Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

22 agosto, 2009

LEITURAS


Tantos são os dias em que me sinto como se a bússola parasse e parece que todos os caminhos se fecham para que não possa fugir. Será certamente esse afastar-me da presença das pessoas e dos amigos de alguém que me possa preencher o pensamento e alimentar a magia dos sonhos. Escondo-me na FNAC na procura dos livros como consolo do que não alcançamos. Procurava O Gato de Upsala e saiu-me No Teu Deserto. Creio que fiquei parado na primeira frase. Percebi que aquele livro seria um acto de ternura para alguém que está muito para além do que se chama amar, alguém que nos marca um tempo, um espaço, e preenche uma parte da memória que se torna inapagável. «Escrevi o teu nome em pedras de mármore com letras de fumo», escrevi um dia e todos os dias o céu se cobria com aquelas letras. Quantas vezes esquecemos que amar é um sentimento que está muito para além da paixão, da presença constante, amar será sobretudo, o sentirmos a ausência de alguém, a falta de uma pessoa que transforma em gestos e sentimentos a alegria de nos fazer sentir em harmonia com nós próprios. Não há naquela história, naquele relacionamento humano, declarações de amor, palavras exaltantes, um entrechocar de corpos arrebatados, nem se chega a perceber se fizeram amor como ousamos dizer a essa entrega física, mas a vivência daqueles dias haveria de se tornar inesquecível. A Cláudia, uma menina adulta, tornou-se importante, pelo olhar, pela frescura da vida, pela beleza do corpo e dos gestos e pela ternura e o carinho que inseriu ao que poderia ter sido a desumanidade de uma viagem por uma paisagem bela e agreste, de tal forma que o personagem masculino na sua "loucura" pelo trabalho que o fascinava, rapidamente se apercebia da sua ausência. Um abraço da Cláudia no estertor de um dia arrasador, compensava todos os silêncios e solidões da Terra. Nas palavras da Cláudia também ele, o fotógrafo, o realizador, o homem adulto, viajado, desorganizado e inconstante acabava por lhe transmitir o conforto da experiência de uma sabedoria que só o passar da vida nos dá naquela medida tão necessária quando crescemos no interior de um quotidiano agressivo. E a história que nos é contada é a simbiose dessas necessidades que se encontraram num determinado tecido e num determinado espaço. Certamente não teria existido noutra qualquer circunstância e a Cláudia teve a lucidez de perceber que aquela viagem terminou na travessia para Gibraltar. Tentar prossegui-la num outro contexto seria perder aquela amizade que ali cresceu e viveu, mas que se deterioraria se prolongada para além das condições que a fez nascer e é esta tem sido uma das grandes questões das relações humanas. Quantas vezes perdemos companhias extraordinárias por não entendermos que o relacionamento entre as pessoas deve sobretudo visar o bem estar que tanto procuramos e que a procura do outro face a uma necessidade, não deve ir para além desse momento, pelo menos da mesma forma ou com a mesma intensidade. Quantas vezes pergunto a mim mesmo se nessa procura constante de poder ser útil aos outros, fazer algo para os sentir felizes, não perco no exagero e não percebo atempadamente que devo estar um passo atrás.

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