POESIA AO AMANHECER
Bom dia, Amigos,
Volto a falar de livros. Comecei a ler um livro sobre Leonor Teles. Esta Leonor é uma figura fascinante da nossa história. Ficou conhecida como aleivosa, mas hoje atribui-se esse qualificativo à pena de Fernão Lopes que teve de diminuir as suas qualidades morais como rainha-regente para enaltecer a figura do Mestre que viria a ser o primeiro rei da história a ascender ao poder através de uma revolução popular. O que não legitimava o direito, legitimou o povo. Diz-se que era alta, esbelta, bela, de olhos verdes, o estilo de mulher fatal. Diz-se também que o rei se apaixonou à primeira vista, mas tenho algumas dúvidas, pois se era uma questão de dormir com a senhora não precisava de ter casado. Pergunto-me se não terá sido ela que caçou o rei como forma de enriquecer os bens da família, esses poderosos Teles de Meneses oriundos de Castela onde se suspeita que nasceu a Leonor ao contrário das Crónicas que dizem ter sido em Trás-os-Montes certamente para lhe darem uma origem portuguesa.
Certo é que terá sido inteligente e arguta. Manobrou os homens e o poder e mais uma vez fica a dúvida se foi ou não amante do galego Andeiro. Foi a primeira mulher a ascender ao mais alto cargo do poder da monarquia mesmo como Regente e não se deixou vergar pelos revoltosos, apesar de ter de fugir para Alenquer e Santarém. O genro, o castelhano Juan, talvez assustado pelo poder que Leonor representava acabou por a desterrar para Tordesilhas e por ali ficou até morrer, embora creia que morreu antes em Toro que fica ao lado, mas essa parte já não tenho na memória. Pois comecei ontem a seguir a vida de Leonor.
SÚPLICA
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.
MIGUEL TORGA
"Hoje, não me rio de quem eu era porque me enterneço muito com aquela minha metade de menino tímido que acarinhava a sua melancolia como se a vida só se enobrecesse a explorar a tristeza e a solidão. Eu acho que era ainda um jogo de infância, já que fui criado a brincar com uma e com a outra e sou capaz de admitir que, se calhar, era uma brincadeira boa, porque detrás daquele jogo talvez estivesse o melhor caminho que, nesse tempo, nos levava para dentro do peito, à procura do sentido da vida."
ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"
"Paisagem com lua cheia e um cão a uivar.
Se em vez de um cão for um lobo não faz grande diferença porque está longe:
Eu num penedo. Um ventinho gelado nas costas e um vale em socalcos que se afunda à minha frente. Do outro lado toda a encosta se agita numa surdina de ramos que não distingo. Tudo negro e impreciso. Por cima uma carrada de estrelas. O vulto escuro do meu carro parado mais adiante.
Um quadro.
O cão uiva e as árvores emaranham as copas ao vento sempre da mesma maneira. O tempo não passa. E eu aqui, imóvel. Nem um pensamento sequer, para que nada se altere."
JOÃO DE MELO, in "Um Homem Suspenso"
Porto, 28 de Maio de 2004
Volto a falar de livros. Comecei a ler um livro sobre Leonor Teles. Esta Leonor é uma figura fascinante da nossa história. Ficou conhecida como aleivosa, mas hoje atribui-se esse qualificativo à pena de Fernão Lopes que teve de diminuir as suas qualidades morais como rainha-regente para enaltecer a figura do Mestre que viria a ser o primeiro rei da história a ascender ao poder através de uma revolução popular. O que não legitimava o direito, legitimou o povo. Diz-se que era alta, esbelta, bela, de olhos verdes, o estilo de mulher fatal. Diz-se também que o rei se apaixonou à primeira vista, mas tenho algumas dúvidas, pois se era uma questão de dormir com a senhora não precisava de ter casado. Pergunto-me se não terá sido ela que caçou o rei como forma de enriquecer os bens da família, esses poderosos Teles de Meneses oriundos de Castela onde se suspeita que nasceu a Leonor ao contrário das Crónicas que dizem ter sido em Trás-os-Montes certamente para lhe darem uma origem portuguesa.
Certo é que terá sido inteligente e arguta. Manobrou os homens e o poder e mais uma vez fica a dúvida se foi ou não amante do galego Andeiro. Foi a primeira mulher a ascender ao mais alto cargo do poder da monarquia mesmo como Regente e não se deixou vergar pelos revoltosos, apesar de ter de fugir para Alenquer e Santarém. O genro, o castelhano Juan, talvez assustado pelo poder que Leonor representava acabou por a desterrar para Tordesilhas e por ali ficou até morrer, embora creia que morreu antes em Toro que fica ao lado, mas essa parte já não tenho na memória. Pois comecei ontem a seguir a vida de Leonor.
SÚPLICA
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.
MIGUEL TORGA
"Hoje, não me rio de quem eu era porque me enterneço muito com aquela minha metade de menino tímido que acarinhava a sua melancolia como se a vida só se enobrecesse a explorar a tristeza e a solidão. Eu acho que era ainda um jogo de infância, já que fui criado a brincar com uma e com a outra e sou capaz de admitir que, se calhar, era uma brincadeira boa, porque detrás daquele jogo talvez estivesse o melhor caminho que, nesse tempo, nos levava para dentro do peito, à procura do sentido da vida."
ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"
"Paisagem com lua cheia e um cão a uivar.
Se em vez de um cão for um lobo não faz grande diferença porque está longe:
Eu num penedo. Um ventinho gelado nas costas e um vale em socalcos que se afunda à minha frente. Do outro lado toda a encosta se agita numa surdina de ramos que não distingo. Tudo negro e impreciso. Por cima uma carrada de estrelas. O vulto escuro do meu carro parado mais adiante.
Um quadro.
O cão uiva e as árvores emaranham as copas ao vento sempre da mesma maneira. O tempo não passa. E eu aqui, imóvel. Nem um pensamento sequer, para que nada se altere."
JOÃO DE MELO, in "Um Homem Suspenso"
Porto, 28 de Maio de 2004
1 Comments:
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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