Sede de Infinito

Infinito é o que se encontra para além de tudo, do conhecimento, da imaginação, do alcance da mão. Ter sede do que se encontra para lá da linha do horizonte é a imensa vontade de alcançar o que não vemos, o que não possuímos, o que não conhecemos, é por fim, uma forma de perseguir o saber e o conhecimento, se assim o desejarmos, conduzir o sonho através do tempo.

28 novembro, 2007

POESIA AO AMANHECER


Bom dia, Amigos

Sempre tenho dito que este país tem riquezas enormes e inexploradas ao nível da natureza. A transferência de pessoas para a franja litoral teve a vantagem de preservar o interior ou atenuar o grau de destruição. Hoje que as vias de comunicação nos fazem chegar mais rapidamente a esses locais e as condições de vida das pessoas vão melhorando um pouco, coloca-nos em escassas duas horas junto a um mundo fantástico, de montanhas e aldeias de pedra quase esquecidas no interior de vales e derramando-se pelas encostas. No Sábado andei por aí, Castro Daire em pleno planalto beirão e no interior do concelho de Resende e então aquela chegada sobranceira ao Douro é de uma beleza sem limites. É aqui nestas pequenas coisas que mostramos a nossa incapacidade de explorar turisticamente e de forma sustentada aquilo que a natureza nos ofereceu quase gratuitamente. Acordar ali, contemplando as escarpas e o rio a correr em direcção ao oceano, deve fazer-nos rejuvenescer um dia por cada semana. Não pensem duas vezes, um Sábado destes depois de almoço metam-se na A4 até Amarante, desçam à Régua por Mesão Frio, lanchem descansadamente e regressem pela marginal de Resende até Mosteirô. Aqui, parem para tomar o café e respirarem fundo e prossigam por Entre-os-Rios que a estrada para o Marco está miserável. Um mês depois ainda vão recordar esta viagem.

"Tenho fome da tua boca, da tua voz, dos teus cabelos
e pelas ruas vou sem me nutrir, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
procuro o líquido som dos teus pés pelo dia.

Faminto estou do teu sorriso resvalado,
das tuas mão cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele com intacta amêndoa.

PABLO NERUDA, "Cem Sonetos de Amor", in "Presentes de um Poeta"

" - Pois era. Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar - disse o rei. - A autoridade baseia-se, antes de mais, no bom senso."

ANTOINE SAINT-EXUPÉRY, in "O Principezinho"

"Pela primeira vez eleito para a presidência do governo espanhol em Março de 1996, José Maria Aznar, de 51 anos, havia decidido retirar-se da vida política após as eleições legislativas de 14 de Março passado. Deveria ter abandonado funções no ponto mais alto de um percurso que muitos consideraram um indiscutível êxito. Alguns chegaram até a apresentar Aznar e o seu Partido Popular como os grandes modelos para as direitas europeias. Além disso, todas as sondagens de opinião davam como vencedor nas eleições o sucessor por ele designado, Mariano Rajoy. Os atentados de Madrid e as manipulações da informação efectuadas pelas autoridades provocaram um sobressalto dos cidadãos, que preferiram o candidato socialista, José Luis Rodríguez Zapatero, ao mesmo tempo que sancionaram severamente o Partido Popular. Aznar abandona assim o poder em condições particularmente amargas. Os seus partidários consideram que isso é injusto por causa dos bons resultados conseguidos, em particular no domínio económico. Insistem no balanço da sua governação - mas, em rigor, qual é esse balanço?"

JOSÉ VIDAL BENEYTO, "A pesada herança da era Aznar", in "Le Monde diplomatique", Abril de 2004.

Porto, 20 de Abril de 2004

27 novembro, 2007

POESIA


Silêncio

Subitamente um silêncio
um prolongado silêncio
sobre as horas da tarde.
Na paisagem parada no tempo
num momento intenso de Outono.
Nevoeiro e melancolia
a alimentar a tristeza.
É um silêncio de ausência
é um silêncio só
muito só
sem nada
sem ti

o3.10.07

26 novembro, 2007

LEITURAS


António Borges Coelho alia a sua valia de grande historiador à beleza que resulta do prazer da escrita. No seu VI volume de Questionar a História traz-nos o relato dos últimos momento da vida do Inquisidor-Geral dessa instituição tenebrosa criada pela Igreja Católica Apostólica Romana em plena Europa do Renascimento e que nos países do sul conduziu a milhares de mortos nas chamas de fogueiras imensas como deixou mais milhares ainda, mortos e estropiados por torturas demenciais. Nenhum Deus poderia contemporizar com tamanha façanha diabólica, pelo que, se céu existe terá sido ganho pelas vítimas, pois para os algozes só as chamas eternas do Inferno poderiam ser elemento apaziguador das suas mentes distorcidas e calcinadas. Um pouco da prosa contida na contracapa dá relevo à riqueza da escrita deste historiador: «O inquisidor-geral está a morrer ao Rossio, “nos aposentos em que vive”, situados nos Paços do Santo Ofício que Mateus do Couto, arquitecto das inquisições destes reinos, remodelara “por mandado do Ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Francisco de Castro, bispo inquisidor-geral e do Conselho de Sua Majestade.”
As instalações são amplas, as paredes grossas e forradas de alcatifas mas não abafam de todo o marulhar do povoléu do Rossio nem os gemidos dos cárceres.
Nos aposentos pessoais, além da câmara onde agoniza, dispõe de um lavatório e nele um cântaro de cobre para aquecer a água, uma bacia de latão com seu jarro coberto “para sua Ilustríssima lavar as mãos pela manhã”, uma bacia de latão para lavar os pés, uma bacia de barbear, um cuspidor de prata.»
Uma curta visita aos concelhos medievais e a Évora no advento da época moderna, juntamente com estudos sobre Duarte Nunes de Leão e os antepassados portugueses de Bento de Espinosa completam as 123 páginas deste delicioso livro elaborado pelo autor, professor de História e da nossa história.

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