Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

22 outubro, 2008

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, meus Amigos

Lá se foi um fim de semana. Nem foi bom, nem foi mau. Lembro apenas que passei umas boas horas, sentado, silencioso, tranquilo, a tirar ervas do jardim. É impressionante a sua persistência. Ontem à noite, sentei-me a ver um filme. A História contada pelos historiadores é sempre uma história distorcida, pois falta-lhes a percepção total das mentalidades. Por muito que se coloquem na época do relato, há uma sensação de realidade que não é possível absorver de todo. Depois, alimentam essa ideia tola da independência, como se fosse possível alhearmo-nos dos factos analisados e contados. O resultado é um branqueamento da história e dos actores. Situações que se agravam quando falamos da história contemporânea, porque aí, tendem a ser parciais, embora mantendo a auréola da neutralidade, e deturpam em absoluto a história. Ontem fez 60 anos do desembarque aliado, maioritariamente constituído por tropas norte-americanas, nas praias da Normandia. Este momento da guerra foi sempre apresentado como algo de épico e inolvidável, algo que veio resolver em definitivo a guerra, omitindo-se tudo o que se passou nas restantes frentes de guerra, nomeadamente a leste. Batalhas como as de Stalingrado e de Kursk, envolveram, muito mais homens e foi de uma mortandade muito maior e, essas sim, foram decisivas. Uma, no virar da guerra e a outra no quebrar em definitivo da capacidade ofensiva do exército nazi. Basta que na primeira, as baixas alemãs somaram 300.000 homens. Entretanto, vamos ainda ouvir falar n vezes do desembarque na Normandia e nada sabemos daquelas duas grandes batalhas. É assim a história, em nome da isenção.

SEUS OLHOS

Seus olhos - que eu sei pintar
O que os meus olhos cegou -
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.

Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda a alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

ALMEIDA GARRETT

"Contaram-me que esse casamento caiu muito bem na família porque se tratava de gente com berço, pergaminhos e muito de seu e, além do mais, eram pessoas de reconhecidas virtudes, dedicadas à caridade e à prática do bem."

ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA, in "Tia Suzana Meu Amor"

"Paisagem com lua cheia e um cão a uivar.
Se em vez de um cão for um lobo não faz grande diferença porque está longe.
Eu num penedo. Um ventinho gelado nas costas e um vale em socalcos que se afunda à minha frente. Do outro lado toda a encosta se agita numa surdina de ramos que não distingo. Tudo negro e impreciso. Por cima uma carrada de estrelas. O vulto escuro do meu carro parado mais adiante.
Um quadro.
O cão uiva e as árvores emaranham as copas ao vento sempre da mesma maneira. O tempo não passa. E eu aqui, imóvel. Nem um pensamento sequer, para que nada se altere.

JOÃO DE MELO

Porto, 07 de Junho de 2004

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