Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

23 novembro, 2011

POESIA AO AMANHECER



Bom dia, meus Amigos

O céu matinal ainda não voltou àquela limpidez que nos perturba, mas também já não tem a nuvem de fumo da outra semana. Uma leve brisa sacode com ternura os ramos das palmeiras que levemente esvoaçam para cima e para baixo. Pergunto a mim mesmo como seria ficar o dia inteiro neste sossego. Tenho pensado muito nestas coisas da mobilidade. Faço um esforço para tentar compreender as razões desses senhores que dão pelo nome de empresários. Afinal, são os electrões livres, saltando de núcleo para núcleo que permitem que a energia percorra distâncias. Assim, poderiam os trabalhadores, também saltando daqui para ali fornecer essa vitalidade que dizem tão necessária às empresas. Mas não me habituo à ideia. As pessoas têm qualquer coisa que as agarra ao lugar e apesar de dizer que gosto muito de viajar quando saio do meu atlas afundo-me um pouco. Mas, desta vez, fui o electrão livre que foi apanhado em viagem entre dois átomos, pelo que decidiram enviar-me uma semana para o sul, esse sul extremo, voltado para África, nesses amplos espaços abertos em que a luminosidade se projecta como um manto luminoso. Não que não me seduzam esses olhares diferentes, mas eu sou filho do granito, das aldeias perdidas nas encostas das serras, onde raramente há espaço para vales largos que mais não são que passagens entre montanhas rodeados de um mar de verde e castanho, borrado de cinzento. Lá vou de viagem, deixando-vos em descanso de mim por uma semana inteira. Quem sabe, não trarei outras novas, outras imagens, outros focos de luz. Sede do norte trarei de certeza e saudades vossas.

CANÇÃO DE AMANTE

Levanto-me mais cedo que o costume
tomo um duche bem quente e prolongado
lavo-me, e esfrego-me e perfumo-me,
escolho as roupas e as cores e os caminhos com cuidado

ao almoço como um pouco quase nada
para amanhã ficam dez coisas adiadas, por fazer
conduzo devagar e pensativo pela estrada.
Telefono a confirmar. A confirmar só para saber…

Temos já tudo combinado há tanto tempo
mas ontem, como sempre, ainda hesitavas
- “Quero-te muito, amor, mas falta-me a coragem…”
e eu sem saber no que vai dar esta viagem…

Escondidos na noite em sítios de inventar
dá-me um dia, uma hora roubada para viver
que os meus dedos têm saudades de te ver.
Minha boca, meu rosto lindo, meu corpo, meu prazer

minha nuvem, meu cisne, minha noite, meu instante.
Eu sei que esta é uma história sem jeito e já batida
mas vem ter comigo sempre e, mesmo repetida
canta de cor assim, até ao fim de mim, até ao fim da vida
canta comigo, eterna, esta canção de amante.

PEDRO BARROSO, in “Das mulheres e do mundo”

A vida acabara de o arrancar às quentes trevas maternas: penso que tinha medo, e nada, nem sequer a noite, nem sequer a morte, substituiria para ele esse abrigo verdadeiramente primordial, porque as trevas da morte e da noite são frias, e não as anima o pulsar de um coração.

MARGUERITE YOURCENAR, in “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”

“A 10 de Junho de 2005, os ministros das Finanças do G8 anunciaram ruidosamente um pequeno abatimento da dívida externa do Sul (40 mil milhões em 2,5 biliões de dólares). A 6 de Julho, África e o aquecimento do planeta serão temas centrais da próxima Cimeira do G8, em Edimburgo. Também a ajuda ao desenvolvimento deveria ser aumentada. Mas estas iniciativas mediáticas mascaram a avareza do Norte em relação ao Sul, receitas económicas desastrosas e segundas intenções geoestratégicas.”

DAMIEN MILLET e ÉRIC TOUSSAINT, in, “As falsas aparências da ajuda ao desenvolvimento ”, in “Le Monde diplomatique”, Julho de 2005


Porto, 12 de Agosto de 2005

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