Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

22 setembro, 2006

GERÊS



Foi uma viagem longa, com imprevistos e cheia de aventura. Nada que não tivesse prometido. Bem, era uma caminhada para os melhores e estiveram todos à altura, até a Sónia que descobrimos ter um contencioso com as alturas. O dia estava bonito e a temperatura agradável quando com algum atraso começamos a erguer-nos acima da Cascata do Arado. Tal como já sabia este erguer era muito elevado e em três lanços sucessivos subimos mais de 150 mts. Era bonito tudo o que se via lá de cima. À nossa frente estendia-se um vale extenso finalizado por uma muralha de pedra. Foi agradável toda aquela hora e meia que nos levou a percorrer aquele longo espaço, sentindo todo o peso de um grande silêncio perdido no azul claro do infinito, com um intervalo a meio e a passagem por dois jovens campistas (?) e os seus dois cães. Já no final, decidimos seguir a indicação das mariolas mais visíveis e a escolha levou-nos a uma subida de muito, muito esforço, extremamente esgotante. De uma vez só, elevamo-nos a um patamar cerca de 150 mts superior ao vale que tínhamos percorrido. Exaustos, paramos para almoçar e tirar a fotografia colectiva. Decidimos continuar o que significava procurar o caminho de regresso. Disse que não era possível subir mais, mas com intenção de não desanimar, pois era mesmo possível subir e tivemos que nos erguer até a um cume 100 mts acima. Bem podemos dizer que desta vez, não chegamos ao céu mas arranhamos as nuvens. A partir daqui o caminho estabilizou, estava bem identificado e era fácil de percorrer, agora já com descidas. Passamos os Prados da Messe e rumamos a sul. Continuamos a passar por locais abertos a grandes horizontes que se intercalavam com espaços de muita serenidade, de grande calma, apelando ao repouso. O caminho agora era quase perfeito e parecia mesmo que tínhamos um encontro marcado com o fim da viagem, só que…, o mais difícil ainda não tinha chegado. Voltei a deixar o meu instinto de lado e segui as mariolas que tinha à frente. Pouco depois aparecia-nos uma garganta à distância, aparentemente intransponível, mas lá estava o caminho na encosta ao lado, só que 300 mts à frente terminava de forma imprevista. O que se seguia, quase me assustou. Uma descida com 200 mts, quase a pique, sem caminho. Não consegui perceber se havia condições para descer, mas percebi que não havia alternativa, pelo que me arremeti encosta abaixo à procura de saída. Com a ansiedade a sobrepor-se à razão lá cheguei ao fim de 45 minutos até ao ribeiro que estava naquele fundo imenso. Aquela descida fantástica e indescritível levou duas longas horas a fazer. Quando tive oportunidade de olhar 100 mts para cima e vi os outros companheiros uma onda de preocupação abalou-me a confiança. Quando vivemos em colectivo ocorre-nos estas coisas. Tive uma imensa vontade de voltar a subir para lhes prestar a minha modesta ajuda, mas as forças já não me deixaram. Se hoje olhássemos aquela encosta nenhum de nós acreditaria que faria aquela descida, mas foram todos companheiros de grande coragem. Restou a consolação de encontrarmos o caminho que há um ano tanto tinha procurado no início da nossa primeira viagem. Claro que comecei a mentir ao responder às perguntas sobre o tempo que faltava, mas menti em nome de uma boa causa. Não podia dizer que aquele desfiladeiro ainda tinha hora e meia de caminho, nem que o estradão que haveríamos de encontrar seria mais meia hora de caminhada. Fui “vendendo” dez minutos aqui, vinte minutos mais adiante. Já no fim, quando só faltavam descer 50 mts até à ponte em ruínas, surgiu um estradão rasgado na floresta a tentar o nosso cansaço para outros destinos, mas desta vez, resistimos. Descemos até ao rio onde a ponte já não existia e atravessamos a vau. A subida até à casa do Botânico foi feita já com o crepúsculo e quando alcançamos o estradão era já noite e seria no meio de um belo silêncio e a luz de uma lua cheia barrada por uma nuvem de poeira que quatro de nós vieram em passo mais estugado buscar os carros, enquanto os restantes num passo mais leve se foram aproximando. O relógio avançava já para as 21 horas quando dissemos adeus à Cascata do Arado, no fim do que eu chamarei uma boa caminhada. A Sónia tinha ganho o seu litígio com as vertigens, a Rosa foi capaz de vencer as feridas que a sapatilha e a ausência de meias lhe provocaram, a Lurdes e a Fátima pensavam na próxima viagem e a Lígia estava pronta para outra. O Miúdo esteve igual a si próprio e os amigos da Carla, cansados, mas quem sabe, se não nos continuarão a acompanhar. Afinal, estiveram todos muito bem em caminhada tão dura.
Marcamos encontro para Novembro. Vamos tentar de novo chegar aos retransmissores do Muro, mas agora vamos pelo Lindoso o que quer dizer, percorrer um estradão, bem desenhado onde passam jipes ao longo de 11 kms. Digamos que a aventura será apenas caminhar, subirmos até 1200 mts e se estiver um dia de sol, poderemos ver o mar. Fico à vossa espera.
Setembro de 2004

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

OLÀ GALILEU,COM QUE ENTÃO TAMBÊM
ANDOU LÀ PELO GERÊS.
SÒ POR CURIUSIDADE,POR ACASO FOI NO GRUPO DA LURDES?
È QUE EM ALGUMAS PARTES PARECEU-ME
A MESMA AVENTURA.

11:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá,
Andamos "todos" pelo Gerês. A Lurdes também e é uma boa companheira de caminhada.
Sede de Infinito

8:14 da tarde  
Blogger LurdesMartins said...

Aaaaaaaaaahhhhhhhh, saudade!!!

Esta teve que se lhe diga... mas o melhor de terminar uma é mesmo pensar já na próxima, não é?!?!?

Beijinhos

ps- Laida, esta aventura tem já dois anos! Nós somos persistentes... Beijinhos

7:50 da tarde  

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