uma abordagem original a um tema já tantas vezes contado e da primeira à última página aparecem-nos vivências relatadas por Bruno que merecem alguma reflexão, embora se possa dizer que alguns aspectos possam estar desenhados com o quadro mental da nossa época. Bruno vivia num mundo fechado e opulento, apesar de aparentar alguma discrição. Nasceu já com o nazismo no poder e tudo parece indicar que o pai terá sido um dos polícias de Hitler que foi subindo na carreira até chegar a essa confiança de ser visitado pelo Fúria e nomeado comandante do campo de concentração de Auschwitz. A criança desconhecia esse facto de viver no seio de uma família que hoje chamaríamos de novos ricos e de uma riqueza crescida à sombra da violência do poder. Constata-se através dos avós paternos do que seria a simplicidade da vida anterior e regista-se a dignidade e coragem da avó na denúncia em que se suportava a vida que levavam. O mundo de Bruno era até então, a grande casa onde habitava, os avós aqui e ali, O Caso Perdido da irmã todos os dias e três amigos que só uma vez esquecerá o nome. Este mundo vai ruir uma tarde de um dia qualquer e tudo recomeça na sua vida, a qual ficará reduzida aos pais, à irmã e a um campo desconhecido onde toda a gente vestia de pijama às riscas. Quando deixa Berlim, já a cidade sofria bombardeamentos, mas esta realidade não se encontra presente na história e o pai do Bruno é nomeado comandante do campo de extermínio quando a cúpula de loucura que ocupava o poder na Alemanha decide acelerar o processo de matança de seres humanos. De uma forma serena e de uma leitura tranquila, Jonh Boyne vai-nos mostrando alguns dramas da época e das consequências da guerra. O pai apenas interessado na carreira, a mãe, deslocada, sem apoio, sozinha no meio de um deserto social e humano e sabendo o que se encontra para lá daquela vedação de arame, certamente que caiu nas palavras de afago do tenente Kostler. Gretel, a irmã, chega a um momento em que se desprende das bonecas e percebe o mundo em que vive. Estávamos já em 1944 quando, todos os dias, deslocava setas num mapa da Europa. Era a aproximação do fim da demência que abalava a Europa. Nessa época o Exército Vermelho encontrava-se a caminho de Varsóvia e esse facto terá levado o comandante a decidir reenviar a família para Berlim. Quando esperávamos ver Bruno regressar à sua antiga casa, acaba por desaparecer engolido por essa máquina infernal e de morte e talvez esta seja a mensagem mais premente que o autor nos deixa. Não para as crianças que não a compreenderão, mas para os adultos e essa mensagem, regressa sempre ao poema de Brecht. Ignorarmos as coisas, vivermos num mundo para além da realidade e supormos que esse mundo é o verdadeiro, não nos interrogarmos sobre o que acontece ao nosso lado, não nos liberta de sermos também sugados pela diabolização da vida e daqueles que a dominam. Bruno ainda tenta no momento final conhecer o que se encontra para além daquela barreira, mas será já tarde de mais.
Livro que nos cativa para o desconhecido, para a procura do que será o momento seguinte, como se chegará ao fim da investigação, por parte da criança que desconhece o mundo em que vive e que, apesar do drama que carrega o tema, nos conduz a uma reflexão que é útil em todas as épocas, tanto mais que aquela que se poderia ter pensado ser a última guerra, foi seguida por tantas outras com todas as crueldades, violências e actos de barbárie como todas que a antecederam.
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