LEITURAS
Existem momentos da vida em que sentimos que algo nos aconteceu, mas não identificamos de imediato o quê, nem a influência que no futuro terá na nossa vivência e nos nossos sonhos. Quando o meu quotidiano num já longínquo passado passou a conviver com a História de uma forma organizada, encontrei a cidade de Florença e um dos homens que pelas suas ruas e salões, fez brilhar a sua inteligência, como foi o caso de Giovanni Pico della Mirandola. Ao longo dos anos, ambos foram formando no meu pensamento uma vontade imensa de conhecer o espaço territorial onde se desenvolveram e foram grandes. Tanto desenvolvi a fantasia em torno da cidade italiana que quando falava era como se ali sempre tivesse vivido. Contudo, tudo o que fica para além das nossas fronteiras ficou sempre longe de mais para mim, daí que só com um grande apelo à imaginação, admitia a possibilidade de chegar a Florença. Uma certa ocasião quis o destino que me aproximasse o suficiente para supor que chegaria lá, mas por impreparação minha não passou de uma ilusão. Porém, em Maio passado num daqueles instantes em que esqueço que não tenho dinheiro, dei comigo de carro pela Europa fora e num Domingo de sol em que a temperatura rondava entre os 25 e os 30º encontro-me a sair de Veneza a caminho de Florença. Estrada ao longo do litoral Adriático, muito movimentada, tipicamente italiana, quer dizer, tráfego intenso, desordenado, requerendo atenção e cuidado. Apesar dos nossos olhos ainda se encontrarem no êxtase de tudo o que vínhamos vivendo naqueles últimos dias, o pensamento deslizava já para a cidade toscana. Em Porto Garibaldi, tentamos contornar o lago di Comacchio pelo interior como forma de nos apressarmos, mas acabamos num diálogo extraordinário num Café de S. Giovanni até percebermos por onde deveríamos alcançar a estrada de Ravenna, a qual contornamos pelo exterior com intenção de almoçar em Forli, mas o calor da Primavera e a cidade desconhecida incentivou-nos a continuar. Acabamos por almoçar nos Alpe di S. Benedetto. Uma hora depois, surge-nos Florença. Procurado o alojamento, deixamos espraiar o olhar pela cidade. O inacreditável estava ali ao alcance de uma mão. Ali estava a grandiosa cúpula de Brunelesco, a torre do Palazzo Vecchio. A alma navegava agora em sonhos na descida para o Arno e na sua travessia pela Ponte Vecchio na passagem pela Galleria degli Uffizi e chegada à Piazza della Signoria. Foi como se tivesse pousado na Idade Média em visita a Lourenço, “o magnífico” dos Médicis. A visita à catedral, a essa beleza extraordinária que é Santa Maria dei Fiore e o Baptistério com a sua deslumbrante Porta do Paraíso. Aguardamos a noite pelas ruas da cidade do Renascimento, como se também nós as tivéssemos calcado nesses dias em que a humanidade rompia as trevas do pensamento. No dia seguinte, ao partirmos, deixávamos um pouco da alma, nas margens do Arno, voltada para a cidade.
Uma semana depois, ao visitar a Feira do Livro, deparei com um livro titulado, “O Homem que sabia tudo”, no qual Catherine David nos contava a vida romanceada de Giovanni Pico dela Mirandola. Nascido em Mirandola, terra de Emília, percorreu a Europa e estabeleceu profundos laços de amizade com Lourenço de Médicis, grande senhor de Florença. Filósofo extraordinário acabou por morrer precocemente, deixando, no entanto, atrás de si uma obra valiosa e incontornável no estudo do Renascimento. A sua história romanceada pela escritora francesa, conduz-nos até ao apogeu de Florença, descrevendo-nos paralelamente a vida fascinante desse frade que acabou na fogueira e que se chamou Savonarola. Com eles, acabei de novo a viajar por Florença, não aquela que visitei, mas antes a que imaginei enquanto passeava por aquela que visitava.
Uma semana depois, ao visitar a Feira do Livro, deparei com um livro titulado, “O Homem que sabia tudo”, no qual Catherine David nos contava a vida romanceada de Giovanni Pico dela Mirandola. Nascido em Mirandola, terra de Emília, percorreu a Europa e estabeleceu profundos laços de amizade com Lourenço de Médicis, grande senhor de Florença. Filósofo extraordinário acabou por morrer precocemente, deixando, no entanto, atrás de si uma obra valiosa e incontornável no estudo do Renascimento. A sua história romanceada pela escritora francesa, conduz-nos até ao apogeu de Florença, descrevendo-nos paralelamente a vida fascinante desse frade que acabou na fogueira e que se chamou Savonarola. Com eles, acabei de novo a viajar por Florença, não aquela que visitei, mas antes a que imaginei enquanto passeava por aquela que visitava.
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