POESIA AO AMANHECER
Bom dia, Amigos
Comemoramos a Revolução. Ontem lá fui às comemorações. Vou sempre. Primeiro, por vontade própria, segundo, porque entendo que devo ir e terceiro, porque indo ajudo um pouco a que a simbologia não caia no esquecimento, embora entenda que as comemorações deveriam ter outra dimensão. Se pusermos de parte os actos oficiais, o desfile de cidadania, deveria adquirir um amplo aspecto cultural, mas claro são só ideias.
Ontem, estava na Praça a ouvir a ronda dos 4 Caminhos, a ver todas aquelas pessoas, das quais já muito poucas conheço e dei comigo a pensar que quantos homens e mulheres anónimos deram o melhor das suas vidas pela nossa liberdade colectiva. Gente simples que só tinha no pensamento um mundo melhor. Alguns esforçaram-se a vida inteira e nem a liberdade chegaram a respirar, não a individual porque essa temo-la se quisermos, mas a outra aquela que nos relaciona com os restantes. Em 1974 quando tentava "convencer" a mulher de um companheiro da necessidade de ele estar presente numa reunião, ela perguntou-me, e o que ganha ele no fim? e eu não tive resposta. Nós que somos tão pródigos em construir estátuas e obeliscos, por exemplo aos empresários que estamos tão habituados a que os heróis tenham nome, espero que um dia saibamos erguer uma pedra a todos aqueles "sem nome" que deram o melhor de si próprios em nome de um sentimento e interesse colectivo. Ao longo do tempo conheci muita dessa gente que me deixou gravado na alma um sentimento de admiração.
VESPERAL
Se eu te pintasse, posta na tardinha,
pintava-te num fundo cor de olaia,
- na mão suspensa, nessa mão que é minha,
o lenço fino acompanhando a saia!
Vejo-te assim, ó asa de andorinha,
em ar de infanta que perdeu a aia,
envolta numa luz que te acarinha,
- na luz que desfalece e que desmaia!
Com teu encanto os dias me adamasques,
linda menina ingénua de Velázquez,
a flutuar num mar de seda e renda!
Deixa cair os lábios do medronho
a perfumada voz do nosso sonho,
mas tão baixinho que só eu a entenda!
ANTÓNIO SARDINHA
" - Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém."
ANTOINE SAINT-EXÚPERY, in "O Principezinho"
"Dever-se-á considerar o "direito à água" como um dos direitos do homem" Será que todos os seres humanos têm o direito a dispor de uma quantidade mínima de água potável para o seu consumo e para as demais necessidades vitais? Ou será que esta problemática se não deve colocar nestes termos. São questões pertinentes e de grande actualidade."
JOÃO BAU, "direito à água", in "Ideias à Esquerda", nº 3, 2004
Porto, 26 de Abril de 2004
Comemoramos a Revolução. Ontem lá fui às comemorações. Vou sempre. Primeiro, por vontade própria, segundo, porque entendo que devo ir e terceiro, porque indo ajudo um pouco a que a simbologia não caia no esquecimento, embora entenda que as comemorações deveriam ter outra dimensão. Se pusermos de parte os actos oficiais, o desfile de cidadania, deveria adquirir um amplo aspecto cultural, mas claro são só ideias.
Ontem, estava na Praça a ouvir a ronda dos 4 Caminhos, a ver todas aquelas pessoas, das quais já muito poucas conheço e dei comigo a pensar que quantos homens e mulheres anónimos deram o melhor das suas vidas pela nossa liberdade colectiva. Gente simples que só tinha no pensamento um mundo melhor. Alguns esforçaram-se a vida inteira e nem a liberdade chegaram a respirar, não a individual porque essa temo-la se quisermos, mas a outra aquela que nos relaciona com os restantes. Em 1974 quando tentava "convencer" a mulher de um companheiro da necessidade de ele estar presente numa reunião, ela perguntou-me, e o que ganha ele no fim? e eu não tive resposta. Nós que somos tão pródigos em construir estátuas e obeliscos, por exemplo aos empresários que estamos tão habituados a que os heróis tenham nome, espero que um dia saibamos erguer uma pedra a todos aqueles "sem nome" que deram o melhor de si próprios em nome de um sentimento e interesse colectivo. Ao longo do tempo conheci muita dessa gente que me deixou gravado na alma um sentimento de admiração.
VESPERAL
Se eu te pintasse, posta na tardinha,
pintava-te num fundo cor de olaia,
- na mão suspensa, nessa mão que é minha,
o lenço fino acompanhando a saia!
Vejo-te assim, ó asa de andorinha,
em ar de infanta que perdeu a aia,
envolta numa luz que te acarinha,
- na luz que desfalece e que desmaia!
Com teu encanto os dias me adamasques,
linda menina ingénua de Velázquez,
a flutuar num mar de seda e renda!
Deixa cair os lábios do medronho
a perfumada voz do nosso sonho,
mas tão baixinho que só eu a entenda!
ANTÓNIO SARDINHA
" - Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém."
ANTOINE SAINT-EXÚPERY, in "O Principezinho"
"Dever-se-á considerar o "direito à água" como um dos direitos do homem" Será que todos os seres humanos têm o direito a dispor de uma quantidade mínima de água potável para o seu consumo e para as demais necessidades vitais? Ou será que esta problemática se não deve colocar nestes termos. São questões pertinentes e de grande actualidade."
JOÃO BAU, "direito à água", in "Ideias à Esquerda", nº 3, 2004
Porto, 26 de Abril de 2004
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