Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

24 outubro, 2008

LEITURAS


Em cada uma das quatro partes deste romance, uma personagem se desnuda ou tenta fazê-lo, até aos limites do possível, e uma sociedade consumista, hedonista e angustiada vai surgindo em seu redor.
No entanto persiste em algumas dessas personagens, cuja trajectória de vida passou pelas grandes transformações do 25 de Abril, um conflito interior entre ideais e ambições.
Assistimos a separações, novas ligações e frustrações de vária ordem e a conflitos de geração.
Perto do final, uma decisão do governo sobre a privatização da justiça vem alterar o comportamento de várias personagens.
Em poucos romances portugueses do nosso século ou do século passado terão surgido, com esta iluminação serena de quem muito leu e viveu, confusões de sentimentos, palavras de dor sofreadas, mágoas que se arrastam, tal como desejos intensos, vinganças ou sublimações eróticas, adultérios cujas mais fundas razões desafiam o entendimento do leitor. Perto do final, soltam-se frases de amor reprimidas e o olhar do mais complexo e irónico actor deste drama sem gritos encontra-se plenamente com a paisagem que foi cenário do seu passado.

Urbano Tavares Rodrigues não é apenas o grande escritor do Alentejo, das suas gentes e das suas paisagens, é também o romancista e contista de Lisboa e de outras atmosferas cosmopolitas que, como jornalista e professor universitário, bem conheceu, viajando por todo o mundo.
Catedrático jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa, membro da Academia das Ciências (Secção de Letras), tem uma vasta obra literária e ensaística traduzida em inúmeros idiomas, do francês e do espanhol ao russo, ao grego, ao romeno, ao búlgaro, ao checo, ao alemão e ao inglês, ao catalão, ao ucraniano, ao croata, ao japonês, ao italiano, ao holandês e ao chinês. Obteve diversos prémios, entre eles o de Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Fernando Namora e o Ricardo Malheiros da Academia das Ciências.
De entre os seus maiores êxitos de crítica e de público, lembramos A Noite Roxa, Bastardos do Sol, Os Insubmissos, Imitação da Felicidade, Fuga Imóvel, Violeta e a Noite, O Supremo Interdito, Nunca Diremos Quem Sois, A Estação Dourada e O Eterno Efémero.
Urbano Tavares Rodrigues, que foi afastado do ensino universitário durante a ditadura de Salazar e Caetano, participou activamente na resistência e foi preso e encarcerado várias vezes nos anos 60.

Na simplicidade de uma escrita que nos cativa, mergulhamos no mundo dos sentimentos e dos afectos, das relações que se desgastam, da cumplicidade entre aqueles que procuram o conforto de um abraço, uma palavra de carinho, um gesto de paciência e uma atitude de escuta. Dos quatro personagens há uma mulher a quem os homens que a rodearam acabam a história dedicando-lhe palavras de grande ternura e compreensão. Leitura que nos permite a reflexão e nos dá o prazer de passarmos sobre vivência que de alguma forma sempre nos tocam.

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