Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

19 setembro, 2008

LEITURAS


«Nada» é a história de Andrea. Chegada a Barcelona para seguir os seus sonhos, Andrea fica hospedada na rua Aribau, em casa de familiares. Aqui, descobrirá um mundo muito diferente do seu, feito de personagens ambíguas e conturbadas, que vivem numa humilhante pobreza os cruéis anos da ocupação franquista da cidade. Será neste ambiente psicótico que, ao longo de um ano, Andrea crescerá, ao mesmo tempo que descobre a cidade, ganha novas amizades, e traça o caminho para a vida adulta.

Cármen Laforet nasce em Barcelona em 1921. aos dois anos de idade desloca-se com a sua família para Las Palmas, nas Canárias, onde permanece até aos seus dezoito anos. No fim da guerra, deixa o arquipélago e regressa a Barcelona para estudar Filosofia e Letras, vivendo com a sua avó, Cármen. Já em Madrid, em Janeiro de 1944 inicia a redacção de “Nada” que termina no mês de Setembro.
O romance é publicado em 1945, vencendo nesse mesmo ano o recém-criado prémio Nadal.
O reconhecimento do valor deste romance de estreia, escrito por uma jovem e desconhecida autora de vinte e três anos, é imediato e fulgurante: crítica e público rendem-se ao carácter excepcional da obra, que será considerada um verdadeiro acontecimento socioliterario que renovou a literatura espanhola do pós-guerra.
As edições sucedem-se: em Setembro a segunda, em Outubro a terceira, a quarta em Fevereiro de 1946, a quinta em Abril, ultrapassando ao longo dos anos as cinquenta edições sem que o seu impacto esmoreça nas diferentes gerações de leitores.
O enorme peso da sua primeira obra, ao contrário do que seria de esperar, remete Cármen Laforet para um primeiro obstinado silêncio que durará seis anos (e que inaugura a sua difícil e conturbada relação com a fama e a vida mundana), após o qual publica La isla e los demonios, que será para muitos a continuação retrospectiva da história de Andrea, a conturbada protagonista de “Nada”.
Por esta altura, sofre uma profunda crise espiritual, que a fará reconciliar-se com a Igreja Católica e, nesta nova fase de militância religiosa, publica La mujer nueva – com a qual obtém o Prémio Nacional de Literatura e o Prémio Menorca, e o livro de contos La muerta (1952). Seguem-se a colecção de novelas curtas, La llamada (1954) e, em 1956, a sua antologia pessoal: Mis páginas mejores. Nesse mesmo ano renuncia à sua fé católica com o mesmo fervor com que a havia abraçado em 1951.
Em 1963 publica La insolación, a sua última obra, com a qual recupera o assunto da adolescência e dos seus ritos de passagem à idade adulta. Este ano é marcado igualmente pelo definitivo afastamento de Cármen Laforet da vida social e cultural do país, da qual se abstém de participar, iniciando um período prolongado de viagens e de residência no estrangeiro, até ao seu regresso em 1979, quando se instala na cidade de Santander. Morre em 2004, sendo a sua obra, sobretudo o seu romance de estreia, “Nada”, comemorada e assinalada com reedições críticas e económicas de tiragens elevadas.

“Parecia-me que de nada vale correr, se vamos sempre pelo mesmo caminho, fechado, da nossa personalidade. Alguns seres nascem para viver, outros para trabalhar, outros para ver a vida. Eu tinha um pequeno e mau papel de espectadora. Para mim, era impossível sair dele. Impossível libertar-me. Uma tremenda angústia foi, nesse momento, a única coisa real para mim.”

Um livro que proporciona de facto uma leitura extraordinária, cativante e de grande entusiasmo, ainda mais quando sabemos que a obra foi escrita por uma jovem de 23 anos. O fim da guerra civil de Espanha, numa Barcelona derrotada, sem oposição, destruída e sem esperança, uma jovem divide-se entre as aulas na universidade, a descoberta de amigos e a paranóia dos tios que subsistem no limiar de uma miséria que muitas vezes é também moral, com comportamentos que raiam o irracional e o imoral.

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